Aprendi e decidi

"Não percas a tua fé entre as sombras do mundo.
Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para a frente, erguendo-a por luz celeste, acima de ti mesmo.
Crê e trabalha.
Esforça-te no bem e espera com paciência.
Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do céu permanecerá.
De todos os infelizes os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si mesmo,
porque o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha.
Luta e serve. Aprende e adianta-te.
Brilha a alvorada além da noite.
Hoje, é possível que a tempestade te amarfanhe o coração e te atormente o ideal, aguilhoando-te com a aflição ou ameaçando-te com a morte...
Não te esqueças, porém, de que amanhã será outro dia."
(Meimei - psicografia de Francisco Cândido Xavier)

APRENDI E DECIDI!
texto atribuído a Walt Disney

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e
que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde,
agora, me importa simplesmente saber melhor o que fazer.

Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de chamar a alguém de "Amigo".
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento,
"o amor é uma filosofia de vida".

Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e
passei a ser a minha própria tênue luz deste presente.
Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...

Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar...
Agora simplesmente durmo para sonhar!

Correndo atrás do rabo

"Aprendamos a suportar as dificuldades com paciência.
Saibamos ouvir sem discutir.
Compreendamos para sermos compreendidos.
Sigamos na estrada do bem, abrindo o coração através do sorriso.
A felicidade não entra em portas trancadas."
(Emmanuel - Mensagem psicografada pelo Médium Francisco Cândido Xavier. Do livro: Livro de Respostas Edição CEU.)

CORRENDO ATRÁS DO RABO
Ailin Aleixo
http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

Procurar a felicidade eterna é a melhor maneira de ser infeliz.
Não temos obrigação de ser felizes nem fomos colocados no mundo para alegrar os outros.
Nascemos para ser nós mesmos - a tarefa mais difícil de todas.
Nos privamos do direito à tristeza. Ao menor sinal de sua presença, nos entupimos de antidepressivos, como se momentos de introspecção fossem doença e o padrão normal fosse vivermos imersos numa comédia romântica infindável. Pior: fosse essa capacidade a medida de nosso êxito. Mas o êxito só pode ser medido pela aptidão de abraçar nossas idiossincrasias, de lidar com o que não gostamos ou entendemos em nós - nosso maior êxito é ter coragem de assumir quem somos e deixar de imitar condutas incutidas e socialmente aceitáveis.
Homens choram, sim.
Mulheres, mesmo nos dias de hoje, podem ser meigas.
Estar sempre preparado para o ataque é tarefa de guepardos, não nossa.
Alegria incessante é função de apresentadores de TV.

Precisamos, com urgência, relaxar e aceitar que "Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol / Ambos existem; cada um como é" (Alberto Caeiro). Só assim respiraremos tranqüilos, sem nos sentirmos fracassados, diante de uma melancolia corriqueira. Para parar de ter medo do bicho-papão que mora embaixo da cama, é preciso olhar para debaixo dela: medos só perdem a força quando são firmemente encarados.
Cerceamos a vida de maneira letal ao exigir extrair prazer de tudo o que nos cerca: a comida deve ser orgásmica; o cinema, brilhante; o amor, estelar. Incutimos até num pedaço de bolo a obrigação de nos inundar de prazer. E essa busca demente da felicidade se torna demoníaca porque traz consigo a massacrante sensação de derrota - nada é capaz de nos suprir de alegria, por mais esforço que façamos, porque precisamos do desalento eventual para sermos completos. Só nos contos de fadas aparecerá o herói, a mítica figura salvadora, que decretará: "Todos serão felizes para sempre", e a dor sumirá. Na vida real, somos completamente responsáveis pelo que fazemos conosco, ninguém executará a tarefa por nós.

Não conseguimos - por mais que acumulemos itens, pessoas, realizações e prêmios - sorrisos perenes e autênticos. E nos sentimos (às vezes, vagamente; outras, arrasadoramente) perdedores, fracos, largados. E então exigimos a felicidade. Clamamos por ela. Nos entorpecemos tencionando atingir o êxtase perfeito. Bebemos. Cheiramos. Usamos tudo o que possa alterar nosso ânimo, que ofereça uma breve promessa do paraíso, dilua a angústia. Qualquer coisa que nos deixe felizes até o dia seguinte, de onde recomeçaremos o ciclo, ignorando os motivos desse vazio incômodo que clama para que vejamos a nós mesmos.
A alegria não virá dentro das sacolas de compras, no porta-luvas do carrão novo, nas coxas durinhas da conquista da semana: essas coisas são nossa dose diária (e até necessária) de anestesia que adia encararmos o fato mais banal e amedrontador da vida: não existe bálsamo milagroso para nossa solidão intrínseca, e ela faz parte de nós tanto quanto a vontade de rir solarmente - ignorá-la é fechar a porta para tudo o que ela pode ensinar.
Ignorá-la é enterrar metade de você.

A morte devagar

"No palco de nossa vida o fundamental é representarmos um único personagem:
nós mesmos, em toda a identidade de nossa alma, de nossa essência."
( Saul Brandalise Jr.)


A MORTE DEVAGAR
Martha Medeiros
(crônica da autora publicada em novembro de 2000,
circula pela internet como se fosse de Pablo Neruda, rebatizada como "Morre lentamente")

Repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações.

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado.
Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e
traiçoeira, pois, quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.

Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

Se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa

"Não somos apenas o que pensamos ser.
Somos mais.
Somos também o que lembramos,
e aquilo que nos esquecemos.
Somos as palavras que trocamos,
os enganos que cometemos,
e os impulsos a que cedemos 'sem querer'."
(atribuído a Sigmund Freud)


SE FOSSE PRA FICAR NA SOMBRA, EU TERIA FICADO EM CASA!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Há alguns meses, estive na praia de Ipanema, na linda Rio de Janeiro. Verão intenso, muita gente se divertindo e, sentados na areia, um pouco adiante de mim, três pessoas conversavam animadamente.
Uma delas era um rapaz que, por conta de um detalhe, destoava da grande maioria dos demais ao redor: embora fosse por volta do meio dia e o calor estivesse escaldante, ele não estava se protegendo do sol.
A certa altura, aproximou-se o moço que alugava esse tipo de acessório e ofereceu:
- Você quer que eu lhe traga um guarda-sol?!?
E ele, muito à vontade na situação em que estava, respondeu quase que indignadamente:
- Meu caro, se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa!

Num primeiro momento, tanto o tom da voz dele quanto a convicção de sua decisão em permanecer sob o sol soaram quase como uma piada para mim. Mas agora, depois de passado todo esse tempo, comecei a me dar conta de quantos diferentes significados aquela frase foi ganhando.

Passei a, repetidas vezes, não só me lembrar, como também a criar metáforas para a tal assertiva. “Ficar na sombra” é, na linguagem da psicologia, manter-se na inconsciência; é como aquela parte do iceberg que fica debaixo d’água, invisível aos navios, podendo provocar graves acidentes.
“Ficar na sombra” também quer dizer não se expor, não enfrentar determinada condição como ela é. E, no caso de lançar mão de um acessório para se proteger ou se esconder, é ainda uma estratégia para não ter de lidar com algo que pode estar incomodando, ainda mais se a intensidade for grande.
Claro que no caso real, é indiscutível que uso de protetor solar e do guarda-sol é extremamente indicado e benéfico à saúde; mas meu intuito não é julgar a escolha do rapaz e sim refletir sobre o impacto que a afirmação tão convicta dele me causou.

Fez com que eu pensasse em quantas vezes a gente prefere ficar mergulhado na sombra a sair de casa e ir à luta, ou “dar a cara à tapa” como diz o ditado popular.
Quantas vezes preferimos uma falsa segurança – ainda que escura e nebulosa – ao risco, à possibilidade de tentar. E – pior! - quantas vezes saímos de casa e, ao sentirmos o calor do sol, ou seja, a chance de viver plena e intensamente uma oportunidade que a vida nos apresenta, corremos em busca de uma sombra, assustados, inseguros.
Preferimos nos omitir a expressar o que pensamos, o que sentimos, o que queremos. E assim, de sombra em sombra, tentando nos esquivar da condição real, vamos perdendo chances incríveis de realizar um sonho, de ocupar um cargo há tempos desejado, de experimentar um amor, de desbravar o desconhecido e, enfim, de nos transformar numa pessoa melhor...

Talvez esteja aí a resposta para tantas atrocidades sendo cometidas, para tamanho mal-estar que tem rondado o planeta de um modo geral: muita sombra imposta sobre lugares, pessoas e situações onde poderia estar brilhando o sol. Muita escuridão onde poderia estar inundado de luz. Muita inconsciência onde bastaria um pouco mais de coragem, um pouco mais de disponibilidade ou simplesmente o exercício de nossa verdadeira humanidade.

Portanto, a conclusão a que chego quando me lembro daquela intrigante frase do rapaz da praia de Ipanema – “Se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa!” – é a seguinte: que fechemos nossos guarda-sóis, que paremos de inventar tanta sombra para nos proteger ou nos esconder do que está aí para ser vivido... e que sejamos, deste modo, bem mais audaciosos quando o convite for para a vida, para o bem e para o amor!

Mulheres Possíveis

Soundtrack: Bryan Adamns - Have You Ever Really Loved A Woman

"Você tampa a panela,
dobra o avental,
deixa a lágrima secar no arame do varal.
Fecha a agenda,
adia o problema,
atrasa a encomenda,
guarda insucessos no fundo da gaveta.
A idéia é tirar a tarja preta e pôr o dedo onde se tem medo.
Você vai perceber que a gente é que faz o monstro crescer.
Em seguida superar o obstáculo, pois pode-se estar perdendo
um espetáculo acontecendo do outro lado.
Atravessar o escuro até conseguir tatear o muro,
que é o limite da claridade.
Se tiver capacidade para conquistá-la, tente retê-la o mais que puder.
Há que ter habilidade, sem esquecer que a luz é mulher.
Do inferno assim desmascarado, é hora de voltar.
Não importa se é caminho complicado,
se a curva é reta,
ou se a reta entorta.
Você buscou seu brilho, voltou completa;
jogou a tranca fora, abriu a porta."
(Flora Figueiredo)


MULHERES POSSÍVEIS
Martha Medeiros

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação! E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é a Mulher Maravilha. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado!) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.


A tristeza permitida

Soundtrack: Sarah McLachlan - In The Arms Of An Angel


"De quando em quando, é imprescindível que dialogues contigo mesmo.
Que te comtemples, a sós, na face espelhada da consciência.
Que te indagues quanto aos teus propósitos na vida.
Que efetues honesto balanço de tuas ações.
Que não sustentes qualquer ilusão a teu respeito.
Que não representes para ti mesmo.
Que te desnudes no silêncio de tuas reflexões.
Que te vejas como não ousas mostrar-se aos outros.
Que analises as tuas tendências e conheças as tuas inclinações.
Que estejas com Deus, sem que ninguém mais esteja contigo."
(Carlos Bacceli / Irmão José)


A TRISTEZA PERMITIDA
Martha Medeiros

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões — se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente — as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down...”. Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor — até que venha a próxima, normais que somos.


ASSIM, ASSIM - Narrado Por Pedro Bial

A filosofia tolteca

Soundtrack: Enya - Amarantine


"As verdades de Deus estão espalhadas pelo Cosmos. Ninguém poderá dizer que desconhecia as Leis Divinas e é chegado o tempo de não nos fazermos cobranças buscando nossos direitos à felicidade, paz e saúde ético-moral. Direitos estes que Deus nos dá, mas que espera que tenhamos a maturidade de buscá-los."
(Raul J. Teixeira, CD – Palestra – “Os Acordos da Vida”. 29/09/2003)


A FILOSOFIA TOLTECA
Bibliografia: Ruiz, Don Miguel. Os quatro Compromissos. 7ª ed. Ed. Best Seller.

“Milhares de anos atrás, os toltecas eram conhecidos no sul do México como 'homens e mulheres de sabedoria'. Antropólogos falam dos toltecas como uma nação ou raça, mas, na verdade, os toltecas eram cientistas e artistas que formavam uma sociedade para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos. Encontraram-se como mestres (nagual) e estudantes em Teotihuacan, a cidade antiga das pirâmides próxima à Cidade do México conhecida como o lugar onde o 'Homem se Torna Deus'.

Ao longo dos milênios, os nagual foram forçados a esconder a sabedoria ancestral e a manter sua existência na obscuridade. A conquista européia, combinada com o mau uso do poder pessoal por alguns poucos aprendizes, tornou necessário ocultar o conhecimento dos que não estavam preparados para usá-lo com sabedoria, ou que pretendiam usá-lo apenas para ganhos pessoais.

Felizmente, a sabedoria esotérica tolteca estava incorporada e foi transmitida através de gerações de diferentes linhagens de nagual. Embora tenham permanecido envoltas em segredo por centenas de anos, as antigas profecias prediziam a vinda de uma era em que seria necessário retornar a sabedoria ao povo.”

Em 1995, Don Miguel Ruiz, um nagual, na obra “Os Quatro Compromissos – O Livro da Filosofia Tolteca”, compartilha os ensinamentos poderosos dos toltecas.

“A sabedoria dos toltecas se ergue da mesma unidade essencial de verdade de todas as tradições esotéricas ao redor do mundo. Embora não seja uma religião, honra todos os mestres espirituais que já ensinaram aqui na Terra. Por envolver o espírito, é descrita com maior precisão como forma de vida, caracterizada pela pronta acessibilidade da felicidade e do amor”.

Os acordos sugeridos como verdadeiros compromissos íntimos são os seguintes:
Seja impecável com sua palavra
O primeiro acordo é considerado o mais importante e também o mais difícil de cumprir. Parece simples, mas é extremamente poderoso. A palavra é o poder que temos de criar. A palavra é o dom que vem diretamente de Deus.
A palavra não é apenas um som ou um símbolo escrito. A palavra é força; é o poder que possuímos de expressão e comunicação, de pensar e de criar os eventos da nossa vida.
A palavra seria a mais poderosa ferramenta que possuímos como seres humanos. Porém, como uma espada de dois gumes, a palavra pode criar o sonho mais belo ou destruir tudo ao nosso redor. Não sabemos falar, é a conclusão a que chegamos diante da proposta acima. Não porque não saibamos expressar corretamente as palavras. Não se trata de correção. Mas, muito mais que isso. Da energia, boa ou má, que imprimimos no nosso falar. Assim, uma pessoa simples, sem formação escolar, mas, extremamente pura e humilde pode falar de forma inatacável. Uma outra pessoa, letrada e que se expressa muito bem, porém, maledicente, invejosa, vingativa; nesse caso, estaria falando de forma deficiente. Conforme Jesus disse “a boca fala daquilo que está cheio o coração”. Exercitar-se no primeiro acordo constitui-se num importante indicativo de nosso estado espiritual. Vigiar nossas conversas para que possamos marcá-las de forma consciente com a pureza de nossos sentimentos.
Os três compromissos seguintes na verdade se originam do primeiro.
Não leve nada para o lado pessoal
O que quer que aconteça com você, não tome como pessoal. Nos mais diversos círculos de nosso relacionamento, a todo instante estamos interagindo. Entretanto, nem sempre sabendo separar correções de caráter profissional das críticas à nossa maneira de ser. Há aí uma grande diferença. Difícil não recebermos uma orientação de nossos pais como “cobrança exagerada” e alimentarmos a partir dali uma certa insatisfação ou queixa. Ainda assim, mesmo quando ocorra a crítica depreciativa, a ofensa, ou a maledicência a nosso respeito não a tomemos pra nós. Aquela carga negativa que possa estar a nós direcionada, não nos pertence. Porque recolhê-la como se fosse nossa? Porque acolher, no nosso íntimo, fatores de perturbação? Considerando que não devemos tomar nada pessoalmente, elogios e reconhecimentos de terceiros também não deverão repercutir em nós. Se realizamos algo digno de reconhecimento é porque o fizemos de forma espontânea, sem esperar elogios, por isso não há o que acolher. Ainda aqui, a emissão de uma opinião ou de uma vibração parte de alguém para conosco. Não é o que chega de fora que nos aturde ou felicita. É pelo que emitimos, pelo que geramos que seremos responsáveis. Nos ensina Jesus que não é o que nos entra... o que nos chega que nos faz mal, mas o que sai de nós é o que nos compromete. Deixemos a quem quer que seja a responsabilidade por suas vibrações, positivas ou negativas. Agindo assim, nos sentiremos mais livres.
Não julgue pelo que vê, sente, ouve...
“Nós temos a tendência para tirar conclusões sobre tudo. Presumir. O problema com as conclusões é que acreditamos que elas são verdadeiras. Poderíamos jurar que são reais. Tiramos conclusões sobre o que os outros estão fazendo e pensando – levamos para o lado pessoal -, então os culpamos e reagimos enviando veneno emocional, com nossa palavra. Por isso, sempre que fazemos presunções, estamos pedindo problemas. Tiramos uma conclusão, entendemos um grande drama do nada”.
Muitas tristezas e dramas que passamos foram causados por tirar conclusões e levar as coisas para o lado pessoal. Criamos muito veneno emocional apenas tirando conclusões e fazendo isso de forma pessoal, porque geralmente começamos a fofocar sobre nossas suposições.
Presumimos que nossos familiares sabem o que pensamos e que não temos necessidade de expressar nossos desejos. Presumimos que eles irão fazer o que queremos porque nos conhecem muito bem. Se não fizerem o que presumimos que fariam, nos sentimos magoados e dizemos: “Você devia saber”. Ficamos com medo de pedir esclarecimentos, tiramos conclusões e acreditamos estar certos sobre essas conclusões; depois defendemos nossas conclusões e tentamos tornar a outra pessoa errada. Sempre é melhor fazer perguntas do que tirar conclusões, porque as suposições nos predispõem ao sofrimento.
Sempre dê o melhor de si
Esse compromisso permite que os outros três se tornem hábitos profundamente enraizados. Refere-se à ação dos outros três. Sob qualquer circunstância, sempre faça o melhor possível, nem mais nem menos. Porém, tenha em mente que o seu “melhor” nunca será o mesmo de um instante para outro. Tudo está vivo e mudando o tempo todo; portanto, fazer o melhor algumas vezes pode produzir alta qualidade e outras vezes não vai ser tão bom. Quando acordamos, descansados e energizados, de manhã, o nosso “melhor” tem mais qualidade do que quando estamos cansados, à noite. Nosso “melhor” vai depender de estarmos nos sentindo maravilhosamente felizes ou aborrecidos, zangados ou ciumentos. Muito comum é fazermos várias coisas ao mesmo tempo. Querendo muito realizar diversas tarefas, nós as abraçamos, porém com pouca qualidade, sem consciência do que estávamos fazendo. Como num belo ditado: “quem muito abraça, pouco aperta”. Por isso os toltecas sugerem fazer o melhor que pudermos no tempo que pudermos. Simplesmente, dê o melhor de si – em qualquer circunstância da sua vida. Não importa se você está doente ou cansado, se der sempre o melhor de si, não haverá forma de julgar a si mesmo. E se não julga a si mesmo, não há forma de ficar sujeito à culpa, ao arrependimento e à autopunição.

Os Quatro compromissos são um sumário do domínio da arte da transformação íntima que cada criatura deve buscar.

Seja idiota


Soundtrack: Copacabana Club - Just do it


"Você quer saber onde estão os milagres? Estão aí, dentro de você.
A magia e todo o poder do Universo estão encapsulados em sua vida.
Assim, olhe para dentro.
Escolha suas realidades minuto a minuto.
Reconheça seus guias iluminados.
Não queira determinar o futuro, apenas decida o presente.
Escolha sua realidade, pois você já foi escolhido por ela e por tudo que a envolve.
Você não pode saber os encontros e desencontros que terá na vida,
mas pode estar aberto para eles."
(José Luiz Tejon)


SEJA IDIOTA
Ailin Aleixo
colunista da revista Vip, onde este artigo foi originalmente publicado

Gente chata essa que quer ser séria, profunda, visceral. Putz, coisa pentelha! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado do Schopenhauer? Deixe a urgência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota. Ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades.
Ignore o que o boçal do seu chefe proferiu. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. E nada pessoal também. Pior o Michael Jackson!
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos claramente traçados, mas não consegue rir quando tropeça? Que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?

Quanto tempo faz que você não vai ao cinema, não joga video-game, maçã do amor no circo ou parque de diversões nem se fala. Também valem beijo no portão, amasso no carro, essas coisas. Sim, porque é bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E aí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Em suma: desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas a realidade já é dura; piora se for densa. Dura e densa, ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não se descontrolar, não demonstrar o que sente, não chorar nem comer danoninho, não andar descalço. É muito não. Dá prá ser feliz com tanto não? Pagar as contas, ser bem-sucedido, amar, ter filhos, saber beber, levar a gata pra jantar e depois pro motel, resolver os seus pepinos e os abacaxis dos outros, dar atenção ao tio doente e lembrar do seguro do carro que vence amanhã - tarefa brava. Piora, muito, com o peso de todos aqueles nãos.

Tenha fé em uma coisa: dá certo ser adulto e idiota. Aliás, tudo fica bem mais fácil se for regado a idiotice, bom humor e muitas gargalhadas. Manuel Bandeira foi um grande homem e um grande poeta. Disse certa vez: "E por que essa condenação da piada, como se a vida fosse só feita de momentos graves ou só nesses houvesse teor poético?". Estava certo. E viva a abobrinha!!! Empine pipa!!! Adultos podem (e devem) contar piadas, ir ao fliperama, passear no parque, gostar dos Simpsons, beliscar a bunda da mulher, sair pelados pela cozinha e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, pra começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que são, passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou fingir um sorriso que acaba trazendo outros verdadeiros e de repente tudo está fluindo bem, a seu favor - então o sorriso se torna grande. A briga, a dívida, a dor, a mágoa, a dúvida, a raiva, tudinho vai passar, então pra que tanta gravidade? Já fez tudo o que podia para resolver o problema? Parou, chorou, respirou fundo, comeu chocolate e pediu arrêgo? Ótimo, hora da idiotice: entre na Internet, jogue pebolim, coma um churrasco grego, vá por um caminho diferente, cantarole no trânsito! Tá numa de empinar pipa no sábado? Vá. E suje a roupa na grama, por favor. Quer conversar com sua namorada imitando o Pato Donald, mas acha muito boçal? E é, mas e daí? Você realmente acha que ela vai gostar menos de você por isso? Ela não vai, tenha certeza. Só vai gostar mais, porque é delicioso estarmos com quem sorri e ri de si mesmo. E não se surpreenda se chegar em casa e a encontrar fantasiada de Margarida, só pra variar o clichê champagne-morangos-lingerie. Eu fico chateado por não ser tão idiota quanto gostaria; tenho uma mania horrível de, sem querer, recair na seriedade.
Então o mundo fica cinza e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna. Nessas horas não preciso de cenhos franzidos de preocupação. Nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice. Aquelas besteiras que o colega ao lado sempre solta. Como sair pra jogar paintball - ou, melhor ainda, me olhar fixamente no espelho até notar como fico feio com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo. Como fico ridículo quando esqueço que tudo passa. E como meu sorriso é bonito! Bom mesmo é ter o problema na cabeça, o sorriso na boca e paz no coração!!!! Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e, que tal batata frita com sorvete agora mesmo, no happy hour???

Tenha um dia perfeito, uma vida feliz e nunca deixe de ser criança!

Temos escolha...

"A vida é a soma de todas as suas escolhas" (Albert Camus)


TEMOS ESCOLHA
Martha Medeiros

No interessante livro Homem Lento, de J.M. Coetzee, há uma passagem que me marcou. É um confronto verbal entre o personagem principal do livro, um homem de mais de 60 anos que teve uma perna amputada depois de um acidente de bicicleta, e um garoto adolescente. Ambos estão no sombrio e decadente apartamento do velho, que resmunga: "Eu fui ultrapassado pelo tempo. Este apartamento e tudo o que existe dentro dele foi ultrapassado pelo tempo". O garoto pergunta se ele não gosta de coisas novas. O velho (que nem é tão velho) responde: "Isso tudo um dia foi novo. Tudo no mundo um dia foi novo. Até eu fui novo. Na hora em que nasci, eu era a coisa mais moderna da face da Terra".

Nada é tão moderno quanto nós ao nascermos. Sublinhei.

Prosseguindo o diálogo, o garoto então comenta, como quem não quer nada, que um dia foi visitar o avô para mostrar como funcionava um computador. O avô era bem velho e também tinha sido ultrapassado pelo tempo. Hoje fazia compras pela internet, enviava e-mails, recebia fotos.

"E daí?", pergunta o mal-humorado sem perna.

"Daí que dá pra escolher".

Eis uma frase, uma verdade, um verso: dá pra escolher. Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos ou viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem-estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranqüilo ou aprender a lidar com o stress urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom humor ou levar a vida na ponta da faca.

Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isto não se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. É ele que vai determinar se vamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda.

Dá pra escolher entre ser carnívora ou vegetariana, entre fumar ou não, entre correr na praia ou ficar um pouco mais na cama, entre jogar paciência ou ler um livro, entre amores serenos ou amores turbulentos. Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer. Pensando bem, acertos e erros nem estão em pauta aqui. O que importa é ter consciência de que ficar sentado esperando que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece. Descansados da silva, vem o tempo e crau: nos ultrapassa.
***
Infelizmente não poderei votar hoje porque estou longe do meu domicílio eleitoral - vou cumprir meu dever no segundo turno, se houver. Mas se você vai votar, não esqueça que dá pra escolher entre quem repete o mesmo discurso automático e quem apresenta soluções realizáveis. Entre quem tem apego ao poder e quem tem consciência social. Entre quem quer trabalhar só para si mesmo e seu partido, e quem quer trabalhar pela cidade. Não vá pelos outros, não vá por pesquisas: vá pela sua cabeça. Bom voto.

Procura-se um amante...

"Muitas pessoas pensam que a felicidade somente será possível depois de alcançar algo,
mas a verdade é que deixar para ser feliz amanhã é uma forma de ser infeliz."
(Roberto Shinyashiki)



PROCURA-SE UM AMANTE
Dr. Jorge Bucay
tradução do original "Hay que buscarse un Amante"

Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam.
Geralmente são essas últimas as que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores. Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança. Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.

Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE ! É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?!" Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.

Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte: AMANTE é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso AMANTE é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto ...

Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir levando".
E o que é "ir levando" ? Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.

Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja também um amante e um protagonista ...
da SUA VIDA!
Acredite: o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é desistir de viver; por isso, e sem mais delongas, procure um amante ...

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:
"Para se estar satisfeito, ativo e sentir-se jovem e feliz, é preciso namorar a vida!"

Metades...


Soundtrack: Osvaldo Montenegro - Metade


"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calma e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre."
(Clarice Lispector)


METADES
Eduardo Baszczyn

Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo.

Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso.
Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento.

Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim.

Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo.

Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade.

Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro.

Metade berra. Outra sussurra.
Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado.
Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade.
Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha.
Metade auto-suficiente.

Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco.

Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria.

Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis.

Metades que me fazem sofrer nessa luta diária.
No não deixar que uma mate a outra.

A criança que eu não fui...


Soundtrack: Enya - Book of days

"Criança dá trabalho, criança demanda muita atenção, criança é dependente, criança interfere no relacionamento do casal, criança dá despesa, criança é pra sempre. Tudo verdade, a não ser por um detalhe: crianças crescem. Crianças se transformam em adultos companheiros, crianças são quase sempre nossa versão melhorada, crianças herdarão não apenas nossos anéis, mas nossos genes, nosso jeito, nossa história, e isso é explosivo, intenso, diabólico, fenomenal." (Martha Medeiros)


A CRIANÇA QUE EU NÃO FUI
Fátima Irene Pinto

A criança que eu não fui aflora agora, após quase meio século de vida.
Eu acreditei que pudesse abafá-la para todo o sempre e nunca levei a sério todos os seus veementes apelos para ressurgir e manifestar-se.
Ocorre que ultimamente ando esbarrando nela a todo instante, do jeitinho que a deixei há quarenta e tantos anos atrás: extremamente tímida, sobressaltada, sem defesas para um mundo que lhe parecia por demais hostil e complicado.

De família numerosa, meus assoberbados pais não tinham tempo para entender a minha interna tragédia, tampouco para resgatarem-me dos dramas que a minha criança resolveu sozinha e resolveu completamente errado.

Incorporei todos os rótulos que me deram nas minhas primeiras tentativas de convivência entre os humanos: desajeitada, limitada, mela-festa, esquisita.

Então a minha criança entendeu que para merecer fazer parte da vida e receber um mínimo de carinho e aceitação, era preciso fazer coisas heróicas e grandiosas. Em cima desta idéia pautei toda a minha existência.

Tenho que dar um salto aqui - não interessa narrar os meus grandiosos e heróicos feitos - mas é preciso ressaltar sim, os desumanos sacrifícios despendidos nesta empreitada e para onde eles me levaram: depressões profundas e síndrome do pânico cujas sequelas ainda hoje se fazem sentir.

As vezes me pergunto porque o "Supremo" não intercedeu por mim naquela época, mandando-me uma angélica criatura para lembrar-me que nada daquilo era preciso e que a despeito das minhas esquisitices, eu era merecedora de amor respeito e aceitação?

Esta narrativa fica pela metade, pois só agora começo a dar-me conta do tamanho e da gravidade do equívoco. Só agora estou disposta a romper a muralha de aço entre o meu eu adulto (e mal resolvido) e aquela criança que não me permiti ser e que agora explode à minha revelia, não aceitando mais o porão escuro onde a trancafiei por tantos anos.

Espero que haja tempo para resgatá-la e deixá-la ser feliz pela primeira vez na vida, sem que nada ela tenha que fazer de sobre-humano, de heróico ou grandioso, de notório ou relevante.

Perdoa-me, minha criança!
Eu joguei duro demais com você por ignorância.
Liberto-a agora!
Esteja feliz!
Esteja em paz!

O poder da palavra falada...


Soundtrack: Paralamas do Sucesso - Cuide bem do seu amor


"Cuidado com as palavras pronunciadas em discussões e brigas,
que revelem sentimentos e pensamentos que na realidade você não sente e não pensa...
Pois minutos depois, quando a raiva passar, você delas não se lembrará mais...
Porém, aquele a quem tais palavras foram dirigidas, jamais as esquecerá..."
(Charles Chaplin)


O PODER DA PALAVRA FALADA
Louise L. Hay
in "O poder dentro de você"

Existe um poder imenso nas palavras faladas, mas poucos têm consciência dele. As palavras devem ser consideradas os alicerces daquilo que construímos na vida. Usamos palavras o tempo todo e raramente pensamos no que dizemos e como falamos. Como prestamos pouca atenção a nossa escolha de palavras, a maioria de nós fala muito com negativas...

Lembre-se sempre: existe poder em suas palavras. O poder vem quando você assume a responsabilidade por sua vida... E para ser responsável por sua vida, você tem de ser responsável pelas palavras que saem de sua boca. As palavras e frases que você emite são extensões de seus pensamentos. Portanto, comece a prestar atenção ao que você diz. Se estiver usando palavras negativas ou limitadoras, modifique-as...

Quando estiver com outras pessoas, preste atenção ao que elas dizem e ao modo como falam. Veja se é capaz de associar o que disseram às situações que elas estão vivendo. Repare que muita gente vive na base do "eu deveria"... São pessoas que ficam imaginando porque não conseguem sair de situações desagradáveis. O fato é que elas querem controlar coisas que não podem controlar...

Outra expressão que precisa ser removida da fala e pensamento é "tenho de". Conseguir isso é aliviar muito a pressão que impõe a você mesmo ao usar essa expressão... Em vez disso, comece a falar "escolho"... a palavra escolher pode dar uma perspectiva completamente diferente a sua vida.

Lembre-se sempre que tudo o que você faz é por escolha, mesmo que não lhe pareça...Quer saber o que você anda pensando e como tem falado? Então faça um pequeno exercício. Coloque um gravador perto de seu telefone e ligue-o sempre que der ou receber uma chamada. Quando a fita estiver totalmente gravada dos dois lados, ouça o que você disse e que palavras usou. Provavelmente você ficará chocado.

A partir daí, comece a prestar atenção às palavras que costuma usar e em sua inflexão de voz. Se perceber que repete a mesma expressão três ou mais vezes, anote-a; isso é um de seus padrões de pensamento. Alguns desses padrões serão positivos e capazes de lhe proporcionar apoio, mas certamente você encontrará alguns muito negativos que só o estão prejudicando.


"Quem é você neste momento?
Junte as palavras que você anda falando, e terá a resposta.
Pense nisso!"
(Paulo Roberto Gaefke)

Nunca desista de seus sonhos...


Soundtrack: Elbosco - Nirvana


"Quem quer realizar seus sonhos não deve esperar caminhos sem bloqueios, vitórias sem acidentes. (...) Nos alicerces das grandes descobertas existem grandes falhas, nos alicerces das grandes falhas existem grandes sonhos de superação. Realizar os sonhos implica riscos, riscos implicam escolhas, escolhas implicam erros. Quem sonha não encontra estradas sem obstáculos, lucidez sem perturbações, alegrias sem aflição. Mas quem sonha voa mais alto, caminha mais longe. Toda pessoa, da infância ao último estágio da vida, precisa sonhar." (Augusto Cury)


NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS
Augusto Cury

Você não precisará de sonhos para atravessar um pequeno atrito com alguém, mas precisará deles para superar suas tempestades emocionais, para vencer uma crítica injusta, uma calúnia, uma discriminação, uma deslealdade. Precisará sonhar com a leveza da vida para superar as decepções causadas pelos estranhos e para vencer as mágoas causadas pelas pessoas que você ama. Precisará sonhar com a solidariedade para compreender os erros dos outros, perdoar seus atos insensatos, ter esperança de que um dia mudarão. Precisará de sonhos para entender que ninguém pode dar o que não tem.

Você não precisará de sonhos para ser um trabalhador comum, massacrado pela rotina, que faz tudo igual todos os dias e que vive apenas em função do salário no final do mês. Mas precisará de muitos sonhos para ser um profissional que procura a excelência, amplia os horizontes de sua inteligência, fica atento às pequenas mudanças, tem coragem para corrigir rotas, tem capacidade para prevenir erros, tem ousadia para fazer das suas falhas e dos seus desafios um canteiro de oportunidades. Precisará de sonhos para enxergar soluções que ninguém vê, para apostar naquilo que crê, para encantar seus colegas, para surpreender sua equipe de trabalho.

Você não precisa de sonhos para vencer um resfriado, mas precisará de muitos sonhos para suportar com alegria uma doença crônica, para superar com coragem um câncer, um enfarte, um acidente. Precisará de sonhos para acreditar na vida e fazer de cada minuto um momento eterno, mesmo no leito de um hospital. Precisará sonhar com os patamares mais altos da qualidade de vida para não se transformar em uma máquina de trabalhar e não se destruir pelo estresse e ansiedade. Precisará de sonhos para repensar seu estilo de vida e investir naquilo que você ama. Precisará de sonhos afetivos para não fumar, para beber moderadamente, para não expor sua frágil vida a riscos numa estrada. Afinal de contas, sempre existe alguém apaixonado por você e que sonha viver longos anos ao seu lado.

Você talvez não precise de sonhos enquanto estiver valorizado socialmente e em plena forma profissional. Mas precisará de sonhos para ser criativo, atraente e perspicaz depois de se aposentar. Precisará de mais sonhos ainda para nunca aposentar sua mente e para transformar a terceira idade numa fase mais rica, calma e produtiva da sua existência. Precisará deles para ler, escrever, pintar, fazer cursos, contar histórias, compor poesias, viver aventuras. Precisará de sábios sonhos para gozar os melhores dias de sua vida e fazer da fase de perda da força muscular um período de vigor mental e de usufruto da sabedoria acumulada nos anos.

(...)

Você não precisará de sonhos para superar uma pequena tristeza ou um momento de ansiedade. Mas precisará de espetaculares sonhos para vencer uma crise depressiva, o desânimo, a falta de coragem de viver, e, assim, acreditar que todo transtorno psíquico por mais dramático que seja pode ser superado. Precisará de sonhos que exaltam a grandeza da vida para superar uma síndrome do pânico, um transtorno obsessivo, uma doença psicossomática, um estresse pós-traumático gerado por um acidente ou uma crise financeira. Somente os sonhos nos fazem suportar uma perda irreparável. Eles lubrificam os olhos do coração: fazem uma mãe que perdeu um filho enxergá-lo brincando na eternidade.

Precisará de sonhos para não ser escravo da culpa, prisioneiro do passado, servo das preocupações do futuro. Precisará deles para sair da platéia, resgatar a liderança do "eu", deixar de ser vítima de suas mazelas psíquicas, reeditar o filme do inconsciente e tornar-se autor da sua própria história.

Precisará de singelos sonhos para cobrar menos de si e das pessoas que o rodeiam; para elogiar, brincar, cantar e compreender mais. Além disso, precisará de muitos sonhos para zombar dos seus medos, debochar da sua insegurança, dar risadas das suas manias e, assim, viver relaxada e suavemente nessa bela e turbulência existência.

Sem sonhos, as pedras do caminho se tornam montanhas, os pequenos problemas ficam insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções se transformam em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.

Voltaire nos disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Desejos não suportam o calor das dificuldades. Sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós. John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam a emoção e produzem um agradável romance com a vida. Quem não vive um romance com sua vida será um miserável no território da emoção, ainda que habite em mansões, tenha carros luxuosos, viaje de primeira classe nos aviões e seja aplaudido pelo mundo.

Precisamos perseguir nossos mais belos sonhos. Desistir é uma palavra que tem que ser eliminada do dicionário de quem sonha e deseja conquistar, ainda que nem todas as metas sejam atingidas. Não se esqueça de que você vai falhar 100% das vezes em que não tentar, vai perder 100% das vezes em que não procurar, vai estacionar 100% das vezes em que não ousar caminhar.

Como disse o filósofo da música Raul Seixas: "Tenha fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez...". Se você sonhar, poderá sacudir o mundo, pelo menos o seu mundo...

Se você tiver de desistir de alguns sonhos, troque-os por outros. Pois a vida sem sonhos é um rio sem nascente, uma praia sem ondas, uma manhã sem orvalho, uma flor sem perfume. Sem sonhos, os ricos se deprimem, os famosos se entediam, os intelectuais se tornam estéreis, os livres se tornam escravos, os fortes se tornam tímidos. Sem sonhos, a coragem se dissipa, a inventividade se esgota, o sorriso vira um disfarce, a emoção envelhece. Liberte sua criatividade. Sonhe com as estrelas, para poder pisar na Lua. Sonhe com a Lua, para poder pisar nas montanhas. Sonhe com as montanhas, para pisar sem medo nos vales das suas perdas e frustrações.

Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida e entender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas. O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.

Por isso, desejo sinceramente que você...
NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS!

A opção da simplicidade...

Soundtrack: Enya - Orinoco Flow

"Gente fina é aquela que é tão especial que a gente nem percebe se é gorda, magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa. Ela é gente fina, ou seja, está acima de qualquer classificação. Todos a querem por perto. Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões quando necessário. É simpática, mas não bobalhona. É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados: sabe transgredir sem agredir. Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana. Te ajuda, mas permite que você cresça sozinho. Gente fina diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para agradar. Gente fina se sente confortável em qualquer ambiente: num boteco de beira de estrada e num castelo no interior da Escócia. Gente fina não julga ninguém – tem opinião, apenas. Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera. O que mais se pode querer? Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o próprio nome diz, não engrossa. Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa, mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra. Gente fina é que tinha que virar tendência. Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença." (Martha Medeiros)


A OPÇÃO DA SIMPLICIDADE
Redação do Momento Espírita.
http://www.reflexao.com.br/

Muitas pessoas reclamam da correria de suas vidas.
Acham que têm compromissos demais e culpam a complexidade do mundo moderno.
Entretanto, inúmeras delas multiplicam suas tarefas sem real necessidade.
Viver com simplicidade é uma opção que se faz.
Muitas das coisas consideradas imprescindíveis à vida, na realidade, são supérfluas.
A rigor, enquanto buscam coisas, as criaturas se esquecem da vida em si.
Angustiadas por múltiplos compromissos, não refletem sobre sua realidade íntima.
Olvidam do que gostam, não pensam no que lhes traz paz, enquanto sufocam em buscas vãs.
De que adianta ganhar o mundo e perder-se a si próprio?

Se a criatura não tomar cuidado, ter e parecer podem tomar o lugar do ser.
Ninguém necessita trocar de carro constantemente, ter incontáveis sapatos, sair todo final de semana.
É possível reduzir a própria agitação, conter o consumismo e redescobrir a simplicidade.
O simples é aquele que não simula ser o que não é, que não dá demasiada importância a sua imagem, ao que os outros dizem ou pensam dele.
A pessoa simples não calcula os resultados de cada gesto, não tem artimanhas e nem segundas intenções.
Ela experiencia a alegria de ser, apenas.
Não se trata de levar uma vida inconsciente, mas de reencontrar a própria infância.
Mas uma infância como virtude, não como estágio da vida.
Uma infância que não se angustia com as dúvidas de quem ainda tem tudo por fazer e conhecer.

A simplicidade não ignora, apenas aprendeu a valorizar o essencial.
Os pequenos prazeres da vida, uma conversa interessante, olhar as estrelas, andar de mãos dadas, tomar sorvete...
Tudo isso compõe a simplicidade do existir.
Não é necessário ter muito dinheiro ou ser importante para ser feliz.
Mas é difícil ter felicidade sem tempo para fazer o que se gosta.
Não há nada de errado com o dinheiro ou o sucesso.
É bom e importante trabalhar, estudar e aperfeiçoar-se.
Progredir sempre é uma necessidade humana.

Mas isso não implica viver angustiado, enquanto se tenta dar cabo de infinitas atividades.
Se o preço do sucesso for ausência de paz, talvez ele não valha a pena.
As coisas sempre ficam para trás, mais cedo ou mais tarde.
Mas há tesouros imateriais que jamais se esgotam.
As amizades genuínas, um amor cultivado, a serenidade e a paz de espírito são alguns deles.
Preste atenção em como você gasta seu tempo.
Analise as coisas que valoriza e veja se muitas delas não são apenas um peso desnecessário em sua existência.
Experimente desapegar-se dos excessos.
Ao optar pela simplicidade, talvez redescubra a alegria de viver.
Pense nisso.

O convite...

"Essa é a realidade que vivemos: ao procurar fazer o melhor possível, desejando encontrar, e algumas vezes encontrando, significados e vínculos em nós mesmos e em tudo que é maior do que nós, somos aniquilados por banheiros em desordem, congestionamentos de trânsito e torradas queimadas. Não estou interessada numa espiritualidade que não possa abranger meu lado humano. O dogma tradicional ou o otimismo irrestrito da Nova Era pouco me confortam ou orientam. Porque por baixo das pequenas tentativas do cotidiano existem paradoxos mais cruéis, coisas que a mente não consegue conciliar, mas que o coração tem de suportar se quisermos viver plenamente: cansaço intenso e esperança radical, crenças abaladas e fé implacável, os desejos aparentemente contraditórios de liberdade pessoal e de um sério compromisso com os outros, de solidão e intimidade, da capacidade de simplesmente estar com o mundo e da necessidade de mudar aquilo que sabemos ser inadequado à nossa maneira de viver."
(Oriah Mountain Dreamer)


O CONVITE
Oriah Mountain Dreamer
livro "O convite"

Não me interessa saber como você ganha a vida. Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor. Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: "Sim!"
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.
Não me interessa onde, o que ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia.

Declaração de Bens...

Soundtrack: Enya - Only Time

"Então agora, como pai, marido ou ente querido, tente não tornar seu amor uma cola que gruda, mas um ímã que a princípio atrai, depois vira ao contrário e repele, para que aqueles que são atraídos não precisem achar que precisam grudar em você para sobreviver. Nada poderia estar mais longe da verdade, nada poderia ser mais prejudicial para eles.
Deixe seu amor impulsionar seus entes queridos para o mundo - e para a experiência completa de quem eles são. Dessa forma, você realmente os amará.
(Do livro "Conversando com Deus" de Neale Donald Walsh - Ediouro)


DECLARAÇÃO DE BENS
Texto extraído do site www.velhosamigos.com.br,
e que é atribuído a Hélio Fraga, jornalista em Belo Horizonte-MG.
http://www.reflexao.com.br/

"O pai moderno, muitas vezes perplexo, aflito, angustiado, passa a vida inteira correndo atrás do futuro e se esquecendo do agora. Na luta para edificar este futuro, ele renuncia ao presente. Por isso, é um homem ocupado, sem tempo para os filhos, envolvido em mil atividades - tudo com o objetivo de garantir o seu amanhã.

E com que prazer e orgulho, cada ano, ele preenche sua declaração de bens para o Imposto de Renda. Cada nova linha acrescida foi produto de muito esforço, muito trabalho. Lote, casa, apartamento, sítio - tudo isso custou dias, semanas, meses de luta. Mas ele está sedimentando o futuro de sua família. Se ele parte um dia, por qualquer motivo, já cumpriu sua missão e não vai deixar ninguém desamparado.

E para ir escrevendo cada vez mais linhas na sua relação de bens, ele não se contenta com um emprego só - é preciso ter dois ou três; vender parte das férias, em vez de descansar junto à família; levar serviço para fazer em casa, em vez de ficar com os filhos; e é um tal de viajar, almoçar fora, discutir negócios, marcar reuniões, preencher a agenda - afinal, ele é um executivo dinâmico, faz parte do mundo competitivo, não pode fraquejar.

No entanto, esse homem se esquece de que a verdadeira declaração de bens, o valor mais alto, aquele que efetivamente conta, está em outra página do formulário do Imposto de Renda - mais precisamente, naquelas modestas linhas, quase escondidas, onde se lê "relação dos dependentes". Aqueles que dependem dele, os filhos que ele colocou no mundo, e a quem deve dedicar o melhor de seu tempo.

Os filhos são novos demais, não estão interessados em lotes, casas, salas para alugar, aumento de renda bruta - nada disso. Eles só querem um pai com quem possam conviver, dialogar, brincar.

Os anos vão passando, os meninos vão crescendo, e o pai nem percebe, porque se entregou de tal forma ao trabalho - vulgo construção do futuro - que não viveu com eles, não participou de suas pequenas alegrias, não os levou ou buscou no colégio, nunca foi a uma festa infantil, não teve tempo para assistir a coroação da menina - pois um executivo não deve desviar sua atenção para essas bobagens. São coisas de desocupados.

Há filhos órfãos de pais vivos, porque estão "entregues" - o pai para um lado, a mãe para o outro, e a família desintegrada, sem amor, sem diálogo, sem convivência. E é esta convivência que solidifica a fraternidade entre os irmãos, abre seu coração, elimina problemas, resolve as coisas na base do entendimento.

Há irmãos crescendo como verdadeiros estranhos, porque correm de um lado para o outro o dia inteiro - ginástica, natação, judô, balé, aula de música, curso de Inglês, terapia, lição de piano, etc. - e só se encontram de passagem em casa, um chegando, o outro saindo. Não vivem juntos, não saem juntos, não conversam - e, para ver os pais, quase é preciso marcar hora.

Depois de uma dramática experiência pessoal e familiar vivida, a única mensagem que tenho para dar - e que tem sido repetida exaustivamente em paróquias, encontros familiares, movimentos e entidades - é esta: não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado aos filhos.

Dos 18 anos de casado, passei 15 anos correndo e trabalhando, absorvido por muitas tarefas, envolvido em várias ocupações, totalmente entregue a um objetivo único e prioritário : construir o futuro para três filhos e minha mulher. Isso me custou longos afastamentos de casa, viagens, estágios, cursos, plantões no jornal, madrugadas no estúdio da televisão, uma vida sempre agitada, atarefada, tormentosa, e apaixonante na dedicação à profissão escolhida - e que foi, na verdade, mais importante do que minha família.

E agora, aqui estou eu, de mãos cheias e de coração aberto, diante de todos vocês, que me conhecem muito bem. Aqui está o resultado de tanto esforço: construí o futuro, penosamente, e não sei o que fazer com ele, depois da perda do Luiz Otávio.

De que valem casa, carros, sala, lote, e tudo o mais que foi possível juntar nesses anos todos de esforço, se ele não está mais aqui para aproveitar isso com a gente?

Se o resultado de 30 anos de trabalho fosse consumido agora por um incêndio, e desses bens todos não restasse nada mais do que cinzas, isso não teria a menor importância, não ia provocar o menor abalo em nossa vida, porque a escala de valores mudou, e o dinheiro passou a ter um peso mínimo e relativo em tudo.

Se o dinheiro não foi capaz de comprar a cura e a saúde de um filho amado, para que serve ele? Para ser escravo dele?

Eu trocaria - explodindo de felicidade - todas as linhas da declaração de bens por uma única linha que eu tive de retirar, do outro lado da folha: o nome do meu filho na relação dos dependentes. E como me doeu retirar essa linha na declaração de 1983, ano base de 82."


Dica de filme: Quando você viu seu pai pela última vez?


A arte de viver...

Soundtrack: Enya - Storms in Africa


"Percebo que às vezes as pessoas se sentem tão fragilizadas que aceitam condições terríveis para si mesmas.
Deixam de acreditar que são filhas e filhos de Deus e
que se aceitarmos as mudanças naturais da vida seremos muito mais felizes.
Quem sabe a dor e o sofrimento vêm para nos libertar?
Afinal, não se fazem omeletes sem quebrar os ovos."
(Maria Silvia Orlovas)



JOSEPH CAMPBELL E A ARTE DE VIVER
Paulo Coelho

Desde que li “O PODER DO MITO”, na verdade uma longa entrevista com o jornalista Bill Moyers, passei a comprar e devorar todos os livros escritos por Joseph Campbell (1904-1987). Lembro-me de ficar muito impressionado com uma de suas respostas:
— Você sempre achou que... estava sendo guiado por mãos que não conseguia ver? — pergunta Moyers.
— Sempre — responde Campbell. — Se você segue o seu sonho, coloca-se em um caminho que foi feito sob medida para que possa desenvolver aquilo que sempre desejou fazer. A partir daí, começa a encontrar com gente que faz parte deste sonho, e as portas se abrem.

E embora fascinado pelo autor, pouco sabia de sua vida, até que a jornalista Ruth de Aquino me forneceu um interessante material a seu respeito, parte do qual reproduzo a seguir:

“Quando você cursa uma faculdade, não faz aquilo que deseja, mas procura apenas saber o que é necessário para receber o diploma. E nem sempre esta é a melhor opção. No meu caso, recebi uma bolsa de estudos e fui cursar a Universidade de Paris. Ao chegar à Europa, descobri James Joyce, Picasso, Mondrian — toda aquela turma da arte moderna. Depois, fui até a Alemanha, comecei a estudar sânscrito e me envolvi com o hinduísmo. Logo em seguida veio Jung; tudo estava se abrindo, por todos os lados.
Voltei à Universidade e disse: ‘Olha, não quero passar minha vida tentando aprender apenas aquilo que vocês querem me ensinar’.
Tinha feito todas as matérias necessárias para o título; só precisava redigir a maldita tese. Se não fizesse isso, não me deixariam prosseguir meus estudos e, portanto chegou a hora de dizer: vão para o inferno.

Mudei-me para o campo e passei cinco anos lendo. Nunca tirei meu título de doutorado. Aprendi a viver com o mínimo possível, isso me dava liberdade, e foi uma época maravilhosa.
É preciso coragem para fazer aquilo que desejamos, já que as outras pessoas têm sempre um monte de planos para nós. Tendo consciência disso, decidi seguir o meu sonho: não sei como passei esses cinco anos, mas estava convencido de que ainda sobreviveria outros cinco, se fosse necessário.
Lembro-me de uma ocasião em que tinha uma nota de um dólar na gaveta de uma cômoda, e eu sabia que enquanto ela estivesse ali, eu ainda contaria com meus recursos. Foi ótimo. Minha única responsabilidade era com minha própria vida e com minhas escolhas.

Na verdade, houve momentos em que pensei: ‘Caramba, gostaria que alguém me dissesse o que preciso fazer’. Ser livre implica escolher seu caminho, e cada passo pode alterar todo o nosso destino — o que às vezes nos dá muito medo. Mas hoje, olhando para trás, vejo que os meus dias foram perfeitos: aquilo de que precisava apareceu justamente quando era necessário. Na época, tudo que eu precisava era ler durante cinco anos. Consegui, e isso foi fundamental para mim.

Como diz Schopenhauer, quando você vê o que ultrapassou, tem a impressão de que seguiu um enredo já escrito. Entretanto, no momento da ação, parece que está perdido em uma tempestade: uma surpresa atrás da outra, e muitas vezes sem tempo para respirar — sendo obrigado a tomar decisões o tempo todo. Só mais tarde irá compreender que cada surpresa, cada decisão, fazia sentido.”

Joseph Campbell é mais uma prova de que, se estivermos seguindo nossos sonhos, as coisas virão no momento exato.
Mesmo assim, nem sempre temos coragem de escolher nosso destino. Nestas horas, vale a pena lembrar uma frase que li em um bloco de anotações de um hotel em Londres: “A vida é aquilo que está acontecendo enquanto você está ocupado fazendo seus planos.” (John Lennon)

A nossa biografia...

"Se você continuar fazendo o que sempre fez, continuará obtendo o que sempre obteve.
Para obter algo diferente, você tem de começar a fazer algo diferente.
Amplie seus horizontes, aposte no futuro e invente a realidade que você deseja."
(Lair Ribeiro)


A NOSSA BIOGRAFIA
Martha Medeiros

Gostei da entrevista que a atriz Jane Fonda deu, semanas atrás, para divulgar sua biografia recém-lançada - Minha vida até aqui. Aliás, excelente título. Geralmente biografias pressupõem um início, um meio e um fim. Jane Fonda deixou em aberto o fim: aos 67 anos, ainda pretende colecionar aventuras e emoções para quem sabe publicar uma parte dois.
Não li o livro, mas na entrevista ela diz que seu casamento com o deputado Tom Hayden, a certa altura, deixou de dar certo e, como ela não quis admitir o fracasso, optou então por se divorciar dos seus sentimentos.

Quantas vezes fazemos exatamente isso: em vez de assumir que estamos cansados, frustrados, derrubados por uma desilusão, optamos por fingir que está tudo na mais perfeita ordem e, para não passar pelo estresse de romper um casamento/pedir demissão/trocar de cidade/ou o que for, a gente simplifica: se divorcia do que está sentindo - ou seja, de nós mesmos. E botamos um farsante pra existir no nosso lugar.

Romper - o que quer que seja - não é fácil. E tampouco é um ato solitário. Ao se divorciar de sua mulher ou marido, você inevitavelmente envolverá os sentimentos dos seus filhos e de seus familiares, pra citar apenas os mais chegados.
Sua decisão vai interferir na rotina dos outros. Fará com eles sofram junto com você.

Se deseja largar o emprego, do mesmo modo: não é só você que estará se arriscando ao trocar estabilidade por incerteza. As pessoas que dependem de você também estarão arcando com as conseqüências desta sua escolha.

Assim é: todos os laços que desejamos cortar repercutem nas pessoas que amamos, o que torna tudo mais difícil.
Se você não é exatamente uma pessoa raçuda, acaba se acomodando e optando pelo mais fácil: rompe com seus próprios sentimentos. Anula-se. Faz de conta que sua infelicidade não existe.
Abandona suas dores no quarto dos fundos e abre um sorriso pro mundo como se nada de errado estivesse acontecendo.

Não dá pra negar que é uma atitude nobre, se a intenção é manter a paz a sua volta, mas escuta: você não conta? Os outros são assim tão fracos que não podem segurar uma onda pesada com você, uma onda que, segundo Lulu Santos e Nelson Motta, passa e sempre passará?
Quando fazemos uma escolha, qualquer escolha, estamos dizendo sim para um lado e dizendo não para o outro. Então, algum sofrimento sempre vai haver.

Não adianta se autoproclamar o herói da resistência contra o fracasso. Todo mundo fracassa em alguma coisa. Melhor enfrentar isso, como lá pelas tantas fez a eterna Barbarella, que trocou Tom Hayden por Ted Turner.

Isso, claro, no caso de não querermos encerrar nossa biografia antes da hora.