A última pedra

"A rotina nos cega, costumo dizer. Pressionados por idéias equivocadas, que nos pressionam a ter sempre mais, a cumprir prazos sem nos respeitarmos, a atingir metas que, muitas vezes, não fazem parte de nossa missão de vida e daquilo em que acreditamos, nos tornamos mais e mais insensíveis. E nesta insensibilidade, vamos agindo e nos relacionando com as pessoas - mesmo com aquelas que amamos - de forma menos gentil, mais apressada e mais automatizada, sem nem nos darmos conta disso. É por isso que, a meu ver, ser gentil não pode depender do outro, não pode ser uma moeda de troca, tem de ser uma escolha pessoal, um entendimento de que podemos fazer a nossa parte e contribuir sim para um mundo melhor. Leonardo Boff tem uma frase maravilhosa que resume bem o que quero dizer: 'Não serão nossos gritos a fazer a diferença e sim a força contida em nossas mais delicadas e íntegras ações'." (Rosana Braga)


A ÚLTIMA PEDRA
Roberto Shinyashiki

Gosto de uma música que Frank Sinatra costumava cantar, My way.
O curioso é que só fui prestar atenção na letra dessa canção quando escrevia este texto.
Ela diz mais ou menos assim:
"Se eu acertei ou se errei, fiz isso da minha maneira".

Quando olho para trás, percebo que fiz muitas bobagens. Acertei bastante, mas também errei bastante.
Quando olho para diante, tenho certeza de que vou acertar e errar bastante também.
É impossível acertar sempre.
Mas o importante é que não gastemos nosso tempo nem nossa energia nos torturando.
A autocrítica pelo que não deu certo, além de ser nociva para a saúde, faz que a gente perca os passarinhos que a vida nos oferece no presente.

Um dia destes, um dos meus filhos me perguntou por que eu tomei determinada decisão estúpida tempos atrás.
Respondi que me arrependia do que tinha feito, mas expliquei que, naquele momento, minha atitude me parecia lógica.
Se eu tivesse o conhecimento e a maturidade de hoje, certamente a decisão seria diferente.
Por isso é que lhe digo: não se torture por algo que não deu certo no passado
Talvez você tenha escolhido a pessoa errada para casar. Talvez tenha saído da melhor empresa onde poderia trabalhar. Talvez tenha mandado uma filha grávida embora de casa.
Não importa o que você fez, não se torture.
Apenas perceba, o que é possível fazer para consertar essa situação e faça.
Se você sente culpa, perdoe-se.
E, principalmente, compreenda que agiu assim porque, na ocasião, era o que achava melhor fazer.

Há uma história de que gosto muito:
Um pescador chegou à praia de madrugada para o trabalho e encontrou um saquinho cheio de pedras. Ainda no escuro começou a jogar as pedras no mar. Enquanto fazia isso, o dia foi clareando até que, ao se preparar para jogar a última pedra, percebeu que era preciosa! Ficou arrependido e comentou o incidente com um amigo que lhe disse:
- Realmente, seria melhor se você prestasse mais atenção no que faz, mas ainda bem que sobrou a última pedra!


Existem pessoas que não prestam atenção no que fazem e depois passam a vida inteira arrependidas pelo que não fizeram, mas poderiam ter feito, e se martirizam por seus erros.
Se você está agindo assim, deixo-lhe uma mensagem especial:
Não gaste seu tempo com remorsos nem arrependimentos.
Reconheça o erro que cometeu, peça desculpas e continue sua vida.
Você ainda tem muitas pedras preciosas no coração: muitos momentos lindos para viver e muitos erros para cometer.
Aproveite as oportunidades e curta plenamente a vida.
Curta os passarinhos.
Eles são os presentes do universo para você!

Ilusão

"Apesar do medo escolho a ousadia.
Ao conforto das algemas, prefiro a dura Liberdade.
Vôo com meu par de asas tortas, sem o tédio da comprovação.
Opto pela loucura, com um grão de realidade:
meu ímpeto explode ao ponto,
arqueia a linha, traça contornos para romper.
Desculpem, mas devo dizer:
Eu quero o delírio."
( Lya Luft)


ILUSÃO
Rubia A. Dantés
http://somostodosum.ig.com.br

Outro dia tive muita clareza sobre como a gente cria uma teia de ilusão em cima de qualquer acontecimento quando vi, bem próximo de mim, uma pessoa tentando encontrar uma desculpa para justificar um acontecimento que poderia lhe causar muita dor, se ela simplesmente aceitasse os fatos como aconteceram. Então criou muitas possibilidades em torno do acontecimento... possibilidades que tornariam uma determinada ação do outro, menos dolorosa.

Criava as realidades e acreditava nelas com tanta certeza, que pude observar claramente como nós tecemos uma rede de ilusão em torno das situações, para nos defender, que nem percebemos como essa ilusão acaba nos afastando do que é real e nos impedindo de estar no presente.

Muitas vezes criamos ilusão para nos proteger de um suposto sofrimento, quando colocamos muita expectativa em torno de alguém ou de alguma situação e ela não se concretiza segundo nossos planos... Tentamos encontrar muitas desculpas para o malogro, inventando histórias imaginárias a partir dos fatos e acreditando tanto nelas, que elas acabam nos prendendo a coisas que já deveriam ter passado...

Criar ilusão é muito fácil quando a gente começa a “achar” muitas coisas baseadas apenas em nossa fértil imaginação. É claro que fazemos isso por medo, por culpa e por outros vários motivos, mas... quando percebemos que criar ilusão só nos afasta da verdade, podemos decidir olhar para a vida mais de frente e de forma mais simples.

Recentemente, depois de muitos acontecimentos sincrônicos e experiências em outros níveis de consciência, quando eu sentia que O Grande Mistério estava querendo me mostrar uma coisa muito insistentemente, também me vi quase criando uma teia de ilusão em cima daquilo. Criava possibilidades de significados indicando caminhos cada vez mais intricados... me deu uma canseira tão grande que parei... e percebi aonde estava sendo levada por minha rica imaginação. Calma.... pensei
Entendi que os muitos sinais estavam ali para indicar alguma coisa, e que se eu criasse muitas coisas a partir desses sinais, correria o risco de cair na teia da ilusão que eu mesma estava tecendo, e com isso perderia o que era essencial.... perderia aquilo que estava sendo-me indicado pelos sinais.
Respirei fundo e busquei o centro...
Ali... a partir do silêncio... não precisei pensar em nada, porque tive a certeza que tudo viria sem esforço, naturalmente, se eu deixasse espaço para a verdade se manifestar.

A ilusão nos tira a possibilidade de ver o que é... nos prendendo ao que não é.
Agora, nesse tempo... é muito bom que a gente se abra para o que é essencial, que tenha coragem de olhar de frente para tudo na vida, sabendo que por tráz dos muitos véus da ilusão estamos nós... despidos dos medos, das culpas, das dores, mas...
vestidos de Luz.

As feridas de origem

"Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê." (Martha Medeiros)


AS FERIDAS DE ORIGEM
Martha Medeiros

Nossa vida, aparentemente, resume-se a fazer contas para ver se o dinheiro é suficiente para as despesas, a comprar verduras para uma salada e a discutir o destino da seleção brasileira, entre outros acontecimentos de rotina, puramente cerebrais. No entanto, existe o mundo de fora e o mundo de dentro. Dentro, a rotina é outra: medo, frustração, impaciência, entusiasmo, saudade. Ficamos tão atordoados com essa quantidade de sensações contraditórias que necessitamos de um verbo: entender.

Queremos entender nossa mágoa como quem entende as razões que levaram o Felipão a convocar o Tinga. Queremos entender nossa tendência autodestrutiva como quem entende que 200 reais de saldo é insuficiente para pagar a prestação do carro. Queremos ter certeza de que amamos uma pessoa como quem tem certeza de que gosta de tomate seco. Perseguimos conclusões.

Nesta ânsia de querer racionalizar sobre tudo, buscamos algo no nosso passado que justifique nosso jeito de ser. Temos necessidade de relacionar tudo o que sentimos com nosso background original. "Sou fechado porque, quando era criança, um coleguinha traiu minha confiança e me humilhou em sala de aula". "Sou reprimida sexualmente porque minha mãe trazia diversos namorados pra casa". "Sou galinha porque preciso testar meu poder de sedução, já que na adolescência eu não acreditava em mim mesmo". "Tenho mania de limpeza porque quando pequena eu achava que tudo era pecado".

Buscamos uma ferida de antigamente para justificar as dores atuais. É como se o ser humano adulto fosse uma seqüela ambulante. Admito que também faço parte desta turma que busca compreensão para tudo, mas estou aprendendo a ser mais condescendente comigo mesma. É um alívio desresponsabilizar-se sobre o que nos aflige e simplesmente aceitar que as coisas são como são, que nós somos o que conseguimos ser, com nossas grandezas e fraquezas, nossos erros e acertos, nossa sensatez e nossas neuroses. Conhecer a si mesmo não significa ter todas as respostas. Significa conviver pacificamente com nosso lado tortuoso sem permitir que ele seja torturante.

Todos têm feridas mal cicatrizadas. Feridas que deixam marcas na alma e algumas até marcas no corpo, visíveis a olho nu. Como chegaríamos até aqui sem elas? Não somos a virgem imaculada. A vida nos atinge, penetra, encharca, chamusca: tudo nos traz conseqüência. E não há o que lamentar. Vida é dor, superação e alegria. Uma montanha-russa ininterrupta, uma vertigem sem fim.

Dez coisas que todas as mulheres sabem

"Vê pelo lado positivo a contrariedade, o engarrafamento monstruoso, a espera no hospital, a solução que não vem, a promoção que tarda e tudo o mais que te contraria. Nesses instantes, que gostarias fossem diferentes, está o que te testa e mede, e, em vista disso, o que te amadurece a personalidade e mostra como ser feliz, mesmo nos contratempos. Assim, quando te embaraçarem ou provocarem, consulta o teu íntimo e observa que quanto mais suportas mais aprendes, que quanto mais te controlas mais forte és, e que quanto mais compreendes mais te alegras. Engrandece-te com os acontecimentos. Melhor é a vida de quem aprende a viver." (Lourival Lopes)



DEZ COISAS QUE TODAS AS MULHERES SABEM
(mesmo sem saber)

Adília Belotti

Muitas mulheres têm me escrito desde que comecei a escrever Toques de Alma. Estes e-mails guardam dramas, histórias, emoções, e as linhas delicadas e belas são pontuadas de reflexões agudas como espelhos polidos. Nesta troca fui tecendo uma colcha de retalhos virtual feita de pedacinhos de todas nós. E é esta paisagem da alma que eu gostaria de compartilhar hoje com vocês.

1. Todas as mulheres sabem que no fundo de si mesmas moram muitas outras figuras femininas. Algumas poderosas, outras frágeis; algumas velhas, outras bem jovens. Todas adoram falar e falar, como se o mundo antes de existir, precisasse ser dito.

2. Todas as mulheres conhecem a dor e nenhuma é estranha ao sofrimento. Mas, no final, quando a noite se retira solene, carregando seu véu, a maioria de nós espreguiça e recebe o dia com generosidade renovada e a mesma velha esperança sorrindo nos lábios.

3. Todas as mulheres um dia (ou muitos) se sentiram alheias a si mesmas. E perderam-se num mar de irritação, mau-humor e impaciência. Exaustas mergulharam num Lexotan, em vários copos de vinho, num maço inteiro de cigarros, numa banheira escaldante ou no mais puro desespero. Algumas sucumbiram, só algumas. Como resultado, todas nós carregamos no coração o silêncio desta perda. E reconhecemos com reverência o poder destes abismos.

4. Todas as mulheres, mesmo as muito jovens, sabem que ser mulher é um desafio. Ou sentem isso no próprio corpo. E no mínimo desconfiam que vão passar um bocado de tempo tentando provar coisas para o mundo. Nascer mulher, em boa parte do planeta, ainda é afirmar-se acima do destino biológico e apesar das circunstâncias.

5. Todas as mulheres pensam que sabem amar. Mas o amor insiste em rir de nós. E desafia nossas desajeitadas tentativas de dominá-lo ou compreendê-lo. O amor parece um gato que só vem para o nosso colo quando nós já cansamos de chamar. Aí, a gente ri e ele ronrona sua absurda liberdade enquanto recebe nosso afago no pescoço. Mas que ninguém se iluda, mal a gente se acostuma com aquele calor macio e peludo e ele pula de volta prá vida.

6. Nenhuma mulher deseja a felicidade assim de um jeito genérico. É o encantamento que sentimos quando cumprimos nosso destino de mulher que nós buscamos acima de tudo. E isto inclui muitas coisas bobas, como vestidos novos e cores e mais cores de sapatos, e tantas outras nada bobas, como filhos rechonchudos e gracinhas e......ele. De preferência, um ele apaixonado, mas não muito, bonito, mas não muito, inteligente, mas não muito, apaixonado por crianças, mas não tanto quanto por nós, e, o toque final: que surja sempre assim com aquele jeito heróico e descabelado de quem acabou de matar um dragão, por nós.

7. Todas as mulheres têm medo. Medo do primeiro beijo, do primeiro encontro, do primeiro emprego, medo de casar, medo de não casar, medo do parto, medo da traição, medo de não conseguir, medo de envelhecer, medo de dizer sim. A cada instante, nossos medos podem nos fazer trancar os dentes, afinar o olhar e usar o salto. Ou podem nos empurrar encolhidas para dentro de uma caixa de sapatos. Onde ficamos grudadas, olhando o mundo por um buraquinho...

8. Todas nós temos um sonho. Nem sempre é um daqueles sonhos nobres, como o de Martin Luther King, que ansiava por um mundo no qual os seres humanos fossem iguais em suas múltiplas e coloridas versões. Não, nossos sonhos muitas vezes são pequenos como um jardim ou um carinho. Engraçados: usar toda a poupança para ficar com um bumbum igual ao da beldade de plantão na TV. Românticos: um cruzeiro pela Grécia, com um grego lindo e de peito largo, absolutamente apaixonado por nós. Impossíveis: passar pela vida sem sofrer por amor.

9. Todas nós temos uma sombra. Negra e densa. Ora ela aparece como um sabotador, que mina nossas energias e desmerece nossos esforços. Ora como uma mulher dura e fria, de palavras ásperas e julgamento impiedoso. Não importa como ela venha, você vai reconhecê-la sempre: a sombra tem o seu rosto. Também é fácil reconhecer aquelas entre nós que não ousaram olhar de frente para este rosto transformado. Elas parecem árvores ressequidas e seus ramos balançam sem alegria. Quem se alimenta dos frutos murchos destas árvores experimenta seu sabor ressentido e intolerante. Eventualmente, as tempestades partem ao meio troncos tão secos. Ninguém sente muita falta delas.

10. Todas nós sentimos vez por outra uma vontade parar de bater as asas na vidraça e aquietar a alma. Esta é a hora de construir um templo para acolher nosso ser feminino. Um lugar onde a gente possa ficar só com nossos mistérios, nossas descobertas e pescar no fundo da alma o encantamento que vai nos tornar, de novo, tão orgulhosas de nós mesmas.


Acreditar na vida

"Você encontrará seu caminho para a felicidade, assim como uma planta encontra seu caminho em direção ao sol, crescendo, mudando e avançando." (Lynne Gerard)


ACREDITAR NA VIDA
Mon Liu

É ter esperança no amanhã.
Saber que após a noite vem o dia.
Viver intensamente as emoções!
Pular de alegria.
Não invadir o espaço alheio.
Ser espontâneo.
Apreciar o nascer e o pôr-do-sol.
Amar as pessoas incondicionalmente.
Aproveitar todos os momentos...
Fazer trabalho voluntário.
Vencer a depressão!
É cantar no chuveiro.
Confiar na voz da intuição.
Perdoar as pessoas.
Estimular a criatividade.
Não se prender a detalhes.
Brincar como uma criança.
Chorar de felicidade...
Deixar para lá.
Ter pensamento positivo.
Respeitar os sentimentos dos outros.
Rir sozinho.
Saber trabalhar em equipe.
Ser sincero.
Encontrar a felicidade nas pequenas coisas.
Entender que somos pessoas únicas.
É dançar sem medo.
Não se apegar a bens materiais.
Respirar a brisa do mar.
Ouvir a melodia suave de uma fonte.
Observar a natureza.
Adorar um dia de chuva.
Ter motivação!
Enxergar além das aparências.
Descobrir que precisamos dos outros.
Esquecer o que já passou.
Buscar novos horizontes.
Perceber que somos humanos.
Vencer a nós mesmos.
Ver a beleza da alma.
Sair da passividade.
Saber que a vida é conseqüência de nossas atitudes...
Não procrastinar as decisões.
Mimar a criança interior.
Deixar acontecer...
Praticar a humildade.
Adorar calor humano.
Curtir as pequenas vitórias.
Viver apaixonado pela vida!
Visualizar só coisas boas.
Entender que há limites.
Mentalizar positivo.
Ter auto-estima.
Colocar sua energia positiva em tudo que realizar!
Ver a vida com outros olhos...
Só se arrepender do que não fez.
Fazer parcerias com os amigos.
Crescer juntos.
Dormir feliz.
Emanar vibração de amor...
Saber que estamos só de passagem.
Melhorar os relacionamentos.
Aproveitar as oportunidades.
Ouvir o coração...


Acreditar na vida!

A obsessão

"Mais uma vez um clichê se confirma: nada é o que parece ser. Nossa irritante mania de rotular tudo e todos impede que a gente enxergue o óbvio: pessoas calmas explodem, pessoas egoístas podem ser generosas, pessoas inteligentes fazem burradas, pessoas inexperientes acertam, pessoas chiques agem de modo horroroso, pessoas idosas têm muita energia - vai depender da situação. Quando me perguntam se sou corajosa, respondo: corajosa para o quê? Para viajar sozinha, para entrar numa favela à noite, para brigar pelas minhas idéias, para matar uma lagartixa? Sou corajosa e medrosa, varia conforme a circunstância. Você, por exemplo, é uma pessoa alegre? Depende onde e quando: alegre pra missa de sétimo dia, alegre pra feriado na praia, alegre pra reconhecer firma em cartório, alegre pra aumento de salário? Ninguém corresponde 100% a um rótulo. Vale para todos os adjetivos e todos os pronomes pessoais: eu, tu, ele, nós, vós e eles, os tibetanos, esses odaras que também perdem a cabeça quando estão em jogo seus ideais." (Martha Medeiros)


A OBSESSÃO POR SER PERFEITA
Martha Medeiros

"Sou perfeccionista demais!", costumam exclamar algumas mulheres, sem deixar claro se estão se auto-elogiando ou se autocriticando. Por via das dúvidas, saio de perto. Já não tenho paciência para essa busca desenfreada pela perfeição. Quem disse que, ao assumirmos certas atribuições outrora masculinas, teríamos que virar as mestras em eficiência, as PhD em produtividade?

Atualmente, mulheres tripulam foguetes, presidem países e são autoras de descobertas científicas. Mas você, que não é astronauta, nem presidente de nada, nem candidata a Einstein, anda se cobrando insanamente por quê? A independência feminina era pra ser divertida, onde é que deu errado? Sua agenda está mais cheia do que a da Condoleeza Rice. Você não consegue se conceder meia hora para fazer as unhas. Está tão estressada que quase cai em prantos quando seu patrão dá uma bronca. E você não dorme, criatura. Você acredita mesmo que cinco horas por noite é suficiente? Você passa seu creme anti-rugas antes de se deitar e, quando acorda, elas estão todas lá, triplicadas pelo cansaço. E nem adianta tentar encontrar uma horinha para aplicar botox porque sua dermatologista está sem hora livre até agosto - ela é mulher como você, portanto, outra maluca viciada em agenda cheia. Estamos todas perdendo feio para este que deveria ser nosso aliado, mas virou um inimigo: o tempo.

Pergunte a si mesma: assumir tantos compromissos e ser tão tirânica em relação ao seu desempenho está fazendo de você uma mulher mais feliz? Se a resposta é não, pare tudo e troque por um cotidiano mais realista. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista o Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo de vida para os outros. Seu pai e sua mãe, se tinham juízo, também não se apegaram a esta expectativa. Você não é Nossa Senhora. É, humildemente, uma mulher. E se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, diga adeus ao melhor dos luxos. Porque luxo não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é encarar qualquer trabalho por dinheiro, não é atender a todos e criar para si mesma a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para receber as amigas em casa. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Para fazer um curso. Engravidar. Ou para conhecer uma cidade bem longe. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem precisar deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Phillipe Starck e o batom da Mac, mas se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica a beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres 5 estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, ter um luxo de vida.

Jeitos de amar...

Soundtrack: Deep Forest - Sweet Lullaby


"As vezes ficamos enlouquecidos, porque esquecemos que somos diferentes. Porque o amor não é uma competição para que cada um supere a força do outro, mas uma cooperação que necessita dessas diferenças." (Richard Back)


JEITOS DE AMAR
Martha Medeiros

No livro Prosa Reunida, de Adélia Prado, encontrei uma frase singela e verdadeira ao extremo. Uma personagem põe-se a lembrar da mãe, que era danada de braba, mas esmerava-se na hora de fazer dois molhos de cachinhos no cabelo da filha, para que ela fosse bonita pra escola. "Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor".

É comovente porque é algo que a gente esquece: milhões de pequenos gestos são maneiras de amar. Beijos e abraços são provas mais eloqüentes, exigem retribuição física, são facilidades do corpo. Porém há diversos outras demonstrações mais sutis.

Mexer no cabelo, pentear os cabelos, tal como aquela mãe e aquela filha, tal como namorados fazem, tal como tanta gente faz: cafunés. Amigas colorindo o cabelo da outra, cortando franjas, puxando rabos de cavalo, rindo soltas. Quanto jeito que há de amar.

Flores colhidas na calçada, flores compradas, flores feitas de papel, desenhadas, entregues em datas nada especiais: "lembrei de você". É este o único e melhor motivo para azaléias, margaridas, violetinhas. Quanto jeito que há de amar.

Um telefonema pra saber da saúde, uma oferta de carona, um elogio, um livro emprestado, uma carta respondida, repartir o que se tem, cuidados para não magoar, dizer a verdade quando ela é salutar, e mentir, sim, com carinho, se for para evitar feridas e dores desnecessárias. Quanto jeito que há de amar.

Uma foto mantida ao alcance dos olhos, uma lembrança bem guardada, fazer o prato predileto de alguém e botar uma mesa bonita, levar o cachorro pra passear, chamar pra ver a lua, dar banho em quem não consegue fazê-lo só, ouvir os velhos, ouvir as crianças, ouvir os amigos, ouvir os parentes, ouvir. Quanto jeito que há de amar.

Rezar por alguém, vestir roupa nova pra homenagear, trocar curativos, tirar pra dançar, não espalhar segredos, puxar o cobertor caído, cobrir, visitar doentes, velar, sugerir cidades, discos, brinquedos, brincar: quanto jeito que há.

O fluxo da vida

"Eu não posso guiá-lo, mas posso colocá-lo diante de um abismo que colocará à prova todas as suas habilidades. Dependerá de você se, se lança ao vôo ou se corre para se esconder na segurança de suas rotinas". (Carlos Castaneda)



O FLUXO DA VIDA
Maria Cristina
http://somostodosum.ig.com.br/

Se soubéssemos viver de acordo com o fluxo da Vida, percebendo os sinais, orando por orientação, sem tanto medo e preocupação, sem fazer tanto esforço para conseguir o que não é nosso... como seria pacífico e sereno o nosso dia! Percebo isto na minha própria vida, quando, olhando para trás, identifico um fio de ligação entre todos os acontecimentos, uma razão de ser maior para as minhas escolhas, uma seqüência inteligente de fatos que, por se sucederem, me dão a condição de ser como sou e poder fazer o que faço hoje. Nada foi em vão, nenhum conhecimento adquirido ficou desperdiçado, nenhuma semente plantada deixou de dar frutos... também as dores vividas tiveram uma importância muito grande, quando me fizeram refletir, mudar o rumo, repensar atitudes, me transformar. Nada tenho de que me queixar, na verdade.

Percebo que hoje, os fatos aterrorizantes de ontem já são comuns e facilmente enfrentados. Que desejos e apegos tão condicionantes, na minha vida de então, hoje já não me subjugam mais. Portanto, estou mais livre e isto é tão bom de ser constatado!

Enfim, tudo está bem em nossas vidas, se não dramatizamos tanto e sabemos extrair de cada acontecimento a lição que veio nos trazer. Claro que tem o que nos ensinar! Ou não teria sido atraído por nós mesmos para, terapeuticamente, nos curar de feridas antigas, para iluminar sombras que ainda trazíamos em nossas almas.

Entrega e aceitação são atitudes a serem trabalhadas com bastante afinco, por cada ser. Pois não vivemos num ambiente caótico. Muito pelo contrário! Tudo, o menor acontecimento, obedece a uma ordem maior e mesmo a desordem aparente está a serviço de uma harmonização posterior. Confiando nesta Sabedoria Infinita, no Amor que nos rege e alimenta, podemos ir vivendo de forma mais serena, sem tanta revolta, tanta reclamação, buscando integrar cada acontecimento com paciência, em nossa própria vida, pois nada deixa de fazer parte do Plano de Deus!

Somos hoje o produto dos ontens... e semeamos a todo instante o amanhã... dando, recebendo, de acordo com a natureza de nossas intenções mais escondidas...

Que a Luz se faça em nossas almas encarnadas, para que possamos ir afastando as sombras que tentam impedir que nosso Sol interior brilhe cada dia mais forte, irradiando alegria e amor, para nós mesmos e para todos.

Abalando estruturas

"Quando me amei de verdade, pude compreender que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa. Então pude relaxar. Quando me amei de verdade, pude perceber que o sofrimento emocional é um sinal de que estou indo contra a minha verdade. Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma coisa ou alguém que ainda não está preparado - inclusive eu mesma. Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável. Isso quer dizer: pessoas, tarefas, crenças e qualquer coisa que me pusesse para baixo. Minha razão chamou isso de egoísmo. Mas hoje eu sei que é amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer planos. Hoje faço o que acho certo e no meu próprio ritmo. Como isso é bom! Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso errei muito menos. Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Isso me mantém no presente, que é onde a vida acontece. Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada." (Trechos do livro "QUANDO ME AMEI DE VERDADE" de Kim McMillen & Alison McMillen)



ABALANDO ESTRUTURAS
Martha Medeiros
ZERO HORA N° 15478 - 3 de janeiro de 2008

Mudanças não significam fragilidade de caráter. É preciso ter uma certa flexibilidade para evoluir e se divertir com a vida. Mais ainda: essa flexibilidade é fundamental para manter a nossa integridade

Uma amiga minha vive dizendo que odeia amarelo, que prefere tomar cianureto a usar uma roupa amarela. Quem a conhece já a ouviu dizer isso mil vezes, inclusive seu namorado. Pois uns dias atrás ela me contou que esse seu namorado chegou em sua casa e, mesmo os dois estando a uma semana sem se ver, brigaram nos primeiros cinco minutos de conversa e ele foi embora. "Mas o que aconteceu?" perguntei. "Eu sei lá", me respondeu ela. "Estávamos morrendo de saudades um do outro, mas começamos a discutir por causa de uma bobagem". Eu: "Que bobagem?". Então ela me disse: "Você não vai acreditar, mas ele ficou desconcertado por eu estar usando uma camiseta amarela".

Ora, ora. Era a oportunidade para eu utilizar meus dons de psicóloga de fundo de quintal. Perguntei para minha amiga: "Quer saber o que eu acho?". A irresponsável respondeu: "Quero". Mal sabia ela que eu recém havia assistido a uma palestra sobre as armadilhas da tão prestigiada estabilidade. Arregacei as mangas e mandei ver.

Você está namorando o cara há pouco tempo. Sabemos como funcionam esses primeiros encontros. Cada um vai fornecendo informações para o outro: eu adoro rock, eu tenho alergia a frutos do mar, tenho um irmão com quem não me dou bem, prefiro campo em vez de praia, não gosto de teatro, jamais vou ter uma moto, não uso roupa amarela. A gente então vai guardando cada uma dessas frases num baú imaginário, como se fosse um pequeno tesouro. São os dados secretos de um novo alguém que acaba de entrar em nossa vida. Assim vamos construindo a relação com certa intimidade e segurança, até que um belo dia nosso amor propaga as maravilhas de uma peça de teatro que acabou de assistir, ou sugere 20 dias de férias numa praia deserta, ou usa uma roupa amarela. Pô, como é que dá pra confiar numa criatura dessas?

Pois dá. Aliás, é mais confiável uma criatura dessas do que aquela que se algemou em meia dúzia de "verdades" inabaláveis, que não muda jamais de opinião, que registrou em cartório sua lista de aversões. Vale para essas bobagens de roupa amarela e praia deserta, e vale também para coisas mais sérias, como posicionamentos sobre o amor e o trabalho. Mudanças não significam fragilidade de caráter. É preciso ter uma certa flexibilidade para evoluir e se divertir com a vida. Mas ainda: essa flexibilidade é fundamental para manter nossa integridade, por mais contraditório que pareça. Me vieram agora à mente os altos edifícios que são construídos em cidades propensas a terremotos, que mantêm em sua estrutura um componente que permite que eles se movam durante o abalo. Um edifício que balança! Com que propósito? Justamente para não vir abaixo. Se ele não se flexibilizar, a estrutura pode ruir.

O fato de transgredirmos nossas próprias regras só demonstra que estamos conscientes de que a cada dia aprendemos um pouco mais, ou desaprendemos um pouco mais, o que também é amadurecer. Não estamos congelados em vida. Podemos mudar de idéia, podemos nos reapresentar ao mundo, podemos nos olhar no espelho de manhã e dizer: bom dia, muito prazer. Ninguém precisa ficar desconcertado diante de alguém que se desconstrói às vezes.

Eu também não gosto de roupa amarela. Quem abrir meu armário vai encontrar basicamente peças brancas, pretas, cinzas e em algumas tonalidades de verde. No entanto, hoje de manhã saí com um casaco amarelo canário! Tenho há mais de 10 anos e quase nunca usei. Pois hoje saí com ele para dar uma volta e retornei para casa sendo a mesmíssima pessoa, apenas um pouco mais alegre por ter me sentido diferente de mim mesma, o que é vital uma vez ao dia.

Não pode tocar

"– Se ambos concordarem em um nível consciente de que o propósito do relacionamento é criar uma oportunidade, não uma obrigação - uma oportunidade de crescimento; de expressão plena de suas personalidades; de realizar todo o potencial de suas vidas; de deixar de lado todos os pensamentos falsos, ou todas as idéias pequenas, que já tiveram sobre si mesmos e de reconciliação definitiva com Deus através da comunhão de suas almas... se fizerem este voto em vez dos votos que têm feito até agora, o relacionamento começará muito bem, com o pé direito. E é um ótimo começo. Ainda assim não é garantia de sucesso. Se você deseja garantias na vida, então não deseja a vida. Deseja repetir um roteiro que já foi escrito. Por natureza, a vida não pode ter garantias, porque isso iria contra todo seu objetivo
– Está certo. Eu entendi. Então agora o meu relacionamento está nesse 'ótimo começo'. Como faço para mantê-lo assim?
– Saiba e compreenda que haverá desafios e momentos difíceis. Não tente evitá-los. Aceite-os com gratidão. Considere-os grandes dádivas de Deus; oportunidades gloriosas de realizar o seu propósito no relacionamento - e na vida. Nessas ocasiões, tente não ver a sua parceira como o inimigo ou oponente. De fato, tente não ver ninguém - ou nada - como o inimigo ou até mesmo o problema. Aperfeiçoe a técnica de ver todos os problemas como oportunidades de Ser, e decidir, Quem Realmente É!"
(Neale Donald Walsch, livro "Conversando com Deus")



NÃO PODE TOCAR
Martha Medeiros

Entro num museu, paro em frente a um quadro, a uma escultura, a uma cerâmica, e enxergo o aviso: não pode tocar. Não posso, então não toco, tudo bem. Não tocarei pra não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos. Nada de sentir a textura do material, nada de deixar minhas digitais impressas, nada de arranhar a tela com minhas unhas mal lixadas, de desgastar as cores com meus dedos imundos. Então a gente respeita, não chega muito perto, não atravessa a linha amarela, nada de macular a obra com nosso hálito quente e nosso olhar aproximado demais.

Assim é também entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre amigos que procuram se proteger: não se pode tocar em determinados assuntos.

Há questões que arriscam ser maculadas com palavras, que um olhar aproximado demais poderia danificar. Instaura-se sempre um silêncio de museu ao nos aproximarmos de temas perigosos. Tolera-se apenas o som da tevê, de um teclado de computador, de alguém falando ao telefone, ruídos parecidos com silêncio, já que não fazem barulho excessivo, não incomodam o suficiente. Palavras incomodam o suficiente. Vamos falar sobre o que nos aconteceu dez anos atrás. Vamos conversar sobre a morte do seu pai. Vamos tentar entender juntos a razão de você estar bebendo desse jeito. Me diz o que te perturbou na infância. Não, não quero tocar neste assunto.

Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um.

Todas as relações do mundo possuem sua prateleira de cristais. Há sempre um suspense, uma delicadeza ao transitar pela fragilidade do outro. Melhor não falar muito alto, é mais prudente ir devagar e com cuidado. Para não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos.

O dia da independência

"Se você quer pegar um peixinho, pode ficar em águas rasas.
Mas se quer um peixe grande, terá que entrar em águas profundas."
(David Lynch)



O DIA DA INDEPENDÊNCIA
Martha Medeiros

Nossa liberdade é parcial, todos sabem. Não me refiro ao país, e sim à nossa liberdade individual, minha e sua. Sempre que toco nesse assunto me vem à cabeça aquela frase que citei outras vezes: O máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver. É isso aí. E quais são essas prisões? Pode ser um casamento ou, ao contrário, um compromisso com a solidão. Pode ser um emprego ou uma cidade que não conseguimos abandonar. Pode ser a maternidade. Pode ser a política. Pode ser o apego ao poder. Enfim, todas as nossas escolhas, incluindo as felizes, implicam em algum confinamento, em alguma imobilidade, e não há nada de errado com isso, simplesmente assim é a vida, feita de opções que nos definem e nos enraízam.

Mas, às vezes, exageramos. Costumamos nos acorrentar também a algumas certezas e pensamentos como forma de dizer ao mundo quem somos. É como se redigíssemos uma constituição própria, para através dela apresentar à sociedade nossos alicerces: sou contra o voto obrigatório, sou a favor da descriminalização das drogas, sou contra a pena de morte, sou a favor do controle de natalidade, sou contra a proibição do aborto, sou a favor das pesquisas com célula tronco. Este é apenas um exemplo de identidade que forjamos ao longo da vida. Você deve ter a sua, eu tenho a minha.

Dá uma segurança danada saber exatamente o que queremos e o que não queremos, no que cremos e no que desacreditamos. Mas onde é que está escrito, de fato, que temos que pensar sempre a mesma coisa, reagir sempre da mesma forma?

Ao trocar de opinião ou de hábitos, infringimos nossas próprias regras e passamos adiante uma imagem incômoda: a de que não somos seres confiáveis. As pessoas a nossa volta já haviam aprendido tudo sobre nós, sabiam lidar com nossos humores e nossos revezes, estava tudo dentro do programa, e, de repente, ao mudarmos de idéia ou fazermos algo que nunca havíamos feito, subvertemos a ordem natural das coisas.

Quando visito algumas escolas, encontro estudantes um pouco assustados com as escolhas que farão e que lhes parecem definitivas. Tento aliviá-los: pensem, repensem, mudem quantas vezes vocês quiserem, é permitido voltar atrás. Digo isso porque eu mesma já reprimi muito meus movimentos, minhas alternâncias, numa época em que eu achava que uma pessoa séria tinha que morrer com suas escolhas. Ainda há quem considere leviana a pessoa que se questiona e se contradiz, mas já bastam as prisões necessárias - para que cultivar as desnecessárias?

Optei pelas medidas provisórias. Por isso, todos os anos eu faço uns picotes na minha constituição imaginária e jogo os pedacinhos de papel pela janela: é assim que comemoro o dia da independência. Da minha.

Rebelar-se, mudar ou simplesmente aceitar?

"Não importa o tipo de situação, não importa o tamanho do obstáculo,sua felicidade não deveria desaparecer.
Obstáculos vem e vão, mas porque algo que pertence a você deveria desaparecer?
Felicidade é algo que pertence a você, independente do que possa vir a sua frente.
Portanto seja qual for o obstáculo, simplesmente pense que ele veio para ir embora.
Quando um convidado vem em sua casa ele não vai embora levando tudo que você tem nela."
(Brahma Kumaris)



REBELAR-SE, MUDAR OU SIMPLESMENTE ACEITAR?
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Você já deve ter ouvido a Oração que diz: “Senhor, dai-me força para mudar aquilo que posso; serenidade para aceitar o que não posso; e sabedoria para perceber a diferença entre uma situação e outra.”
Quando se trata de uma situação com a qual você não está satisfeito, mudar ou se rebelar parece sempre bem mais razoável do que simplesmente aceitar. Entretanto, muitas vezes, aceitar é a atitude mais sábia que você pode ter. É a que mais lhe garantiria a paz e a felicidade que tanto procura, especialmente quando está certo de que fez a sua parte e deu o seu melhor.

Não concorda? Então lhe proponho uma reflexão! Vamos imaginar, apenas imaginar, que você passou os dois últimos anos de sua vida investindo em seu desenvolvimento profissional e se dedicando ao máximo à empresa onde trabalha.
Tem sido um excelente colaborador, correspondido às expectativas de seus gestores e feito uma significativa diferença nos resultados de sua equipe. Espera realmente ser reconhecido e conquistar uma posição melhor e um salário mais satisfatório.
Pois bem! Uma vaga é aberta para o cargo que você tanto almeja e imediatamente você pensa: “essa é minha grande chance e sei que estou pronto para ocupar esse novo lugar. Afinal, tenho feito muito por merecê-lo”!
E você está certo, mas esse é apenas o seu ponto de vista. E o inesperado acontece: outra pessoa é escolhida! Num primeiro momento, você se sente sem chão... não consegue acreditar e nem entender. Isso parece absolutamente injusto. Você se considerava a pessoa certa, na hora certa e no lugar certo e, mesmo assim, tudo deu errado!

E agora? O que fazer? A sua vontade, muito provavelmente, é de botar pra fora toda a sua raiva e indignação! O que você mais gostaria de fazer é se rebelar! Entretanto, será mesmo que gritar, esbravejar e reivindicar reconhecimento neste estado em que se encontra, seriam atitudes positivas, construtivas e que te ajudariam de alguma forma? Pode apostar que não!!!
E quanto a mudar? Considerando que você criaria uma situação constrangedora e até desfavorável se colocasse em dúvida a competência da outra pessoa, bem como a capacidade de escolha de seu chefe; e considerando também que ele já sabia de suas pretensões e, ainda assim, elegeu outro nome para o cargo, podemos concluir que essa situação em si não pode ser mudada!

Você poderia mudar para outra empresa, onde talvez pudesse ocupar o cargo que tanto almeja? Se sim, ótimo. Vá em frente, aposte no novo! Se não, nada pode ser feito... pelo menos não neste momento.

Mas como aceitar? Simples assim? Não fazer nada? Sim, isso mesmo. Confiar no fluxo da vida. Admitir que você não sabe tudo e nem pode controlar tudo. Acreditar que nada é por acaso e que nem sempre conseguimos entender por que determinadas coisas acontecem, principalmente quando elas nos parecem tão injustas.

Seus sentimentos são absolutamente compreensíveis e você deve mesmo acolhê-los. Mas não agir enquanto estiver submetido a eles. Pode, claro, ir para casa e esmurrar o travesseiro, ou chorar, ou conversar com alguém em quem você confie e desabafar.
Enfim, pode e deve colocar pra fora essa angústia que está sentindo. Mas não pode sair por aí descontando sua raiva em quem se atrever a cruzar o seu caminho. E sabe o que é pior? Infelizmente, na maioria das vezes, é exatamente isso que a maioria das pessoas faz: desconta sua frustração naqueles que mais ama, como filhos, esposa, mãe, pai e irmãos.
E, acima de tudo, não pode transformar os seus próximos dias em verdadeiros martírios, consumindo-se com pensamentos autodestrutivos, culpando-se pelo que acha que deveria ter feito ou ainda se sentindo incompetente. Esta seria a mais nefasta das opções: rebelar-se contra si mesmo! Definitivamente, não ajudaria em nada! Muito pelo contrário...

Por fim, permita-se um banho demorado, talvez um chá quentinho e respire profundamente, sentindo seu corpo inteiro relaxar. Entregue-se ao dia seguinte e à vida com a certeza de que o que for para ser seu, será! E continue fazendo o seu melhor!
Tente. Apenas tente e descubra que viver não precisa ser tão complicado e dolorido...

O que estamos fazendo com nosso tempo?

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
(Clarice Lispector)


O QUE ESTAMOS FAZENDO COM NOSSO TEMPO?
Rosemeire Zago
http://www.somostodosum.com.br/boletim/

Nossa!!! Como o tempo passa... e rápido! Isso todos nós já estamos habituados a falar e ouvir, mas estive pensando a respeito quando me deparei com o tempo em que estive distante do STUM. Não bem distante... apenas não estava escrevendo os artigos, pois de uma forma ou de outra, estamos sempre interligados e assim nos mantemos perto. Mas neste tempo que se passou muitas coisas aconteceram, mudanças de casa, consultório, pessoas faleceram em minha família, e tudo isso me fez refletir: como avaliamos o que é prioridade em nossa vida? Prioridade é pagar nossas contas? Claro! É trabalharmos pelo dinheiro, para que este possa nos trazer conforto e conquistas? Também, mas será só isso?

Por que deixamos que a rotina diária, os afazeres domésticos, os compromissos profissionais, sociais, serem mais importantes do que estarmos ao lado de quem amamos? Por que ainda carregamos orgulho, vaidade, culpa, remorso, mágoas, diante de tantos valores mais nobres como amizade, verdade, amor? O que é a vida diante de tanta "pequenez" com a qual vivemos? Por que, ainda, negligenciamos os sinais que o Universo, com sua maestria e sabedoria nos contempla?
Como é viver sob os seus valores? Será que você tem essa resposta? Quantas decisões não são tomadas apenas para agradar a outras pessoas? Ou para evitar desagradá-las? São os outros que nos impedem de viver de acordo com o que acreditamos, ou somos nós mesmos que nos aprisionamos com verdadeiros grilhões, os quais podemos chamar de carência, dependência, vergonha, culpa, medo, entre outros?

O que você faria se alguém que você ama ligasse neste momento pedindo sua ajuda, seu colo? Ou se fosse para te contar algo muito bom que lhe aconteceu, qual seria sua reação? Você poderia largar o que está fazendo, inclusive deixar de ler este artigo, e ir ao seu encontro? Ou você diria que tem muito a fazer, mas quem sabe outro dia, outro horário, outro momento? Provavelmente, seria essa sua resposta, e a minha também, afinal aquilo que estamos fazendo sempre é mais importante.
É evidente que não podemos largar nosso trabalho a toda e qualquer solicitação. Mas e se fosse um telefonema avisando que a pessoa citada acima está na UTI ou que acabara de falecer, qual seria sua atitude? Eu, você, todos nós, largaríamos tudo e iríamos até lá. O que faz com que tenhamos reações tão extremas?
Pensei sobre isso quando estava no velório de um tio... era uma quarta-feira, 10hs da manhã, e todos estavam lá reunidos, pessoas que não se viam há anos, pois até então não tiveram tempo para ser ver... mas neste dia, todos haviam deixado tudo que estavam fazendo para estarem presentes naquele momento. Por que em geral, só em situações extremas podemos nos fazer presentes? Por que não conseguimos o mesmo tempo disponível em outros momentos para ver aqueles que nos são caros? Por que somos tão egoístas em privarmos aqueles a quem amamos de nossa presença e de nossa demonstração constante de amor, e fazemos isso com tanta facilidade? Pare por alguns segundos e pense nas pessoas que marcaram positivamente de alguma maneira sua vida. Não importa quantas sejam. Uma, duas, dez? Para quantas você verbalizou o quanto eram, ou lhe são, importantes? Você demonstra seu amor para todos a quem você ama? Se não, o que acha de começar hoje?

O que temos de mais valioso na vida? A casa que compramos, roupas, o carro, o sucesso profissional? Creio que não. Com certeza nosso maior tesouro está guardado bem dentro de nós, são nossos sentimentos, nossos amores eternos, e só podemos doar, dividir, perante nossas atitudes, palavras e, principalmente, nossa presença. É importante sempre nos lembrarmos que aquilo que o dinheiro pode comprar, qualquer pessoa que o tenha poderá nos dar; mas o amor, este sentimento tão nobre e valioso, só pessoas especiais podem nos oferecê-lo e isso, penso eu, é o que deveria fazer toda a diferença! E nem sempre faz. Deixamos sim, e com muita freqüência, de estarmos juntos de quem nos é importante, seja para rir, chorar, apoiar, trocar, e lamentavelmente, nos aproximamos em momentos de extrema urgência. Não que nestes momentos nossa presença não seja necessária, longe disso, mas que tal dedicarmos um pouco mais do nosso tempo para estarmos ao lado de quem amamos e que verdadeiramente nos ama? E você, o que está fazendo com seu tempo?...

Tem uma frase de Buda que representa um pouco isso que estou dizendo, da qual gosto muito e deixo para sua reflexão: "O que mais me surpreende na natureza humana é o homem que perde a saúde em busca de riqueza material e depois gasta toda a riqueza material para recuperar a saúde.
Vive uma vida como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido". (Buda)

Não viva como se fosse imortal, nenhum de nós o é, por isso, valorize e, acima de tudo, conviva com aqueles que lhes são caros, eles podem não estar amanhã para receber sua visita!

Um Deus que sorri

Soundtrack: Sarah Brighhtman & Andrea Bocelli - Canto Della Terra


“No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga: ‘Santidade, qual é a melhor religião’? Esperava que ele dissesse: ‘É o budismo tibetano’ ou ‘São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo’. O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou: ‘A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor’. Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar: ‘O que me faz melhor’? Respondeu ele: ‘Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião’...
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável”.
(Leonardo Boff)


UM DEUS QUE SORRI
Martha Medeiros

Eu acredito em Deus. Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro. O Deus em que acredito não foi globalizado.

O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém. É uma idéia, uma energia, uma eminência. Não tem rosto, portanto não tem barba. Não caminha, portanto não carrega um cajado. Não está cansado, portanto não tem trono.

O Deus que me acompanha não é bíblico. Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova. O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.

O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos. Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão. Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo. Para o Deus em que acredito, só vale o que se está sentindo.

O Deus em que acredito não condena o prazer. Se ele não tem controle sobre enchentes, guerrilhas e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: o lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem?

O Deus em que acredito não é tão bonzinho: me castiga e me deixa uns tempos sozinha. Não me abandona, mas me exije mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros. A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve.

Este é o Deus que me acompanha. Um Deus simples. Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe-tudo e vê-tudo. Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço numa amiga, uma música na hora certa, um silêncio. É onipresente, mas não onipotente. Meu Deus é humilde. Não posso imaginar um Deus repressor e um Deus que não sorri. Quem não te sorri não é cúmplice.

Tênix X Frescobol

"A gente sabe que o que mais se valoriza numa relação, hoje, é o sexo. De 1 a 10, eu diria que a importância do sexo numa relação é 10, realmente. Porque se não houver a liga, a química, vira amizade. Porém, qual a relação que não é composta de amizade? De 1 a 10, eu diria que a importância da amizade numa relação é 11. Não estou falando sobre namoros circunstanciais, sem compromisso. Estou falando de relação pra valer, com intenção de morar sob o mesmo teto, de construir uma vida em comum. Como é que se faz isso com quem não se tem assunto, com quem o papo não progride, com quem não contribui com nenhum pensamento novo, com quem não rebate suas bolas?
Quando a gente encontra uma pessoa com quem a conversa flui, parece que deixamos de ser estrangeiros no nosso próprio planeta. Conversa boa é um aconchego, um conforto, é como chegar em casa depois de um dia cansativo. Eu acabei de ler um livro muito bacana, A elegância do ouriço, da francesa Muriel Barbery, e de certa forma ela faz um 'elogio à conversa', porque as duas narradoras do livro, por mais que habitem mundos distintos, se fundem quando trocam idéias, passam à categoria de 'irmãs', mesmo uma sendo uma zeladora de 54 anos e a outra uma menininha rica de 12. É mágico o que a afinidade intelectual e emocional pode fazer por duas pessoas. E quando isso se dá entre um homem e uma mulher em vias de se apaixonar, aí é o nirvana, o éden, o paraíso na terra. Sexo bom e conversa boa: a fórmula dos amores indestrutíveis." (Martha Medeiros)


TÊNIS X FRESCOBOL
Rubem Alves
http://www.rubemalves.com.br/tenisfrescobol.htm

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo' não quer dizer mais nada." É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma."

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
"Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida'. A situação está salva e o ódio vai aumentando."

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

Elegância

"Gentileza é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. Ser gentil, portanto, é um atributo muito mais sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta, porque embora possamos (e devamos) ser educados, a gentileza se trata de uma característica diretamente relacionada com caráter, valores e ética; sobretudo, tem a ver com o desejo de contribuir com um mundo mais humano e eficiente para todos. Ou seja, para se tornar uma pessoa mais gentil, é preciso que cada um reflita sobre o modo como tem se relacionado consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo." (Rosana Braga)



ELEGÂNCIA
Henri de Toulouse Lautrec

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está. Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante, você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer... É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
É elegante a gentileza... atitudes gentis, falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém... é muito elegante...
Dar o lugar para alguém sentar.... é muito elegante...
Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Oferecer ajuda... é muito elegante...
Olhar nos olhos ao conversar é essencialmente elegante.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras". Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura.

Resiliência

"Se você nunca se assusta, se confunde ou se magoa, é sinal de que nunca se arrisca." (Julia Sorel)


RESILIÊNCIA
Tom Coelho
http://www.rhportal.com.br/artigos/wmview.php?idc_cad=t2nl44od9

Hoje a tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta e entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o impossível para evitá-la adentrar os meus domínios. E quando isso acontecia, discutíamos demoradamente. Era uma experiência desgastante. Aprendi que o melhor a fazer é deixá-la seguir seu curso. Agora, sequer dialogamos. Ela entra, senta-se na sala de estar, sirvo-lhe uma bebida qualquer, apresento-lhe a televisão e a esqueço! Quando me dou por conta, o recinto está vazio. Ela partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua missão sem afetar minha vida.
Hoje a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em minha garganta e foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a mesma: amoxicilina e paracetamol. Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado. Acho que é por isso que os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e qualquer vida...
Hoje problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone porque palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e depois perdem-se, difusas, levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos em papel e letras de baixa qualidade, anunciando sua perenidade, sua condição de fantasmas eternos até que sejam exorcizados.
Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes momentos. O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e o equilíbrio que tanto se persegue. O desânimo comparece estampado em ombros arqueados e olhos sem brilho, que pedem para derramar lágrimas de alívio. Então, choro. E o faço porque Maurice Druon ensinou-me, através de seu inocente Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no peito e o coração fica duro.

As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos e conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de resiliência. Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.
Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de cada limão, ou seja, de cada contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada, saborosa, refrescante e agradável.
Aprendi que não adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não ser destruído por eles, resolvendo-os. E rapidamente, de maneira certa ou errada. Problemas são como bebês, só crescem se forem alimentados. Muitos deles resolvem-se por si mesmos. Mas quando você os soluciona de forma inadequada eles voltam, dão-lhe uma rasteira e, aí sim, você os anula corretamente. A felicidade, pontuou Michael Jansen, não é a ausência de problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem administrados.

Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las, identificá-las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem não do que nos falta, mas do mal uso que fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste combate. Agir rápido é a palavra de ordem. Melhor do que ser preventivo é ser preditivo
Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que "tristeza não tem fim, felicidade sim". Porém, discordo. Penso que os dois são finitos. E cíclicos. O segredo é contemplar as pequenas alegrias ao invés de aguardar a grande felicidade. Uma alegria destrói cem tristezas...
Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo, mas terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante das dificuldades, impostas ou auto-impostas, que enfrentei pelo caminho, transformando desânimo em persistência, descrédito em esperança, obstáculos em oportunidades, tristeza em alegria.
Nós apreciamos o calor porque já sentimos o frio. Apreciamos a luz porque já estivemos no escuro. Apreciamos a saúde porque já fomos enfermos. Podemos, pois, experimentar a felicidade porque já conhecemos a tristeza. Afinal, "o problema não é o problema. O problema é sua atitude com relação ao problema." (Kelly Young)

Olhe para o céu, agora! Se é dia, o sol brilha e aquece. Se é noite, a lua ilumina e abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a vida.

Quem realmente está seguro?

"A segurança nada mais é que uma superstição. Ela não existe na natureza. Nem os filhos dos homens podem experimentá-la totalmente. Evitar o perigo não é, a longo prazo, mais seguro do que enfrentá-lo diretamente. Ou a vida é uma aventura perigosa ou não é nada. Voltarmo-nos para a mudança e comportarmo-nos como espíritos livres na presença do destino, é uma força indestrutível." (Helen Keller)


QUEM REALMENTE ESTÁ SEGURO?
Celso A. Cavalheiro
http://somostodosum.ig.com.br/

Em nossa vida diária a virtude da coragem não é muito valorizada. É uma qualidade reservada para soldados, bombeiros e ativistas. A segurança é o que mais importa hoje. Talvez você tenha sido educado para evitar atitudes atrevidas ou corajosas. Talvez você tenha ouvido frases como: "Não seja muito arrojado". "Não corra riscos desnecessários". "Não chame a atenção sobre você em público". "Siga a tradição familiar". "Não fale com estranhos". "Fique de olho em pessoas diferentes".

Mas o efeito colateral de se enfatizar demais a importância da segurança pessoal é que você se torna uma pessoa extremamente tensa e insegura. Se em vez de estabelecer suas próprias metas, fazer planos para alcançá-las e ir atrás delas com garra e determinação, você preferir economizar a sua energia jogando do lado seguro... Se você prefere manter o seu trabalho fixo, mesmo que isso não lhe traga a menor satisfação... Se você prefere continuar com esse relacionamento desastroso, embora por dentro aquela paixão já tenha morrido e você se sinta vazio... Se você acha uma boa idéia aceitar o seu quinhão na vida e fazer o melhor que pode deixando a vida rolar... Então, talvez, na melhor das hipóteses, seu barco ainda o leve à terra firme; mas, mesmo assim, não aposte que isso o fará mais feliz.

Dois anos no serviço público e duas úlceras duodenais empurravam-me para longe da burocracia. No entanto, a pressão familiar, o tempo perdido sobre os livros na disputa por uma vaga, a promessa de uma vida calma e sem sobressaltos, me levavam de médico em médico e me condenavam à depressão e ao desespero. Graça a Deus, os anos subseqüentes jogaram o funcionalismo público deste país ao abandono e ao descaso e o serviço público perdeu por um momento o seu encanto. O período do boom das microempresas foi o bálsamo que minhas mazelas tanto esperavam.

Dois meses depois, e de volta ao mundo dos desafios, minhas úlceras eram pequenas cicatrizes indolores. Minha vida havia retomado seu leme e, apesar do mar desconhecido, navegar era mais desafiador e gratificante que o falso porto seguro. E descobri que, às vezes, andar por um tempo sem rumo certo é bem melhor que ancorar no porto errado.

Não há dúvidas de que existem perigos reais na vida que devemos evitar. Mas há uma diferença enorme entre irresponsabilidade e coragem. Não me refiro à coragem necessária para salvar, por exemplo, alguém de um afogamento onde você arrisca a sua própria vida. A coragem a que me refiro é aquela que precisamos para enfrentar e destruir nossos medos imaginários e retomar o controle sobre nossa vida e nosso destino. Medos como o do fracasso, da rejeição, da privação, da solidão e da humilhação. O medo de nos expressarmos abertamente, de sermos o que realmente somos. O medo de não sermos ouvidos, de não sermos aceitos na família, no grupo social; o medo do arrependimento e do ridículo que tanto nos paralisa e também o medo do próprio sucesso.

Quantos desses medos estão emperrando sua vida agora? Como seria sua vida se esses medos desaparecessem de repente? Veja, você ainda manteria sua inteligência para esquivar-se dos perigos reais, mas sem viver a emoção do medo, certamente se arriscaria mais e mergulharia de cabeça em seus projetos, em seus sonhos. Você falaria mais com estranhos e descobriria que eles também têm um mundo maravilhoso que você pode explorar e desfrutar. Você descobriria a alegria incomparável de vencer esse carrasco que o aprisiona e acabaria fazendo disso um motivo de crescimento pessoal. Cada vitória sobre o medo é um tijolo a mais na construção desse novo homem ou mulher que você quer ser.

Certamente você já tentou se convencer de que não tem medo de nada, de que há realmente bons motivos pelos quais você não faz aquilo que deseja. Você diz: seria indelicado eu me apresentar a um estranho em uma festa, por exemplo. Eu não falo em público porque eu não tenho nada a dizer. Não posso pedir aumento agora ao meu chefe porque sei que a empresa não está em um bom momento. Eu não vou me candidatar àquela vaga porque há uma fila enorme de candidatos e a minha chance é praticamente nenhuma.

Todas essas coisas são justificativas para o medo que você sente. Imagine como sua vida seria bem diferente se pudesse fazer todas essas coisas com confiança e coragem, se vencesse esse inimigo imaginário que você cria e alimenta dentro de você!

O mais importante

"A importância das coisas pode ser medida pelo tempo que estamos dispostos a investir. Quanto maior o tempo dedicado a alguma coisa, mais você demonstra a importância e o valor que ela tem para você. Se você quiser conhecer as prioridades de uma pessoa, observe a forma como ela utiliza o tempo.
A essência do amor não é o que pensamos, fazemos ou proporcionamos aos outros, mas o quanto damos de nós mesmos. Os homens, em especial, com freqüência não compreendem isso. Muitos dizem: “Não entendo minha mulher e meus filhos. Eu proporciono tudo o que eles precisam. O que mais eles podem querer”?
Eles querem você! Seus olhos, seus ouvidos, seu tempo, sua atenção, sua presença, seu interesse, seu tempo. Nada pode substituir isso.
O mais desejado presente de amor não são diamantes, rosas ou chocolates; é a atenção."
(Prof. Menegatti - http://www.menegatti.srv.br/artigos/)



O MAIS IMPORTANTE
Autoria desconhecida

Um dia, durante uma conversa entre advogados, me fizeram uma pergunta:
- O que de mais importante você já fez na sua vida ?
A resposta me veio a mente na hora, mas não foi a que respondi pois as circunstâncias não eram apropriadas. No papel de advogado da industria do espetáculo, sabia que os assistentes queriam escutar anedotas sobre meu trabalho com as celebridades. Mas aqui vai a verdadeira, que surgiu das profundezas das minhas recordações:

"O mais importante que já fiz na minha vida, ocorreu em 08 de outubro de 1990. Comecei o dia jogando golfe com um ex-colega e amigo meu que há muito não o via. Entre uma jogada e outra, conversávamos a respeito do que acontecia na vida de cada um. Ele me contava que sua esposa e ele acabavam de ter um bebê.

Enquanto jogávamos chegou o pai do meu amigo que, consternado, lhe diz que seu bebê parou de respirar e que foi levado para o hospital com urgência. No mesmo instante, meu amigo subiu no carro de seu pai e se foi. Por um momento fiquei onde estava, sem pensar nem mover-me, mas logo tratei de pensar no que deveria fazer: seguir meu amigo ao hospital?

Minha presença, disse a mim mesmo, não serviria de nada pois a criança certamente esta sob cuidados de médicos, enfermeiras, e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação. Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa vinham de famílias numerosas e sem duvida estariam rodeados de amigos e familiares que lhes ofereceriam apoio e conforto necessários acontecesse o que acontecesse. A única coisa que eu faria indo até lá, era atrapalhar. Decidi que mais tarde iria ver o meu amigo.

Quando dei a partida no meu carro, percebi que o meu amigo havia deixado o seu carro, aberto com as chaves na ignição, estacionado junto as quadras de tênis.

Decidi, então, fechar o carro e ir até o hospital entregar-lhe as chaves. Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os consolavam. Entrei sem fazer ruído e fiquei junto a porta pensando o que deveria fazer. Não demorou muito e surgiu um médico que aproximou-se do casal e em voz baixa, comunica o falecimento do bebê. Durante os instantes que ficaram abraçados - a mim pareceu uma eternidade - choravam enquanto todos os demais ficaram ao redor daquele silêncio de dor.

O médico lhes perguntou se desejariam ficar alguns instantes com a criança. Meus amigos ficaram em pé e caminharam resignadamente até a porta. Ao ver-me ali, aquela mãe me abraçou e começou a chorar. Também meu amigo se refugiou em meus braços e me disse: - Muito obrigado por estar aqui !

Durante o resto da manhã fiquei sentado na sala de emergências do hospital, vendo meu amigo e sua esposa segurar nos braços seu bebê, despedindo-se dele. Isso foi o mais importante que já fiz na minha vida.

Aquela experiência me deixou três lições:

Primeira: o mais importante que fiz na vida, ocorreu quando não havia absolutamente nada, nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem nos anos em que exercia a minha profissão, nem todo o racional que utilizei para analisar a situação e decidir o que eu deveria fazer, me serviu para aquelas circunstâncias: duas pessoas receberam uma desgraça e nada eu poderia fazer para remediar. A única coisa que poderia fazer era esperar e acompanha-los. Isto era o principal.

Segunda: estou convencido que o mais importante que já fiz na minha vida esteve a ponto de não ocorrer, devido as coisas que aprendi na universidade, aos conceitos do racional que aplicava na minha vida pessoal assim como faço na profissional. Ao aprender a pensar, quase me esqueci de sentir. Hoje, não tenho dúvida alguma que devia ter subido naquele carro sem vacilar e acompanhar meu amigo ao hospital.

Terceira: aprendi que a vida poder mudar em um instante. Intelectualmente todos nos sabemos disso, mas acreditamos que os infortúnios só acontecem com os outros. Assim fazemos nossos planos e imaginamos nosso futuro como algo tão real como se não houvesse espaços para outras ocorrências. Mas ao acordarmos de manhã, esquecemos que perder o emprego, sofrer de uma doença, ou cruzar com um motorista embriagado e outras mil coisas, podem alterar este futuro em um piscar de olhos. Para alguns é necessário viver uma tragédia para recolocar as coisas em perspectiva.

Desde aquele dia busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida. Aprendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família. E aprendi, que o mais importante da vida não é ganhar dinheiro, nem ascender socialmente, nem receber honras. O mais importante da vida é ter tempo para cultivar a amizade e o amor.

Filtros

"Lembre ao mais fraco, ao mais pobre, que em seu curso diário ele pode, se desejar, derramar à sua volta quase que o céu. Palavras boas, atos de simpatia... eles custam muito pouco, mas eles não têm preço se comparados ao seu valor. Eles não são quase que um artigo especial para a nossa felicidade diária? De uma hora para outra, de um momento para outro nós somos ajudados, abençoados pelas pequenas bondades." (Frederick W. Robertson)


FILTROS
Martha Medeiros

Tem um momento na vida que você tem que se divorciar. Você pode até estar razoavelmente satisfeito, mas precisa dar um passo adiante. Calma, estou falando sobre divorciar-se de si mesmo.

Todo relacionamento é vicioso, mesmo o relacionamento consigo próprio. Já estamos acostumados com nossos defeitos. E sempre reclamamos das mesmas coisas: "Por que fui responder aquele e-mail com a cabeça quente? Por que fui tocar naquele assunto se eu sei que sempre dá confusão?". Pois é. A gente se repete. A gente sabe que em muitas coisas poderíamos mudar, mas estamos de tal maneira acostumados a ser desse jeito que achamos que nem vale a pena tentar ser de outro.

Isso tem nome: preguiça. Você é tão impetuoso nas suas reações que sempre mete os pés pelas mãos? Aprenda a segurar a ansiedade, espere dias para reagir, se for preciso. Mas espere. Acalme-se. Avalie se a causa compensa mesmo uma discussão. Se a resposta for não, abstenha-se. Você não precisa estar em todas, opinar sobre tudo.

Até parece que é fácil. Não é, sabemos. Mas tem uma hora em que é necessário estabelecer aquilo que segue com a gente e aquilo que deve ficar pra trás. Acho que maturidade é isso: você saber a hora de se movimentar. De sair do lugar. De desistir das coisas que enterram você, e de promover as coisas que dão certo. Passar a própria vida por um filtro. Torná-la mais enxuta e mais produtiva.

A tendência é essa: a gente se livrar do excesso de peso pra facilitar a caminhada. A maioria faz isso quando chega na meia-idade. Mas podemos fazer isso agora mesmo, aproveitando o clima de fim de ano, de balanço. Desafogue-se de mágoas, de desejos de vingança, de pessoas que não permitem que você avance. Diga não para tudo aquilo que não faz bem pra você, pare de acreditar que as coisas vão mudar por milagre ou por decreto. Se não mudaram até agora, então deixe as coisas como estão e mude você.

Separar-se de si mesmo soa como uma espécie de infidelidade. É nada.
É fidelidade ao que você mais acredita: que tudo pode ser melhor, se a gente tiver coragem.

Tempo mágico

"Morar em Londres ou numa chácara? Ter filhos ou não? Posar nua ou ralar atrás de um balcão? Correr de kart ou entrar para um convento? Fumar e beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.
Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado, viver de poesia e dormir em hotel 5 estrelas. No way.
Por isso é tão importante o auto-conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: ninguém é o mesmo para sempre. Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.
Quanto menos a gente errar, melhor." (Martha Medeiros)


TEMPO MÁGICO
Jane Mary Abreu

Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma tijela de cerejas. As primeiras, ela chupou-as displicente, mas percebendo que faltam poucas, até rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabarolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalômanos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo".
Detesto fazer acareação de desafetos que lutaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Quero a essência, a minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na tijela, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir dos seus tropeções, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do Bem.
Caminhar perto de coisas e pessoas verdadeiras, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.