Promessas matrimoniais

"Em convivência e em amor, o que perdura através do tempo, mesmo que à custa de muita dificuldade e de um precário equilíbrio , revela a existência de uma relação profunda. Tempo nem sempre é acomodação. Muitas vezes é sinal de uma sabedoria intuitiva que autoriza a permanecer com a ligação mesmo quando ela pareça insatisfatória e incompleta. O que consegue vencer o tempo consegue vencer, também, impulsos passageiros com sabor de emoção e novidade." (Artur da Távola)


PROMESSAS MATRIMONIAIS
Martha Medeiros

Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre: "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?

Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?

Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?

Promete se deixar conhecer?

Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?

Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?

Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?

Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?

Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declara-os maduros!

Peças sem reposição

"Eu existo além daquilo que sou. Como todo mundo. Gosto de estar só e às vezes detesto me sentir sozinha. Amo as pessoas de uma maneira geral, gosto de ver rostos, imaginar as histórias que se escondem por detrás das rugas, olhos brilhando ou caras fechadas. Mas não gosto de estar no meio da multidão. Penso muito. Deus do céu, como penso! Devo ter uma maquininha no lugar do cérebro. Porém tenho um coração que se derrete à toa e o sofrimento dos outros me entra na pele. Na adolescência eu cheguei a me dizer que seria missionária. E devo ter seguido o caminho de Jonas, ter entrado no ventre da baleia e não pude fugir ao que o Senhor tinha reservado pra mim. E amo ao meu Deus por isso.
Portanto, junto de toda essa fortaleza que me faz ser quem sou, se algo sou, tem ainda aquela criança que ri do tudo e do nada, que gosta de fazer palhaçada, que gosta de atenção, chora por motivos bobos e outros mais sérios. Eu sou, em resumo, alguém que precisa de outras pessoas, apesar dessa aparência de mulher forte e decidida. Sou assim e me sinto assim muito pequena muitas vezes. Amigos sao essenciais para mim, mesmo se muitas vezes eu me isolo. Essa é minha necessidade e amigos de verdade compreendem. Sou assim..."
(perfil da escritora Leticia Thompson no orkut)


PEÇAS SEM REPOSIÇÃO
Martha Medeiros

Eu não entendo nada de pintura, mas reverencio quem tem o dom, e por isso corri para a exposição Paris 1900 assim que pude. Não é toda hora que se tem a oportunidade de ficar frente a frente com um Toulouse Lautrec, um Renoir, um Cezanne ou com uma escultura de Rodin, mesmo que não sejam suas obras mais importantes. Está tudo lá no Margs, ao alcance dos olhos. Mas não das mãos, pois trata-se de um museu, e exige-se modos: é proibido tocar, é proibido colocar o acervo em risco.

Pois estávamos eu e uma amiga apreciando um belo cálice esculpido por um dos artistas, muito bem protegido dentro de uma caixa de vidro, quando ela me contou que tinha um cálice em casa que ela também tratava como obra de arte. É um cálice que ela ganhou de presente do dono de um restaurante de Frankfurt, onde ela teve um jantar que mudou sua vida. Além de o cálice ser espetacular, tem um valor afetivo imenso, e ela o guarda quase que numa redoma, só falta etiquetar e direcionar um canhão de luz em cima. Outro dia ela se descuidou e viu seu sobrinho, um garotinho estabanado como qualquer outro, pegar o seu santo graal pra tomar água. Ela não enfartou por detalhe. Retirou o cálice da mãozinha dele e o substituiu por um bom copo de plástico colorido. O guri topou a substituição e ela voltou a respirar.

A troco de que todo esse papo? Pra lembrar que tem muita coisa na nossa vida que não tem reposição. Não falo apenas do Iberê que alguns sortudos têm na parede. Falo de pequenos cálices sagrados, que podem nem ser cálices. Na maioria das vezes são gente.

É exagero colocar numa redoma as pessoas que nos são caras, mas exceder-se no descuido é imperdoável. Amigos, principalmente os íntimos, esquecem com muita freqüência de serem gentis uns com os outros. Se a gente for perguntar por qual razão, "ora, porque somos amigos, não precisamos disso". Até que um dia colidem feio, se espatifam, e o carinho, que era para ter sido exercitado e não foi, vai fazer falta na hora de colar tudo de novo.

Pessoas não têm reposição. São obras de arte exclusivas, seguro nenhum compensa a perda. Às vezes, por causa de uma bobagem, uma lasquinha, a gente deixa de lado o que há de mais precioso no mundo: um relacionamento. Não nos damos o trabalho de restaurá-lo, seja por orgulho, presunção ou pela total falta de noção do que realmente é importante nessa vida.

Cálices belos e raros, quadros representativos de uma época, amigos, filhos e amores: únicos. Reproduções não valem nada.

Experiências

"Vergo mas não quebro. Se, diante de qualquer situação difícil,
persistirmos com entusiasmo e paciência, veremos imediatamente que as
tempestades fortes vergam a vontade mas não a quebram."
(R. Stanganelli)


EXPERIÊNCIAS
Iyanla Vanzant
in "A vida vai dar certo para mim"

Tenho fé e não sinto medo porque me disponho a testar o que sei.

As experiências da vida aparecem para nos tornar melhores. No momento em que você pensa que já tem tudo, coisas novas aparecerão em sua vida. Elas empurrarão, testarão e desafiarão você a crescer mais, aprender mais, fazer mais. Quando isso acontece, somos tentados a acreditar que cometemos algo errado ou perdemos algo. É difícil perceber que obtemos coisas boas dos momentos difíceis. No entanto, crescer, aprender, progredir, fortalecer-se são coisas boas que só obtemos nos momentos de desafios, em que somos testados.

A tenacidade fortalece o caráter e constrói a fé. À medida que sua fé cresce, torna-se mais difícil abalá-la. Você tem mais confiança em si, persiste com mais vigor na busca de seus objetivos, não desiste facilmente. Quando a vida nos testa, ela nos dá a oportunidade de avaliar nossas crenças. Você acredita que tem direito de receber o que for para o seu bem? Acredita que tem capacidade para resolver os problemas? Enfrentar os desafios? Superar as crises? Acredita que tem a quantidade de fé necessária para sustentar-se em todos os momentos? Só conseguimos saber tudo isso quando os acontecimentos nos testam. As provas mais difíceis são destinadas aos melhores alunos, porque eles têm capacidade para fazê-las! Talvez, por essa razão, à medida que avançamos e crescemos, os desafios parecem tornar-se maiores.

Até hoje, você pode ter achado que fracassou quando surgiu uma nova dificuldade.
Hoje, seja um bom estudante. Confie em você! Confie no que sabe! Desta vez, faça melhor do que já fez!
Disponha-se a dar os passos necessários para assegurar o desenvolvimento divino do seu ser.

Hoje, eu me dedico a saber que cresço e melhoro cada vez que enfrento um novo desafio em minha vida.

Testemunho

"Se você sentar-se ao pôr do sol
E lembrar as ações que praticou,
E lembrando encontrar
Um ato de desprendimento,
Uma palavra que tranquilizou o coração
Daquele que a ouviu;
Um olhar mais bondoso
Que caiu como um raio de sol onde ele foi
Então você pode considerar
Aquele dia bem vivido."
(George Eliot)


TESTEMUNHO
Lya Luft
in "Pensar é transgredir"

Para dar testemunho de meu tempo não preciso desfraldar uma bandeira partidária ou me enfiar nas trincheiras da guerra, nem as da violência cotidiana: na minha postura há de se refletir o que penso.

Para perseguir meus ideais não preciso me deixar matar: basta procurar a coerência, o que pode ser uma forma de heroísmo silencioso. Porém é bom lembrar que coerência rígida pode ser mediocridade.

Para ser boa filha não preciso me encolher, mentir, me afastar: os pais servem para fazer a gente crescer, eventualmente voar, ainda que seja para longe deles, mas sem que os laços de afeto precisem se romper.

Para ser boa mãe não preciso me vitimizar: a mãe-mártir desperta culpa e causa aflição. Só uma pessoa que se respeita e valoriza pode realmente amar seus filhos, prepará-los para não serem almas subalternas e lhes servir de eventual apoio.

Para ser boa amiga não preciso fingir nem mentir, vigiar nem agradar o tempo todo. Uma amiga verdadeira pode dar colo, abraço, escuta, dividir alegrias e ouvir confidências, mas não precisa bajular nem criticar.

Para ser boa amante não preciso me anular: basta - e já é difícil - ser estimulante e confiável, terna e cúmplice, quando for possível. Carinho não é servilismo nem sujeição.

Para ser inteira não preciso me defender erguendo barreiras à minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntar meus pedaços e me reconstruir mais inteira.

Para realizar alguma justiça social não preciso me despojar do que possuo, se o que tenho serve para a minha dignidade e não para o desperdício. O melhor é começar em casa, pois se pago miseravelmente a minha empregada, não posso pronunciar sem constrangimento palavras como "justiça" e "dignidade".

Para ser humana não preciso exigir de mim o que seria próprio de deuses, mas prestar atenção nos outros e abrir-lhes espaço, admitir o mistério de tudo, respeitar a vida, tolerar minhas fraquezas, aproveitar meus talentos e procurar o dom da alegria - que é fundamental.

Para viver bem devo eventualmente pensar na morte, não como um susto mas estímulo para ser melhor; para morrer bem devo curtir minha vida de um jeito positivo, não me enxergando como a última nem a primeira das criaturas, mas vivendo de modo que para alguém ao menos eu tenha feito alguma diferença.

Pois alienação é também cultivar a amargura e ignorar que a vida pode ser boa, o amor positivo, o ser humano comovente, e o significado de tudo acessível ao coração e ao sonho.

Se não posso corrigir os males do mundo, da minha reduzida condição pessoal, posso ao menos não colaborar para que ele se torne mais violento, mais mesquinho e mais cruel.

Marque com X

"Ninguém sabe o que há dentro de si,
até ter que colocar para fora."
(Ernest Hemingway)


MARQUE COM X
Ailin Aleixo
http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

O que você precisa ter para ser amado?

Durante muito tempo acreditei que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Ficava enfeitiçada com citações, elucubrações e teses. Mas não era. De nada adianta um perito em física nuclear, se ele não rir das pequenas besteiras que faz, se não souber aproveitar um sábado quente simplesmente não fazendo nada (e curtindo o ócio), se virar um psicopata quando alguém o fecha no trânsito. Então saquei: bom humor era o que mais me atraía.

Sempre achei delicioso estar com alguém que não vê o mundo como uma grande e monstruosa boca cheia de dentes prestes a mastigá-lo, que vive sem arrastar correntes, faz de tudo uma possível piada. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, tudo o que quero é alguém que me escute e diga algo que me conforte a alma. E, nesses momentos, o pior que pode acontecer é ser levada na piada - existe uma grande diferença entre alegria de viver e recusa a sair da infância. Pois é, não era bom humor o que me fazia amar alguém: era, antes, sensibilidade.

Telefonemas de bom-dia, atenção a informações aparentemente banais mas que dizem muito a meu respeito, não ficar azedo e arredio por causa das minhas pequenas (ou grandes) oscilações de humor - tudo o que eu podia querer. Quase tudo. Tenho personalidade forte e só sobrevive ao meu lado um homem que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas tenho que sentir que quem está comigo é um homem de verdade e não um principezinho criado pela avó. Quero ser domada, tomada. Mais uma vez minha certeza caiu por terra: nem inteligência, bom humor ou sensibilidade eram o que me fazia amar alguém. Era - isso, sim - virilidade.

Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha, ser jogada na mesa de jantar sem tempo pra pensar no que está acontecendo, só sentir e saber o tesão incontido daquele homem por mim. Ser desejada com urgência e paixão é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta, pelo menos não depois da décima trepada monumental: quando acaba o suadouro, o que resta? Se pouco importa o saldo, o que interessa mesmo é a movimentação, então estamos feitos. Mas, se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhada de carinho. Taí: pensei, então, que carinho era a pedra fundamental pra despertar meu amor.

Mas logo descobri que não era. Carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora para alguém que pouco nos importa mas a quem também não queremos mal. Não bastava, era muito pouco. Daí constatei que o essencial para que eu amasse alguém era notar no outro a vontade de ficar, o desejo de estar comigo. Constatei coisas demais e fiquei paralisada diante do ideal que havia criado: absurdo e fictício.

Hoje, enfim, aprendi que toda enumeração é uma estupidez e qualquer tipo de formulário emocional, uma passagem sem escalas pra frustração. Claro que gosto de homens cultos, atenciosos, interessantes, divertidos e viris - seria mentira negar. Mas a verdade é que, para que eu ame alguém, basta que eu ame alguém. Porque, quando se precisa justificar o amor, é porque ele não existe. Simples assim.

Surpreeeesa!

"Quando algo começar a te enlouquecer, enfernizar ou surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos. Ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva." (Ailin Aleixo)


SURPREEEESA!
Ailin Aleixo
http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

Por que odiamos tanto quando as coisas não acontecem como o esperado?

Não se explica por que você odeia beterraba ou não consegue ser simpático num primeiro encontro. Explica-se a relação entre o aumento do dólar e a crise da Argentina, mas não por que você ama alguém. Ou odeia, irrita-se, quer estar próximo. E aí você fica perdido. No exato momento em que se percebe inapto para racionalizar, o chão se abre. A boca seca. Seus quatrocentos anos de estudo não servem para nada. Sua mente embaça como espelho de banheiro. Você fica nervoso... E então nota que só aprendeu a lidar com o programado: pagar contas, ganhar dinheiro, jogar bola com os amigos, beber no mesmo bar com as mesmas pessoas no mesmo dia da semana - e encontra no conhecido sua zona de conforto. Na rotina, sua segurança.

"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."
Você não se enquadra na descrição? Ah! Adora aventura e planeja viajar pro Camboja de bicicleta? Você planeja... Assim como planeja em qual cargo estará daqui a um ano, a cantada que passará na garçonete gostosa ou qual desculpa dará para não almoçar na casa da sua mãe? Sei. Mas, se por um acaso qualquer você fosse demitido, a garçonete passasse a mão na sua bunda e sua mãe não te convidasse para almoçar, o que aconteceria?
Você ficaria perdido. Desorientado. De repente, estaria jogado num território novo e perceberia que sabe lidar com injeção eletrônica, fibra óptica, computador e avião, mas ignora completamente o que se passa em você. Notaria que dedicou a vida a compreender e explicar o que acontece ao seu lado e ignorou solenemente aquilo que não se coloca numa tabela do Excel, que nenhum gráfico mostra.
Notaria que não prestou a mínima atenção em si porque estava ocupado demais verificando seu extrato. Agora você tem dinheiro na conta e paga terapeuta, massagista, professor de ioga... e continua vagamente triste.

Infelizmente muitos nunca se deparam com um momento de auto-análise forçada: trabalham, bebem, transam e vão ao cinema. São onipotentes deuses de seus pálidos microcosmos, mas morrem carregando a sensação de vazio, a vaga tristeza. Fazem um esforço danado para não se perderem numa paixão, não confiarem demais nos outros, não falarem muito, manterem o controle. E conseguem. Conseguem não viver - comem chocolate e não fecham os olhos para catalisar o sabor do creme se derretendo na língua. Casam-se e compartilham o cotidiano, não a vida. Lêem centenas de livros e não são tocados por nenhum. Passam pela vida. E só.

"Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?"
Não se explica. Nem é preciso. Basta nos convencermos de que não precisamos inferir intelectualmente cada detalhe da vida - nunca entenderemos por que o olhar de sicrana nos mata ou o andar de beltrana nos dá tesão. E será que precisamos?
"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento." Clarice Lispector não teve uma vida lá muito feliz, por isso se pode aprender tanto com ela. Aprender a não repetir os mesmo erros. E, acima de tudo, aprender que cada um "terá que correr o sagrado risco do acaso. E substituir o destino pela probabilidade", porque o que torna a vida interessante é o fato de não a controlarmos.
Não existe nada mais maravilhoso do que poder ser surpreendido.

Momento exato...

"Não devemos permitir que nossos medos nos impeçam de perseguir nossos sonhos"
(John Fitzgerald Kennedy)


MOMENTO EXATO
Aldo Novak

A NASA sempre explica que suas naves devem ser enviadas ao espaço quando as "janelas de lançamento" estão "abertas". Mas o que são as janelas de lançamento? São os momentos exatos nos quais as órbitas planetárias permitem que o foguete seja lançado do modo certo, na direção certa e consumindo o mínimo de combustível. Em nossa vida, também temos "janelas de oportunidades", que não podemos perder.

Tudo na vida tem o "momento exato". Por isso, não adianta querer ter um filho aos 10 anos de idade, ou aos 90. Existe uma "janela" de tempo que deve ser respeitada -- neste exemplo, bastante flexível. Mas será que você não está, neste momento, olhando demais para a vida e fazendo de menos? Será que não está demorando demais para pegar aquela oportunidade?

A maioria das situações na vida, é o resultado de mudanças graduais. As coisas começam a acontecer e quase não nos damos conta. Então, um dia, o que era gradual e quase invisível passa por uma linha imaginária e, de repente, a gente nota que algo aconteceu, algo mudou. Chegou o momento exato. A janela se abriu.

Esse momento exato é muito importante. Em qual momento exato aquela atração imperceptível explodiu e derrubou todas as barreiras, se transformando em uma paixão arrebatadora? Você se lembra da hora, do minuto? Lembra de que roupa a pessoa estava usando? Lembra dos olhos dela? Ou já faz tanto tempo que esse amor cresceu e tomou conta de tudo e diversos momentos parecem o momento exato? Por outro lado, o tempo pode ter desgastado o momento exato.

Em que momento exato você descobriu a paixão por uma carreira, um caminho na vida, algo que desse enorme prazer em trabalhar horas e mais horas, em um ritual que muitos classificariam de monótono, mas que você vê como a construção de sua própria catedral pessoal de existência, sua Missão aqui?

Em que momento exato você descobriu uma solução inesperada, elegante, exeqüível para as turbulências pelas quais você, sua família ou sua empresa passava?

O momento exato das coisas que passaram pode até estar esquecido nos porões da memória. Mas o momento exato das coisas que você passará hoje, deve capturar sua atenção.

Olhe para o dia de hoje como uma chance para Momentos Exatos.

Olhe para o dia de hoje como uma bifurcação na estrada e pergunte para aquela pessoa diante do espelho: qual dos caminhos parece ter mais chances de realizar mais minha vida, meu coração e será lembrado muitos anos, a partir de hoje, como um... momento exato? Não podemos adivinhar o futuro, mas essa pergunta ajuda a acabar com a "cegueira" no presente.

Tenha coragem de escolher o caminho certo, no momento exato. Porque perder a bifurcação certa, na estrada, pode fazer com que você se lembre deste dia como aquele em que você perdeu sua chance, transformando o momento exato... no momento errado! Talvez você enfrente situações constrangedoras -- nem todo mundo vai entender o seu momento exato. Mas, como diz Lair Sanches: "É melhor ficar vermelho uma vez, no momento certo, do que amarelo para o resto da vida." Cancelar o casamento é ficar vermelho? Trocar de emprego é ficar vermelho? Fazer algo ridículo é ficar vermelho? Trocar de curso universitário é ficar vermelho? Pense na alternativa: amarelo para o resto da vida.

Reflita alguns minutos sobre isso: será que você não está demorando d-e-m-a-i-s para pegar aquela oportunidade? Fazer aquela viagem? Abrir seu coração ao amor? Lançar sua carreira? Pegar aquele emprego? Será que você não está deixando o tempo passar? A janela da oportunidade vai se fechar, tenha certeza disso. E depois que for tarde demais, não adianta chorar.

Hoje é o dia. Hoje é o seu momento exato. Não deixe a janela se fechar. Aguarre este momento como se fosse o último... porque pode ser que seja mesmo. Por isso, faça seu mundo mudar.

Olhe para seu relógio. Que horas são? Este é o momento exato.

Convivência - a arte da felicidade ou da guerra?!?

"Aliás, quando o discurso não combina com as atitudes, penso que devemos tomar essas últimas como expressão da verdadeira natureza da pessoa." (Flávio Gikovate)



CONVIVÊNCIA - A ARTE DA FELICIDADE OU DA GUERRA ?!?
Rosana Braga

Creio que não haja exercício mais difícil nesta vida do que conviver com o outro. Aceitar as diferenças e administrar os conflitos, sem que isso se torne uma guerra trata-se, certamente, de uma charada sagrada.
Sim, porque sem a convivência nos tornamos como que sem propósito. Afinal, embora muitas vezes nos esqueçamos ou prefiramos ignorar esta verdade, o fato é que tudo o que fazemos e somos está a serviço de apenas um objetivo:
sermos reconhecidos e amados.

Porém, é também na convivência que reside nosso maior desafio, o mais humano e intrigante aprendizado, o mais intenso conflito a que nos submetemos durante toda nossa existência, do primeiro ao último suspiro!
É quando todos os nossos sentimentos - um a um - ficam aflorados, expostos, escancarados; algumas vezes de forma linda, mágica, encantadora... mas outras vezes, de forma ridiculamente mesquinha, pequena, assombrada...

Se considerarmos que passamos a maior parte de nosso tempo no ambiente de trabalho, haveremos de considerar que são as relações nutridas neste lugar que nos servem como práticas mais recorrentes.
Embora, geralmente, não estejam aí nossos encontros mais caros, é no trabalho que trocamos nosso comportamento por um valor determinado, previamente combinado, estejamos satisfeitos ou não com este montante.
Portanto, este pagamento nos induz, muitas vezes, a agir de modo comedido, engessado, como quem cumpre um script sem considerar os verdadeiros sentimentos.
Acontece que não fomos feitos para o fingimento e sim para a autenticidade, seja ela bonita ou não. Assim, mais cedo ou mais tarde, é quem realmente somos que fica em evidência e é a partir daí que encontramos bem-estar ou desespero, alegria ou angústia, prazer ou dor, conciliação ou tormento.

Justamente por isso que acredito piamente ser a gentileza nosso maior trunfo. Obviamente que não falo da gentileza protocolar, mas daquela genuína, capaz de promover a paz nos relacionamentos do cotidiano. Por isso, embora realmente seja difícil praticá-la em algumas ocasiões, penso que é urgente começarmos a ser gentis com aqueles que dividem conosco o ambiente de trabalho e com quem compartilhamos a mesma casa, o mesmo quarto e a mesma cama.
Por quê? Pra que? Até quando?
Bem... se ao menos tentarmos e nos abrirmos para sentir os benefícios que a gentileza pode trazer para nossas vidas, tanto do ponto de vista interno, quanto relacional, certamente faremos um esforço.

10 dicas para ser gentil na convivência

Tente se colocar no lugar do outro. Tente de verdade, com todo o seu ser. É eficiente demais esse exercício!
Aprenda a escutar. Esvazie seus ouvidos para absorver o que o outro está dizendo. Aí pode estar a solução que nem ele ainda foi capaz de enxergar.
Pratique a arte da paciência. Julgamentos e ações precipitadas tendem a causar desastres horrorosos.
Peça desculpas, especialmente se esta opção lhe parecer difícil demais. Isso pode definitivamente mudar a sua vida!
Procure ao menos três qualidades no outro e perceba que esse hábito pode promover verdadeiros milagres.
Respeite as pessoas quando elas pensarem e agirem de modo diferente de você. As diferenças são verdadeiras preciosidades para todos.
Demonstre interesse pelo outro, por seus sentimentos e por sua realidade de vida.
Analise a situação. Deixe a decisão para o dia seguinte, se estiver de cabeça quente. Alcançar soluções pacíficas depende também do seu equilíbrio interno.
Faça justiça. Esforce-se não para ganhar, como se as eventuais desavenças fossem jogos ou guerras, mas para que você e as pessoas ao seu redor fiquem bem!
Seja gentil. A gentileza nos leva a resultados criativos e produtivos e ainda desvenda a charada da convivência: único meio de nos sentirmos verdadeiramente realizados!

Relacionamento perfeito

"O valor de alguém não é medido por eventos excepcionais de sua vida,
Mas pela sua conduta no dia a dia." (Blaise)


RELACIONAMENTO PERFEITO
Lya Luft
in “Pensar é transgredir”

O assunto pode ser dramático ou engraçado, tão humano e tão difícil de entender.
A mim, sempre buscando explicações e significados porque tão pouco entendo, me ocorre falar ou escrever exatamente sobre aquilo que menos sei. Trabalho interminável, espécie de suplício de Sísifo: o pobre todo dia empurrando montanha acima uma grande pedra que voltava a rolar pela encosta, a fim de que o torturado recomeçasse mais uma vez.
Querer alcançar o significado das coisas, da vida, das gentes, de seus relacionamentos e desencontros, é um pouco assim.
Seguidamente me indagam — ou tento imaginar — o que seria um relacionamento perfeito. Eu ia escrever "casamento", mas preferi a outra palavra, porque ela não tem nada a ver com cartório e burocracia, opressão ou coerção social e familiar: tem a ver com querer se ligar a alguém, e querer continuar ligado.
Cada dia, ao acordar, fazer de novo a escolha: eu quero mesmo é você comigo.
Mas "perfeito" é uma palavra tola: perfeição, só no céu de todas as utopias. Aqui, nesta nossa terra nada utópica, perfeição me pareceria um pouco entediante: como, nada a reclamar, tudo assim direitinho?
Olho pela janela e bocejo: muito sem graça, a tal perfeição. O céu com anjos tocando harpa pelo tempo sem tempo me deixava pasmada já na infância. Nada mais? Nem uma brincadeira proibida, um escorregão nas nuvens, uma risada na hora do sagrado silêncio... nem uma transgressãozinha na ordem celestial?
Minha alma indisciplinada não encontraria alimento nem estímulo, e ia-se desfazer em fiapo de nuvem embaixo de algum armário onde se guardassem os relâmpagos e os trovões, e todas as duras sentenças.
Então, relacionamento perfeito, nem pensar.
Mas uma ligação de cumplicidade e ternura, de sensualidade e mistério, ah, essa eu acho que pode existir. Como todos os contratos (não falo dos de papel mas de corpo, coração e mente), esse precisa ser renovado de vez em quando: a gente tira o contrato da gaveta da alma, e discute. Briga talvez, chora, reclama, mas ainda ama, ainda deseja. Ainda quer o abraço, o passo no corredor, o corpo na cama, o olhar atento por cima da xícara de café... quer até a desorganização e a ruptura, para depois de novo o que é bom se reconstruir.
Que seja vital: isso me parece uma boa parceria. Que seja dinâmica, seja lá o que isso significa em cada caso. Pelo menos, não acomodada; mas muito aconchegante.
Que seja sensual e amiga, essa ligação: se não gosto do outro como ser humano, com seus defeitos, sua generosidade e egoísmo, força e fragilidade, se não o quereria como amigo... como então, mesmo com tempero do desejo, posso me relacionar com ele para uma vida a dois?
O tema é quase infinito: pois cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou dos dois é diferente.
O bom é quando essa constante transformação se faz para maior cumplicidade, e não mais distanciamento.
Que um relacionamento não seja prisão; que não seja enfermaria nem muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas).
Que seja libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou num olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita.
Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.
Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós.

Estamos com fome de amor

"Amor não é se envolver com a pessoa perfeita, aquela dos nossos sonhos.
Não existem príncipes nem princesas.
Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos.
O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."
(Mário Quintana)


ESTAMOS COM FOME DE AMOR!!!!
Arnaldo Jabor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão".
Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas.
Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.
Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvída?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.
Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.
Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, demodê, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas
essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele.
Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".


Antes idiota que infeliz!

Carta aos educadores

"Um grande professor tem pouca história para registrar.
Sua vida se prolonga em outras vidas.
Homens assim são pilares na estrutura de nossas escolas,
mais essenciais que seus tijolos ou vigas e
continuarão a ser centelhas e revelações em nossa vida."
[Transcrevi do filme "O clube do Imperador" ("The emperor´s club) com o Kevin Kline]


CARTA AOS EDUCADORES
Com base no livro Pais brilhantes, professores fascinantes, de Augusto Cury, ed. Sextante

O ilustre escritor brasileiro Augusto Cury enumera em seu livro intitulado Pais brilhantes, professores fascinantes, o que ele considera os sete pecados capitais dos educadores.

O primeiro deles é corrigir o educando publicamente.
Um educador jamais deveria expor o defeito de uma pessoa, por pior que ele seja, diante dos outros.
Um educador deve valorizar mais a pessoa que erra do que o erro da pessoa.

O segundo é expressar autoridade com agressividade.
Os educadores que impõem sua autoridade são aqueles que têm receio das suas próprias fragilidades.
Para que se tenha êxito na educação, é preciso considerar que o diálogo é uma ferramenta educacional insubstituível.

O terceiro é ser excessivamente crítico: obstruir a infância da criança.
Os fracos condenam, os fortes compreendem, os fracos julgam, os fortes perdoam.
Os fracos impõem suas idéias à força, os fortes as expõem com afeto e segurança.

O quarto é punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações.
A maturidade de uma pessoa é revelada pela forma inteligente com que ela corrige alguém. Jamais coloque limites sem dar explicações.
Para educar, use primeiro o silêncio e depois as idéias.
Elogie o educando antes de corrigi-lo ou criticá-lo.
Diga o quanto ele é importante, antes de apontar-lhe o defeito.
Ele acolherá melhor suas observações e o amará para sempre.

Quinto: ser impaciente e desistir de educar.
É preciso compreender que por trás de cada educando arredio, de cada jovem agressivo, há uma criança que precisa de afeto.
Todos queremos educar jovens dóceis, mas são os que nos frustram
que testam nossa qualidade de educadores. São os filhos complicados que testam a grandeza do nosso amor.

O sexto, é não cumprir com a palavra.
As relações sociais são um contrato assinado no palco da vida.
Não o quebre.
Não dissimule suas reações.
Seja honesto com os educandos.
Cumpra o que prometer.
A confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil de ser reconstruído.

Sétimo: destruir a esperança e os sonhos.
A maior falha que os educadores podem cometer é destruir a esperança e os sonhos dos jovens.
Sem esperança não há estradas, sem sonhos não há motivação para caminhar.
O mundo pode desabar sobre uma pessoa, ela pode ter perdido tudo na vida, mas, se tem esperança e sonhos, ela tem brilho nos olhos e alegria na alma.

Você que é pai, professor ou responsável pela educação de alguém, considere que há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem.
Só não consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro do seu próprio mundo.
Lembre-se que a educação é a única ferramenta capaz de transformar o mundo para melhor, e que essa ferramenta está nas suas mãos.
Do seu uso adequado depende o presente e dependerá o futuro.
O jovem é o presente e a criança é a esperança do porvir.
Pense nisso e faça valer a pena o seu título de educador.
Eduque.
Construa um mundo melhor.
Plante no solo dos corações infanto-juvenis as flores da esperança.

Oração a mim mesmo

"E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,
buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e
um pouco de criatividade".
(Mario Quintana)


ORAÇÃO A MIM MESMO
Oswaldo Antônio Begiato

Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm
e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.
Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática,
as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim
e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis;
aqueles que morrem e ressuscitam
a cada novo fruto,
a cada nova flor,
a cada novo calor,
a cada nova geada,
a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar,
sonhar o mar,
sonhar o amar,
sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,
dos movimentos,
do impossível,
da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras
pelo toque,
pelo sentir,
pelo compreender,
pelo segredo das coisas mais raras,
pela oração mental
(aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).
Que eu saiba dimensionar o calor,
experimentar a forma,
vislumbrar as curvas,
desenhar as retas,
e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos
fazendo-me parte suprema da natureza,
criando-me e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos, mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo:
- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência,
sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos,
humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas
(que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).
Que eu me permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso, ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei,
traduzir o que os mestres ensinaram
e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências;
respeitar incondicionalmente o ser;
o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar a solidão de quem chegou,
render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado,
fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
Que eu jamais fique só,
mesmo quando eu me queira só.
Amém!

Aproveite o momento...

Soundtrack: Renato Russo - Mais uma vez


"Ser derrubado é freqüentemente uma condição temporária.
Desistir é o que a torna permanente."
(Marilyn vos Savant)


APROVEITE O MOMENTO
Tradução SergioBarros
Desconheço o autor
Fonte para reflexão

Eu tenho uma amiga que vive baseada em uma filosofia de três palavras: Aproveite o momento.

Exatamente por isso, ela me parece ser a mulher mais sábia neste planeta.
Muitas pessoas adiam algo que lhes traz alegria só porque não pensaram sobre isto, ou não tem vaga em sua agenda, ou não sabem o que vem pela frente ou são muito rígidas para sair da rotina.

Outro dia eu estava pensando sobre todas aquelas mulheres no Titanic, que privaram-se da sobremesa no jantar naquela noite fatal num esforço para manter a silhueta. Parece meio besta, mas pense bem. Daí em diante eu tentei ser um pouco mais flexível.

Quantas mulheres por aí comerão em casa porque quando seu marido convidou para jantar já tinha algo descongelado? Quantas vezes você tinha suas crianças prontas para brincar e conversar e você ficou em silêncio assistindo aquele programa na televisão?

Foram inúmeras as vezes em que eu liguei para minha irmã e disse,
"- Que tal irmos almoçar daqui a meia hora?"
Ela ofegava e gaguejava um:
"- Eu não posso."
Sempre completado com um:
"- Preciso lavar a cabeça."
"- Você devia ter me avisado ontem."
"- Eu tomei o café da manhã muito tarde."
"- Parece que vai chover."
E o meu favorito:
"- Hoje é segunda-feira."

Ela morreu alguns anos atrás. E nós nunca almoçamos juntas.

Parece que nós programamos até o horário da dor de cabeça. Nós vivemos com uma lista de promessas que fazemos para nós mesmos para quando as condições forem perfeitas: Visitarei meus avós... quando conseguirmos reformar o banheiro; Faremos uma festa... quando substituirmos o tapete; Sairemos em uma segunda lua de mel... quando as crianças se formarem.

A vida tem um jeito mais acelerado quando vamos ficando mais velhos. Os dias ficam menores e a lista de promessas para nós mesmos vai ficando cada vez mais longa. Uma manhã a gente acorda e tudo o que temos para mostrar de nossas vidas é uma ladainha de "estou indo", "estou planejando" e "algum dia, quando as coisas estiverem ajeitadas".

Quando alguém convida minha amiga "aproveite o momento", ela está sempre aberta à aventuras e disponível para viagens. Ela mantém a mente aberta para novas idéias. Seu entusiasmo pela vida é contagioso.

Meus lábios não tocavam em um sorvete há 10 anos. E eu adoro sorvete. Noutro dia, eu parei o carro e comprei um cascão triplo. Se meu carro batesse em um iceberg a caminho casa, eu teria morrido feliz.

Agora, vá em frente e tenha um bom dia.
Faça algo que você QUER fazer e não apenas algo que DEVIA ESTAR NA LISTA.

Amigos e irmãos

"Amo-te, não só pelo que és,
mas também por aquilo que eu sou quando estou contigo.
Amo-te, não só pelo que fizeste de ti,
mas também por aquilo que tens feito por mim.
Amo-te, porque fizeste mais para me tornares bom do que qualquer credo,
porque fizeste mais para me tornares feliz do que qualquer destino.
E fizeste tudo isso sem me tocares, sem uma palavra, sem um sinal.
Fizeste tudo isso só por seres tu próprio.
Afinal, talvez seja isso o que significa ser amigo." (Roy Croft)


AMIGOS E IRMÃOS
Maine Virgínia Carvalho

Outro dia lendo Clarice Pinkola Estés encontrei uma forma muito lúcida e coerente de classificar laços que unem certas pessoas.
Ela explica que temos uma família sangüínea e uma família psíquica. A sangüínea nos é dada. A psíquica obtemos através dos encontros naturais, por identificação. E ambas carregam muita força em seus laços. Bem, eu tenho as duas.
E ambas são muito fortes. Tenho muitos irmãos. Sete sangüíneos. Doze ou treze psíquicos. Estes eu fui ganhando ao longo da vida, nas esquinas, nos esbarrões casuais. Um a um eles foram chegando e fazendo parte do meu mundo.
Mal eu me dava conta e eles estavam lá e eram parte do meu dia-a-dia, de minhas preocupações, de minhas preces. É uma relação de amor. Baseada em amor e espontânea, natural e forte. Outro dia eu perguntei a uma amiga se sua analista já me "conhecia", se eu já tinha estado em suas sessões e ela me respondeu sorrindo: "não tem como não conhecer, não é? É natural." É sim. É natural.

Ela não mora na mesma cidade que eu. Boa parte de meus amigos-irmãos moram distantes. Não nos vemos todos os dias, às vezes passamos muito tempo sem podermos nos encontrar, mas não faz diferença. Burlamos as leis e os códigos e reduzimos as fronteiras. Estamos juntos, ligados. Nas viagens e em cada paisagem, nos brindes que erguemos, no analista, no supermercado. Nos momentos de tristeza e de alegria. Todos lá, alternando conforme a identificação particular. Cada um têm seu espaço e todos a mesma dimensão. Há que diga que isso é bobagem ou sentimentalismo piegas. Paciência. Eu lamento por todas as pessoas que não conseguem encontrar semelhantes, amigos, irmãos psíquicos, ou como se queira denominar.

Mas entendo. Não é fácil isso. Às vezes estamos tão ocupados em ordenar o centro do nosso umbigo que temos a ilusão - tola, banal - de que devemos fidelidade e amor apenas àqueles com quem temos laços sangüíneos. José Luís Borges afirma a amizade é o sentimento mais nobre que existe. Paulo Sant'Ana complementa e diz que poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os seus amores, mas enlouqueceria se morressem os seus amigos.

Eu concordo. Chamo meus amigos de irmãos. É o que eles são. Cada um tem uma história especial de encontro comigo,
cada um chegou em meu mundo de uma forma distinta e sem aviso prévio. Mas vieram para ficar. Alguns talvez nem façam idéia do quão concretos são em meu cotidiano. Penso neles. Oro por eles, por suas vidas, pelo seu bem estar.
Me alegro e me entristeço neles. E, de vez em quando, sinto uma necessidade visceral de lembrá-los o quão amados são. Sim, porque em certos dias cinzentos, nebulosos e frios, faz uma enorme diferença ter lenha para aquecer o coração. E nunca é demais uma lembrança de que se é amado. Não espero nunca respostas. Mas elas sempre vêm.
Amor em dobro. Embrulhado para presente. E percebo - com um prazer indescritível - o quanto eu também perambulo,
livre e constante, por seus mundos. E isso me esquenta a alma. E prossigo, mais feliz, por tê-los.

A crônica hoje é deles. Eles sabem o que as palavras significam para mim e doá-las é o minha expressão máxima. Escrevo melhor que falo, e sinto melhor que escrevo. Eles sabem disso.

Comprometa-se

"Não chegamos a mudar as coisas conforme o nosso desejo,
mas aos poucos o nosso desejo muda". (Marcel Proust)


COMPROMETA-SE
David Simon
in "Comprometa-se: Transforme suas intenções em decisões"

Quanto mais você aceitar tanto seu lado bom quanto o ruim, tanto menos crítico será para com as pessoas que o cercam.
Se estivermos dispostos a agir de forma honesta, cada relacionamento pode tornar-se um espelho.
Quando reagimos com irritação desproporcional ao comportamento de outra pessoa, isso normalmente acontece porque tal atitude espelha algo que não queremos perceber em nós mesmos. Ao identificar e aceitar as múltiplas facetas de sua natureza, você estará se capacitando a aceitar com maior facilidade as pessoas e, portanto, a viver mais em paz consigo e com as pessoas que importam em sua vida.

Sob uma perspectiva espiritual, a meta do amor consiste em enxergar você no outro e o outro em você. Este estado de consciência unificadora é a expressão da divindade na humanidade.

Ao se sentir confortável dentro de si, seu contentamento interior ajuda naturalmente aqueles que estão ao seu redor a se sentirem mais confortáveis.
Um coração repleto de compaixão transmite a mensagem: "Reconheço você... Conheço você... Aceito você." Você pode assumir um risco, indo além de seus limites normais, mas isso significa mover-se para fora de sua zona de segurança... vale a pena.
Abraçar o desconhecido nos oferece nossa maior oportunidade de crescimento pessoal, enquanto desperta nossos maiores temores.

Quando você se apaixona torna-se uma pessoa diferente... existem vários tipos de relacionamentos apaixonantes...
O amor expande nosso sentido de nós mesmos, algo que, uma vez expandido, jamais retorna a seu tamanho original. Uma vida desfrutada em amor é a única vida que vale a pena.
Como citado em Coríntios, sem amor, o conhecimento e a caridade são vazios.
Entre a fé, a esperança e o amor, o amor é o maior.
Comprometa-se a amar sob todas as suas expressões. Mesmo depois de tanto tempo, o sol nunca diz para a terra, "você me deve".
Veja o que acontece com um amor como este, Ele ilumina o céu inteiro.

Libertar-se de hábitos exige atenção focada e força de vontade. Os hábitos preenchem necessidades.
Para abandonar um comportamento indesejável, você deve substituí-lo por um que o gratifique.
À medida que você trouxer para o seu cotidiano influências que apóiem seu bem estar emocional e físico, o alívio temporário que seu antigo hábito lhe oferecia será substituído por conforto e harmonia duradouros.

Procure relacionamentos e comunidades que reforcem seu compromisso de adotar escolhas que promovam a vida.

Somos a soma das escolhas que fizemos.

Lembre-se a cada momento: todo mundo faz seu melhor, com base em seu atual estado de consciência.

Das amebas unicelulares aos seres humanos com trilhões de células, a dança da vida inclui a alternância entre pausa e o movimento.

A vitalidade e o entusiasmo são frutos de uma vida em harmonia com os ritmos da natureza.

Pare de sofrer inutilmente

"Lute, mesmo sabendo que por vezes a luta não trará o resultado esperado. O treino para lutar, porém, gerará força para a próxima vitória."
(Roberto Shinyashiki)


PARE DE SOFRER INUTILMENTE
Roberto Shinyashiki
Do livro "Os donos do futuro"

O sinal de alerta da mudança toca sempre que substituímos a alegria de viver pela preocupação. E a fluidez pela tensão. Nesses momentos, você tem de tirar o barco do porto e coloca-lo no mar, rumo a um novo mundo.

Cada um de nós tem uma área da vida que necessita ser cuidada com mais atenção. Se alguma parte de sua vida anda aborrecida e sem sal, é sinal de que precisa ser mais bem cuidada. Afinal de contas, é sua felicidade que está em jogo.

É claro que ninguém pode comprar a alegria de viver na padaria da esquina. Temos de aprender a conquistá-la. As lições estão dentro de nós. Precisamos ser professores e alunos de nós mesmos. Observe o que a insatisfação deseja lhe mostrar e vá atrás de sua felicidade.

Na Índia, os mestres dizem que a diferença entre alguém que está com câncer e alguém com dor de cabeça depende da intensidade da aula de que a pessoa está precisando.
Na vida, quanto mais teimoso for o aluno, mais as aulas serão dolorosas.
Quanto menos o aluno aprender, mais a vida vai bater pesado para que acorde e aprenda.

A escola da vida funciona assim. Se a pessoa está insatisfeita e fica em casa reclamando da sina em vez de tentar mudá-la, vai se tornar cada vez mais angustiada, arrumar uma úlcera ou uma depressão. Ela tem a ilusão de se acostumar com a dor, mais o pior é que a dor não pára de aumentar. A alegria de viver fica tão inacessível quanto o pico do Everest.

Negar uma necessidade nunca foi boa solução.
O problema vai continuar até a pessoa se convencer de que precisa sair daquela situação e começar algo novo.
Essa é a lição que está fazendo falta.
Quanto nos recusamos a aprendê-la, o problema se agrava.

Eu desejo que você se frustre

"O trabalho interior é uma vocação para toda a vida. Cada dia, um capítulo na nossa jornada pessoal. Cada relacionamento, uma chance de amar. Cada momento repleto de profundas escolhas - todas criando impacto sobre nossos destinos públicos e privados. Mas precisamos vigiar os portões das verdades recém descobertas contra os intrusos da ilusão. Ao redor de nós ainda existem aqueles que preferem permanecer dormindo, ser o mesmo que sempre pareceram ser, porque eles ainda não estão prontos para deixar o espírito brilhar."
(Mike George, Discover Inner Peace - Duncan Baird Publishers, London, 2000)



EU DESEJO QUE VOCÊ SE FRUSTRE!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Certamente, o título deste artigo é um tanto agressivo. Eu sei! Acontece que queria mesmo chamar a atenção para o quanto estamos precisando aprender a lidar com as frustrações. Temos vivido um momento muito delicado no que se refere a encarar os "não" que a vida nos impõe.
Cada dia uma notícia mais terrível que a outra e sempre tendo como mote principal a incapacidade de aceitar uma negação, seja de quem for. Filha mata os pais porque eles não aprovam seu namoro. Namorado mata namorada porque ela não quer mais continuar a relação. Namorada mata namorado porque descobre uma traição. Mãe mata filhos porque o marido a abandonou. Neto mata avó porque ela não queria que ele fizesse barulho.
Um número assustador de pessoas que simplesmente decidem acabar com a vida do outro e, tantas vezes, com a própria vida porque as coisas não aconteceram exatamente como elas previam ou gostariam.

O que é isso?!? Onde é que vamos parar? Será mesmo que não existe outra maneira de lidar com tudo isso? Eu sei que o mundo exige cada vez mais de nós, que o fracasso faz com que nos sintamos fora de uma competição acirrada e de um objetivo insano de ser feliz e ter sucesso a qualquer preço, mas ‘peraí’... está na hora de avaliarmos outras possibilidades mais criativas para o que é inevitável: a frustração!

Todos nós, indiscutivelmente, independente de classe social, situação financeira, origem, cultura ou raça, temos de lidar com os fracassos, as perdas e as dores decorrentes do exercício de viver. Portanto, há de haver uma conseqüência nobre de tudo isso: aprendizado, amadurecimento, crescimento interior, enfim, auto-superação!

Antigamente, perdia-se um amor e isso se tornava inspiração para lindos poemas, músicas inesquecíveis ou atos belíssimos na tentativa de reconquistar a pessoa amada, tais como uma serenata ao pé da janela, uma declaração de amor em público ou o envio de dúzias e dúzias de rosas. Hoje, perde-se um amor e tudo vira uma tragédia insana e sem sentido.
Antigamente, recebiam-se proibições dos pais e isso se tornava uma fuga de casa por uma noite, uma carta malcriada ou até um motivo para lutar por causas maiores. Hoje, recebem-se ordens dos pais e isso se torna razão para destruí-los, massacrá-los ou feri-los.

Onde está nossa sensibilidade? Onde está nossa motivação para transformar limites em novos horizontes? Onde está a noção do que seja compreensão, aceitação e fé?
Eu desejo, sim, que você e eu continuemos nos frustrando, até porque não há outro modo de evoluir; mas desejo, sobretudo, de todo meu coração, que consigamos lidar com nossas dificuldades de um modo mais humano e criativo.
Esmurremos o travesseiro, fechemos a porta do quarto e choremos a noite inteira, martelemos 118 pregos num pedaço de madeira, sem parar, até esgotarmos toda nossa energia raivosa, mas pelo amor de Deus, não destruamos uma vida, não acabemos com o que é sagrado, não desperdicemos a oportunidade de ser gente e agirmos como tal.

E assim, de frustração em frustração, quem sabe possamos perceber que não há nada mais fantástico e sublime do que a arte de aprender a transformar um "não" em mais uma chance de vencer e ser feliz...

Só há espetáculo quando há platéia


Há dias em que a você pensa: por que aquela pessoa se comporta daquele jeito comigo?
Por que ela faz aquilo?
Talvez sejam seus pais. Talvez um chefe. Talvez um cliente. Pode ser seu marido, ou esposa.
Seja como for, as pessoas sempre "dão show" quando há alguem para participar.
Se um familiar se comporta de modo grosseiro com você, experimente tornar-se a neutralidade em forma de gente.
Simplesmente pare de reagir ao ataque.
 Aceite.
Tudo aquilo a que você resiste, persiste.
Como nas artes marciais, usamos sempre a força do oponente contra ele próprio.
Se você dá atenção aos ataques verbais, de quem quer que seja, se torna imediatamente "platéia".
E ele - ou ela - sente a necessidade de fazer seu show.
Lembre-se, também, que muitas pessoas dão seus shows simplesmente porque foi assim que elas aprenderam a relacionar-se.
É um scritp que está fortemente enraizado em suas mentes.
Não raro, tais pessoas querem se aproximar, fazer contato, mas como são inábeis, usam o pseudo contato.
Brigam, discutem, criticam e dão bronca apenas porque não sabem como se aproximar de você.
Olhe, escute, mas não permita que tais shows entrem em sua mente.
E, quando puder, afaste-se.
Lembre-se: só há espetáculo quando há platéia.
Há alguém preparando seu show para você hoje?
Não aplauda, não vaie.
Apenas dê um sorriso e, quando o espetáculo acabar, saia do auditório.
E não comente com ninguém!
 (Aldo Novak)

Meditação andando

"Retire o lixo! Seu lixo é aquilo que lhe afasta da única coisa que importa: esse momento.
Aqui. Agora. E quando você estiver no aqui e agora ficará maravilhado com o que pode fazer e como pode fazer bem."
(Extraído do filme "Poder além da vida", título original "Peaceful Warrior", com Nick Nolte.
Uma fantástica história real, baseada no best-seller "O caminho do guerreiro pacífico" escrito - e vivenciado - por Dan Millman)


MEDITAÇÃO ANDANDO
Paulo Coelho
http://www.warriorofthelight.com/port/index.html

Chego a Santiago de Compostela, desta vez de carro, para celebrar minha peregrinação há vinte anos. Quando estava Puente La Reina, veio a idéia de fazer tardes de autógrafos sem grandes preparações: bastava telefonar para a próxima cidade onde deveríamos dormir, pedir que colocassem um cartaz na livraria local, e estaria ali na hora marcada.
Funcionou magnificamente nas pequenas aldeias, embora exigindo um pouco mais de organização em grandes cidades, como a própria Santiago de Compostela. Tive um contato inesperado com os leitores, e aprendi que coisas feitas com amor podem ter o improviso como um grande aliado.
Santiago estava agora diante de mim. E algumas dezenas de kms mais adiante, o Oceano Atlântico. Mas estou decidido a seguir adiante com as tais tardes de autógrafos improvisadas, já que pretendo ficar noventa dias fora de casa.
E como não pretendo atravessar o oceano neste momento, devo ir para a direita (Santander, Pais Basco) ou esquerda (Guimarães, Portugal)?
Melhor deixar que o destino escolha: minha mulher e eu entramos em um bar, e perguntamos a um homem que está tomando um café: direita ou esquerda? Ele diz com convicção que devemos seguir à esquerda – talvez pensando que nos referíamos a partidos políticos.
Telefono para o meu editor português. Ele não pergunta que loucura é essa, não reclama de avisá-lo em cima da hora. Duas horas mais tarde me chama, diz que contatou as rádios locais de Guimarães e Fátima, e em 24 horas posso estar com meus leitores naquelas cidades.
Tudo dá certo.
E em Fátima, como um sinal, recebo um presente de uma das pessoas que estão ali. Trata-se dos escritos de um monge budista, Thich Nhat Hanh, intitulado “The long road to joy” (A longa estrada para a alegria). A partir daquele momento, antes de continuar esta jornada de 90 dias pelo mundo, passo a ler todas as manhãs as sábias palavras de Nhat Hanh, que resumo a seguir:
Você já chegou. Portanto, sinta o prazer em cada passo, e não fique preocupado com as coisas que ainda tem que superar. Não temos nada diante de nós, apenas um caminho para ser percorrido a cada momento com alegria. Quando praticamos a meditação peregrina, estamos sempre chegando, nosso lar é o momento atual, e nada mais.
Por causa disso, sorria sempre enquanto andar. Mesmo que tiver que forçar um pouco, e achar-se ridículo. Acostume-se a sorrir, e terminará alegre. Não tenha medo de mostrar seu contentamento.
Se pensa que paz e felicidade estão sempre adiante, jamais conseguirá atingi-las. Procure entender que ambas são suas companheiras de viagem.
Quando anda, está massageando e honrando a terra. Da mesma maneira, a terra está procurando ajudá-lo a equilibrar seu organismo e sua mente. Entenda esta relação, e procure respeitá-la – que seus passos sejam dados com a firmeza de um leão, a elegância de um tigre, a dignidade de um imperador.
Preste atenção ao que acontece a sua volta. E concentre-se em sua respiração – isso o ajudará a libertar-se dos problemas e das ansiedades que tentam acompanhá-lo em seu caminho.
Ao caminhar, não é apenas você que está se movendo, mas todas as gerações passadas e futuras. No mundo chamado de “real” o tempo é uma medida, mas no verdadeiro mundo não existe nada além do momento presente. Tenha plena consciência que tudo que já aconteceu e tudo o que acontecerá está em cada passo seu.
Divirta-se. Faça da meditação peregrina um constante encontro consigo mesmo; jamais uma penitência em busca de recompensas. Que sempre cresçam flores e frutas nos lugares onde seus pés tocaram.

O direito a fantasia

"Nos últimos 37 anos, o número de súplicas estapafúrdias segue aumentando e quase ninguém mais se lembra de agradecer o mistério da existência, o poder transformador dos afetos, a liberdade de escolha, o contato com o que ainda resta de natureza, o encanto dos encontros, a poesia que há numa vida serena, a alma nossa de cada dia, essas coisas que parecem tão obsoletas e, pelo visto, são. Oh, Lord, desce daí, faz alguma coisa, que aqui embaixo já trocaram o abstrato pelo concreto e não demora estarão pedindo a parte deles em dinheiro." (Martha Medeiros)



O DIREITO À FANTASIA
Martha Medeiros
Jornal O Globo - 06/02/2005

Estive conversando com uma psicóloga que me disse que a maioria de suas pacientes sente uma culpa enorme em fantasiar - a não ser que seja com o George Clooney ou algum outro objeto de desejo localizado a milhas de distância e, portanto, inalcançável. Já se tiverem uma alucinaçãozinha com o vizinho do andar de cima, correm pra igreja e não saem de lá sem uma sacola de penitências.
Olho para o outro lado, onde está sentado um psiquiatra, e pergunto: isso é verdade? Ele confirma. Diz que a nossa cultura reprime até o pensamento. A imaginação é uma forma de pecado também.

Não foram poucas as vezes em que me senti uma ET, mas ainda reluto em me mudar para Varginha e esperar que um disco voador me resgate. Em vez disso, teimo e fico aqui mesmo, tentando entender o planeta em que vivo.

A cada dia me convenço que a infelicidade, a amargura, o tédio e as queixas diárias da maioria das pessoas são tesouros que elas preservam com o maior zelo. Sofrer lhes justifica a existência. Sentem-se mais vivas com sua penúria emocional do que usufruindo dessa tal de leveza que alguns alardeiam. Que leveza, o quê. Mulher séria é mulher contraída e obediente às leis que ela não inventou, mas respeita - e teme. Ela não é louca de arriscar perder o controle sobre si própria.

Reprimir nossas fantasias é uma amputação. A gente é o que a gente vive e também o que a gente delira, sonha, projeta, inventa, reconstrói, ousa - verbos raramente praticados no nosso santificado dia-a-dia. Fantasiar não resume-se a imaginar uma cena de sexo no elevador. É imaginar-se apartado do cotidiano conhecido, vivendo emoções mais arrebatadas, sendo uma pessoa totalmente diferente do que se é. Por que só é tolerado no carnaval?

Lantejoula, paetê, purpurina, maquiagem, pouca roupa, cores fortes: a gente tem tudo isso em estoque, nem precisa de produção. Basta fechar os olhos e enxergar para dentro. Há milhares de possibilidades de sensações a serem desfrutadas sem prejuízo algum para os outros ou para nós mesmos. É o mínimo que a gente merece depois de tantos anos de, digamos, trabalhos forçados.

Passamos a vida inteira cumprindo o que esperam de nós, respeitando os sinais de trânsito, pagando os impostos em dia, decorando senhas, sendo gentis, solidários, pacientes, chegando pontualmente ao serviço, sendo ótimos pais, ótimos filhos, fazendo a casa funcionar, economizando centavos, cuidando da higiene, ouvindo desaforos e grosserias de quem não nos compreende, e sem esboçar reação alguma, tudo para contribuir com a paz no mundo. Levantamos todo santo dia com disposição: da cama pro banho, do banho pro trabalho, dia após dia sem exaurir-se, porque faz parte da vida seguir as regras e ser um sujeito decente, e não há nada de errado com isso - mas não há só isso.

E o nosso lado marylin monroe, pitbull, al capone, serial killer, james dean, sharon stone, viking, cinderela, michael moore? Tudo o que nos fascina, horroriza e diverte: por que não experimentar sem sair do lugar?

Fantasiar é inofensivo, saudável e de graça. Ajuda a perder peso, e não a perder o controle. Muito pelo contrário: quem tem medo do próprio pensamento é que já está comprometido.