Ainda há tanto

"Onde estiveres, não percas a oportunidade de semear o bem...
Se a conversa gira em torno de uma pessoa, destaca-lhe as virtudes, recordando que todos ainda nos encontramos muito longe da perfeição.
Se o assunto descamba para comentários maliciosos, à cerca de certos acontecimentos, procura, discretamente, imprimir um novo rumo ao diálogo, sem te julgares superior a quem quer que seja.
Onde estiveres, não permitas que o mal conte com o teu apoio para se propagar...
Se muitos falam em tom de pessimismo sobre os problemas que afligem a Humanidade, demonstra a tua confiança no futuro, recordando aos interlocutores que nada acontece sem a permissão de Deus.
Se outros se transformam em profetas da descrença, quais se fossem eles mesmo os únicos a se salvarem do naufrágio dos valores morais em que o homem se debate neste ocaso de milênio, trabalha com todas as tuas forças na construção de um mundo melhor, porquanto um só exemplo tem mais poder de persuasão sobre as almas do que um milhão de palavras.
Onde estiveres, não te esqueças de que o bem necessita de ti como instrumento para manifestar-se e não cruzes os braços, como se nada tivesses a ver com o que acontece ao teu redor."
( ANDRÉ LUIZ - Do livro "CONFIA E SERVE", Francisco Cândido Xavier, Carlos A. Baccelli)


AINDA HÁ TANTO...
Paulo Roberto Gaefke
www.meuanjo.com.br

Ainda há tanto que fazer...
na minha vida há decisões que devo tomar,
na minha família, atitudes que pedem reflexão,
no meu trabalho, pessoas que pedem paciência,
pelas ruas pessoas que pedem compaixão.

E se me perco em meio as lamentações,
se me entrego as reclamações da alma queixosa,
paro e reflito, ainda há tanto o que fazer.

No amor, por vezes sinto a ausência,
por tantas vezes a solidão bate a porta,
decepções e amarguras me fazem parar,
um desejo de largar tudo e me fechar.

Se não entendo quem eu amo,
se espero mais do que podem me dar,
é minha alma carente que grita,
é um desejo infantil de amor eterno.

Paro e reflito, ainda há tanto que amar.
No dia a dia, sinto o cansaço chegar,
o nervosismo me ataca, quero brigar.
As pessoas parecem não me ouvir,
falo e repito a mesma coisa, e por vezes,
entre o desespero de querer acertar,
e a intenção de ser o melhor, eu me perco.

Sou alguém que não conheço,
faço coisas que até me espantam, sinto medo.
E se tento me esconder do mundo,
paro e reflito, ainda há tanto que aprender.

Refletir, aprender, fazer e amar,
eu me concentro nas possibilidades,
eu me agarro na esperança,
sou adulto, mas gostaria mesmo é de ser criança,
o mundo me aflige, sinto que não vou conseguir,
mas há algo em mim que grita e diz,
que ainda há tanto que ser feliz.

Acredite em você!

Confie em tudo que acontecer

"Muitos problemas que surgem no caminho das criaturas, são atrasos que parecem ser despropositados, negativos, indesejados, mas que, no seu silêncio, estão protegendo o espírito de quedas mais graves e dolorosas, ou lapidando-o para torná-lo monumental."
(Autoria Desconhecida)


CONFIE EM TUDO QUE ACONTECER
Roberto Shinyashiki
do livro "Tudo ou Nada"

Eu acredito que existe um Deus que cuida bem de nós e sabe o que faz. Eu acredito que a lógica de Deus é superior à minha capacidade de compreensão. Eu acredito que Deus nunca erra, embora, às vezes, eu não seja capaz de entender a razão de meu sofrimento.
Tudo o que acontece com a gente tem um propósito, tem um porquê. Basta olhar para trás, percorrendo nossa trajetória, para perceber quanto as experiências do passado – as dolorosas e as felizes – foram importantes para que chegássemos aonde estamos hoje.

Pessoas que tiveram doenças graves, um câncer, por exemplo, e precisaram fazer tratamentos dolorosos, como quimioterapia, normalmente passam a enxergar a vida de forma diferente depois que todo o sofrimento cessa. Percebem então quanto essa experiência difícil foi importante para que aprendessem muitas coisas sobre a vida que ainda não sabiam.

As jornadas mais complicadas sempre são aquelas que nos trazem mais sabedoria. Como nas histórias dos heróis de todos os tempos, há sempre o momento de enfrentar o grande desafio, de encarar a caverna mais profunda de toda a jornada. É nesse instante que o herói deve provar que tem força para seguir em frente.

O jornalista Mario Rosa mostra, em seu livro A Síndrome de Aquiles (Gente, 2001), uma imagem muito bonita do significado dos incêndios em nossa vida:
“Quem já foi a um parque como o Yosemite, na Califórnia, teve o raro privilégio de ver de perto o maior monumento vivo do reino vegetal: as legendárias sequóias. Essas árvores alcançam alturas impressionantes e chegam a viver até 4 mil anos. É quando se está diante de um portento tão poderoso como uma sequóia, vendo-a viva, tocando essa testemunha da História de nosso planeta, que quarenta séculos de vida deixam de ser apenas um número e passam a evocar uma forte emoção e algumas reflexões.
Uma sequóia já estava naquele mesmo lugar há 2 mil anos, quando Jesus nasceu. Quando a civilização egípcia estava terminando a construção da Grande Pirâmide de Gizé, as sequóias que hoje vemos vivas e pujantes já haviam brotado da terra.
Se compararmos a duração da vida de uma sequóia com a de um ser humano, descobriremos que cinco anos dessa árvore representam em relação ao todo de sua existência o mesmo que um mês significa para um ser humano. Assim, a explosão nuclear que devastou Hiroshima e Nagasaki e pôs fim à Segunda Guerra Mundial, vista sob a perspectiva da vida de uma sequóia, ocorreu não faz um ano. O fim da Guerra do Vietnã se deu no semestre passado. E a morte de Lady Di, há dois fins de semana.
Intrigados com tanta força e resistência, os cientistas, com o passar do tempo, foram descobrindo os fatores que fazem com que as sequóias sejam esse fenômeno de sobrevivência. Um dos segredos da vida de uma sequóia é o fato de que, por ser tão alta, atrai raios durante as tempestades. São justamente os raios que provocam incêndios que, por sua vez, destroem os galhos mais pesados da árvore, possibilitando-lhe que concentre sua seiva nos galhos realmente indispensáveis.
Em sua vida, raios, tempestades e incêndios são crises que, em vez de destruição, permitem purificação. Fazem com que ela não desperdice seiva, concentrando-se nos ramos essenciais. Isso permite que continue crescendo. E sobrevivendo”.

Tal como as sequóias, nós somos seres com poderes infinitos, precisamos apenas que alguns raios nos ataquem para conhecermos nossa força.
Muitas vezes a dor parecerá insuportável, as perdas, insuperáveis, os obstáculos, intransponíveis.
Mas, com fé e determinação, descobriremos que somos maiores que tudo isso e,
no final,
celebraremos nossas vitórias.

Solte a criança que há em você

"Confidências não são fáceis de receber, nem de expor. É preciso abordá-las com sabedoria, dosando o quanto se colocar e o quanto manter esses assuntos no coração. E como na vida não tem muita regra, é preciso testar, amar as pessoas e correr riscos. Quem se poupa demais deixa de viver, de aprender e crescer.
Os Mestres ensinam que está no tempo de crescermos emocionalmente. Segundo eles, desenvolvemos nosso aprendizado intelectual, mas no aspecto emocional, muitos de nós ainda se comportam como crianças sofrendo sozinhos com medo do escuro dos sentimentos." ( Maria Silvia Orlovas)


SOLTE A CRIANÇA QUE HÁ EM VOCÊ
Vera Ghimmel
http://somostodosum.ig.com.br

Somos conduzidos a acreditar que a nossa infância foi uma fase que ficou para trás. Ouvimos a todo instante que não podemos mais agir como criança. Carregamos a idéia que somos agora adultos e que não nos cabem mais certas atitudes. Com isso, engessamos o nosso emocional infantil no passado como se ele fosse algo impróprio.

Mas é aí que começam os problemas. Nossa criança ainda está conosco. É ela que se relaciona com a parte emocional das nossas relações como a educação dos filhos, convivência com os(as) companheiros(as), e tantas outras interações do nosso cotidiano.

Uma criança bem resolvida é um adulto equilibrado. E para ilustrar melhor, tomo como exemplo um atendimento em que um homem que exercia chefia num jornal, não se continha quando alguém deixava de comparecer às suas festas, principalmente a dos seus filhos. Agredia verbalmente o “faltoso” sem entender bem porquê.
Veio me procurar quando viu a iminente possibilidade de sair no braço com um grande amigo e colega que faltara à festa de seu filho, sem dar nenhuma satisfação. Ficou assustado com o ódio que lhe acometera diante daquele que nunca havia lhe feito nada de ruim.

Quando começamos a sessão, identifiquei, em seu campo energético, o registro de uma criança, de cerca de 2 anos, deprimida porque alguém tinha ido embora. Ele me relatou que sua mãe teria saído de casa, sem dar nenhuma satisfação e voltara há pouco tempo (cerca de 40 anos depois), batendo em sua porta, como se nada tivesse acontecido, com um discurso de “vim para conhecer os meus netos”.
Ele a recebeu perplexo e, como todo “adulto equilibrado e maduro”, deixou-a participar de sua vida. Mas a criança que habitava nesse homem não havia expressado a sua real tristeza, decepção e raiva pelo abandono e como não é “educado ou correto brigar com a mãe” ele descarregava a sua ira em cima de seus colegas e amigos que ousavam desaparecer sem dar satisfação.
Tão logo canalizei a imagem internalizada de sua mãe com o ar “blasé” de quem nada tinha a dizer, sua revolta e ódio se exteriorizaram. Nem preciso dizer que se não tenho um “santo forte”, quase apanhava. Era preciso expressar toda a sua tristeza, indignação e rejeição para que parasse de fazê-lo em situações outras.

Precisamos compreender que quando temos algo mal resolvido em infância, isso não ficará inerte em nossos arquivos. A vida tratará de atrair situações para que essa criança interior seja acordada e provocada. Na própria educação dos filhos, vemos eles repetirem as mesmas coisas que fazíamos quando criança. Essa é a prova de que passamos esse emocional infantil quando os educamos.

Quando reagimos com exagero diante de uma situação ou nos omitimos diante de responsabilidades, pode procurar que vai encontrar a sua criança interior com as mesmas reações. Ela precisa ser acolhida e se sentir amada e somente você pode fazer isso. Uma criança que foi castrada em sua espontaneidade, certamente será um adulto tímido, com medo de se expor, de se envolver afetivamente, insegura com seus próprios potenciais. O adulto é quem racionaliza, mas é a nossa criança que sofre.

Soltar a criança não significa sair por aí fazendo bobagens ou cometendo irresponsabilidades. Quando canalizo a criança do paciente e ele vê como verdadeiramente ela se encontra, é naquele momento que se tem a oportunidade de reeducá-la, ampará-la e lhe dar tudo aquilo que lhe faltou, resgatando a sua dignidade, sua emoção, sua alegria, sua auto-estima, sua criatividade e acima de tudo sua conexão natural com Deus. Uma criança bem reprogramada, certamente será um adulto feliz!

A arte de não adoecer

"Os obstáculos vem e continuarão a vir. Esta é a tarefa deles.
Mas você não deveria considerá-los como sendo obstáculos e sim como exames para torná-lo experiente.
A medida que o aluno avança na escola as provas ficam mais difíceis.
A medida que você se torna mais forte internamente mais obstáculos virão para testá-lo.
Dê boas vindas a eles. Sinta como se eles fossem uma escada para elevá-lo e assim você continuará a progredir ainda mais."
(Om Shanti)


A ARTE DE NÃO ADOECER
Dr. Drauzio Varella

Se não quiser adoecer - "Tome decisão".
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia.
A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões.
A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar,
saber perder vantagem e valores para ganhar outros.
As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções".
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas.
Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo.
Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão.
Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe.
Somos o que pensamos.
O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos".
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como:
gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.
Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer.
Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados.
O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências".
Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem,
quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc.,
está acumulando toneladas de peso...
uma estátua de bronze, mas com pés de barro.
Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas.
São pessoas com muito verniz e pouca raiz.
Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer - "Aceite-se".
A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos.
Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável.
Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores.
Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.
Se não quiser adoecer - "Confie".
Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona,não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras.
Sem confiança, não há relacionamento.
A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer - "Não viva sempre triste".
O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa.
A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.

"O bom humor nos salva das mãos do doutor".
Alegria é saúde e terapia.

O tempo que foge!


"Não deixe sua vida ficar muito séria. Viva como se estivesse num jogo, saboreie tudo o que conseguir, as derrotas e as vitórias, a força do amanhecer e a poesia do anoitecer." (Roberto Shinyashiki)


O TEMPO QUE FOGE!
Ricardo Gondim

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo".
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral (ou síndico) Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar explicando aos medianos se estou ou não perdendo a fé porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.

Tem certeza de que sabe ler?!

"Produz uma imensa tristeza pensar que a natureza humana fala, enquanto o gênero humano não escuta." (Victor Hugo)

TEM CERTEZA DE QUE SABE LER?!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Toda vez que a gente fala de encontros entre pessoas, independentemente do grau ou do rótulo que se dê a eles, inevitavelmente temos de ressaltar a importância do diálogo. Acontece que nem sempre nos lembramos do verdadeiro significado desta palavra!
Dialogar significa que um fala e o outro ouve e depois um ouve e o outro fala. Definitivamente, não é diálogo quando um só fala e o outro só ouve. Mas, pior do que isso, é quando os dois falam e nenhum dos dois ouve.

Entretanto, infelizmente é o que mais acontece nas relações. Os dois falam, mas nenhum dos dois ouve! Os dois estão abarrotados de suas próprias verdades, atolados de suas próprias convicções e, portanto, indisponíveis para se interessar pelas verdades e pelas convicções do outro.
Argumentam: “eu já sei o que você vai dizer!” ou “eu sei muito bem o que você quis dizer com aquilo”... e pronto – está destruída a chance de qualquer entendimento. Assim, as mais terríveis acusações são feitas, as maiores ofensas são alimentadas e uma lamentável disputa de egos fica a serviço de destruir, subjugar e machucar um ao outro.

Antes de começar uma conversa, especialmente aquelas mais difíceis, para as quais já vamos palpitantes e tensos, deveríamos passar por uma espécie de ‘câmera esvaziadora de crenças, conceitos e, sobretudo, preconceitos’. Somente desta maneira chegaríamos diante do outro com espaço suficiente para deixá-lo ‘entrar’. Ou seja, para de fato ouvirmos o que ele tem a nos dizer.
E aí sim a dinâmica seria harmoniosa: um fala e o outro ouve; um ouve e o outro fala. Alternadamente, atenta e respeitosamente, o objetivo seria cumprido, ainda que muitas outras conversas precisassem acontecer até que se esgotassem todas as dúvidas e mágoas.

Isso sim é desejar o consenso, é querer realmente um entendimento; é saber o verdadeiro significado da chance soberana que nos é dada de nos relacionarmos com as pessoas, seja lá sob qual pretexto for.
O que importa de fato não é o tema discutido nem tampouco a sua opinião. O intuito de se aprender a ler o coração do outro (isto é, ouvir o que ele tem a dizer) vai além de qualquer assunto ou veredicto: apresenta-se como o único caminho que nos conduz à oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores.

Por isso, antes de tentarmos impor a nossa verdade ao outro, que tal, por um dia que seja, ficarmos realmente atentos ao que ele tem a nos dizer... realmente ler o seu coração, respeitar os seus sentimentos?
Assim, quem sabe – por mais destoantes que eles sejam dos nossos – talvez possamos amorosa e humanamente acolhê-los, reconhecendo que somos todos aprendizes, moradores de uma mesma dimensão, sob as dores e as delícias de um mesmo Universo...
Por fim, é na capacidade de ponderar, refletir e aceitar o fato de que uma verdade é apenas um ponto de vista que está o real exercício de amor, tão escasso em nossas vidas ultimamente!

Perder a viagem

"Às vezes é bom se deixar conduzir pelos outros e apreciar a paisagem que eles nos revelam." (Estrela Guia)


PERDER A VIAGEM
Martha Medeiros

Você pede ao patrão para sair mais cedo do trabalho, pega um ônibus lotado, vai para um consultório médico que fica no centro da cidade, gasta seus trocados, seu tempo e seu humor, e, ao chegar, esbaforido e atrasado, descobre através da secretária que sua hora, na verdade, está marcada para semana que vem. Sinto muito, você perdeu a viagem.

Todo mundo já passou por uma situação assim, de estar no lugar errado e na hora errada por pura distração. Acontecendo só de vez em quando, tudo bem, vai pra conta dos vacilos comuns a qualquer mortal. O problema é quando você se sente perdendo a viagem todos os dias. Todinhos. É o caso daqueles que ainda não entenderam o que estão fazendo aqui.

Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por idéia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já lhes é tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar.

Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo.

Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso.

Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranqüilamente substituir as emoções.

Estão perdendo a viagem aqueles que se entregam de mão beijada às garras do tédio.