Promessas matrimoniais

"Em convivência e em amor, o que perdura através do tempo, mesmo que à custa de muita dificuldade e de um precário equilíbrio , revela a existência de uma relação profunda. Tempo nem sempre é acomodação. Muitas vezes é sinal de uma sabedoria intuitiva que autoriza a permanecer com a ligação mesmo quando ela pareça insatisfatória e incompleta. O que consegue vencer o tempo consegue vencer, também, impulsos passageiros com sabor de emoção e novidade." (Artur da Távola)


PROMESSAS MATRIMONIAIS
Martha Medeiros

Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre: "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?

Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?

Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?

Promete se deixar conhecer?

Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?

Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?

Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?

Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?

Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declara-os maduros!

Peças sem reposição

"Eu existo além daquilo que sou. Como todo mundo. Gosto de estar só e às vezes detesto me sentir sozinha. Amo as pessoas de uma maneira geral, gosto de ver rostos, imaginar as histórias que se escondem por detrás das rugas, olhos brilhando ou caras fechadas. Mas não gosto de estar no meio da multidão. Penso muito. Deus do céu, como penso! Devo ter uma maquininha no lugar do cérebro. Porém tenho um coração que se derrete à toa e o sofrimento dos outros me entra na pele. Na adolescência eu cheguei a me dizer que seria missionária. E devo ter seguido o caminho de Jonas, ter entrado no ventre da baleia e não pude fugir ao que o Senhor tinha reservado pra mim. E amo ao meu Deus por isso.
Portanto, junto de toda essa fortaleza que me faz ser quem sou, se algo sou, tem ainda aquela criança que ri do tudo e do nada, que gosta de fazer palhaçada, que gosta de atenção, chora por motivos bobos e outros mais sérios. Eu sou, em resumo, alguém que precisa de outras pessoas, apesar dessa aparência de mulher forte e decidida. Sou assim e me sinto assim muito pequena muitas vezes. Amigos sao essenciais para mim, mesmo se muitas vezes eu me isolo. Essa é minha necessidade e amigos de verdade compreendem. Sou assim..."
(perfil da escritora Leticia Thompson no orkut)


PEÇAS SEM REPOSIÇÃO
Martha Medeiros

Eu não entendo nada de pintura, mas reverencio quem tem o dom, e por isso corri para a exposição Paris 1900 assim que pude. Não é toda hora que se tem a oportunidade de ficar frente a frente com um Toulouse Lautrec, um Renoir, um Cezanne ou com uma escultura de Rodin, mesmo que não sejam suas obras mais importantes. Está tudo lá no Margs, ao alcance dos olhos. Mas não das mãos, pois trata-se de um museu, e exige-se modos: é proibido tocar, é proibido colocar o acervo em risco.

Pois estávamos eu e uma amiga apreciando um belo cálice esculpido por um dos artistas, muito bem protegido dentro de uma caixa de vidro, quando ela me contou que tinha um cálice em casa que ela também tratava como obra de arte. É um cálice que ela ganhou de presente do dono de um restaurante de Frankfurt, onde ela teve um jantar que mudou sua vida. Além de o cálice ser espetacular, tem um valor afetivo imenso, e ela o guarda quase que numa redoma, só falta etiquetar e direcionar um canhão de luz em cima. Outro dia ela se descuidou e viu seu sobrinho, um garotinho estabanado como qualquer outro, pegar o seu santo graal pra tomar água. Ela não enfartou por detalhe. Retirou o cálice da mãozinha dele e o substituiu por um bom copo de plástico colorido. O guri topou a substituição e ela voltou a respirar.

A troco de que todo esse papo? Pra lembrar que tem muita coisa na nossa vida que não tem reposição. Não falo apenas do Iberê que alguns sortudos têm na parede. Falo de pequenos cálices sagrados, que podem nem ser cálices. Na maioria das vezes são gente.

É exagero colocar numa redoma as pessoas que nos são caras, mas exceder-se no descuido é imperdoável. Amigos, principalmente os íntimos, esquecem com muita freqüência de serem gentis uns com os outros. Se a gente for perguntar por qual razão, "ora, porque somos amigos, não precisamos disso". Até que um dia colidem feio, se espatifam, e o carinho, que era para ter sido exercitado e não foi, vai fazer falta na hora de colar tudo de novo.

Pessoas não têm reposição. São obras de arte exclusivas, seguro nenhum compensa a perda. Às vezes, por causa de uma bobagem, uma lasquinha, a gente deixa de lado o que há de mais precioso no mundo: um relacionamento. Não nos damos o trabalho de restaurá-lo, seja por orgulho, presunção ou pela total falta de noção do que realmente é importante nessa vida.

Cálices belos e raros, quadros representativos de uma época, amigos, filhos e amores: únicos. Reproduções não valem nada.

Experiências

"Vergo mas não quebro. Se, diante de qualquer situação difícil,
persistirmos com entusiasmo e paciência, veremos imediatamente que as
tempestades fortes vergam a vontade mas não a quebram."
(R. Stanganelli)


EXPERIÊNCIAS
Iyanla Vanzant
in "A vida vai dar certo para mim"

Tenho fé e não sinto medo porque me disponho a testar o que sei.

As experiências da vida aparecem para nos tornar melhores. No momento em que você pensa que já tem tudo, coisas novas aparecerão em sua vida. Elas empurrarão, testarão e desafiarão você a crescer mais, aprender mais, fazer mais. Quando isso acontece, somos tentados a acreditar que cometemos algo errado ou perdemos algo. É difícil perceber que obtemos coisas boas dos momentos difíceis. No entanto, crescer, aprender, progredir, fortalecer-se são coisas boas que só obtemos nos momentos de desafios, em que somos testados.

A tenacidade fortalece o caráter e constrói a fé. À medida que sua fé cresce, torna-se mais difícil abalá-la. Você tem mais confiança em si, persiste com mais vigor na busca de seus objetivos, não desiste facilmente. Quando a vida nos testa, ela nos dá a oportunidade de avaliar nossas crenças. Você acredita que tem direito de receber o que for para o seu bem? Acredita que tem capacidade para resolver os problemas? Enfrentar os desafios? Superar as crises? Acredita que tem a quantidade de fé necessária para sustentar-se em todos os momentos? Só conseguimos saber tudo isso quando os acontecimentos nos testam. As provas mais difíceis são destinadas aos melhores alunos, porque eles têm capacidade para fazê-las! Talvez, por essa razão, à medida que avançamos e crescemos, os desafios parecem tornar-se maiores.

Até hoje, você pode ter achado que fracassou quando surgiu uma nova dificuldade.
Hoje, seja um bom estudante. Confie em você! Confie no que sabe! Desta vez, faça melhor do que já fez!
Disponha-se a dar os passos necessários para assegurar o desenvolvimento divino do seu ser.

Hoje, eu me dedico a saber que cresço e melhoro cada vez que enfrento um novo desafio em minha vida.

Testemunho

"Se você sentar-se ao pôr do sol
E lembrar as ações que praticou,
E lembrando encontrar
Um ato de desprendimento,
Uma palavra que tranquilizou o coração
Daquele que a ouviu;
Um olhar mais bondoso
Que caiu como um raio de sol onde ele foi
Então você pode considerar
Aquele dia bem vivido."
(George Eliot)


TESTEMUNHO
Lya Luft
in "Pensar é transgredir"

Para dar testemunho de meu tempo não preciso desfraldar uma bandeira partidária ou me enfiar nas trincheiras da guerra, nem as da violência cotidiana: na minha postura há de se refletir o que penso.

Para perseguir meus ideais não preciso me deixar matar: basta procurar a coerência, o que pode ser uma forma de heroísmo silencioso. Porém é bom lembrar que coerência rígida pode ser mediocridade.

Para ser boa filha não preciso me encolher, mentir, me afastar: os pais servem para fazer a gente crescer, eventualmente voar, ainda que seja para longe deles, mas sem que os laços de afeto precisem se romper.

Para ser boa mãe não preciso me vitimizar: a mãe-mártir desperta culpa e causa aflição. Só uma pessoa que se respeita e valoriza pode realmente amar seus filhos, prepará-los para não serem almas subalternas e lhes servir de eventual apoio.

Para ser boa amiga não preciso fingir nem mentir, vigiar nem agradar o tempo todo. Uma amiga verdadeira pode dar colo, abraço, escuta, dividir alegrias e ouvir confidências, mas não precisa bajular nem criticar.

Para ser boa amante não preciso me anular: basta - e já é difícil - ser estimulante e confiável, terna e cúmplice, quando for possível. Carinho não é servilismo nem sujeição.

Para ser inteira não preciso me defender erguendo barreiras à minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntar meus pedaços e me reconstruir mais inteira.

Para realizar alguma justiça social não preciso me despojar do que possuo, se o que tenho serve para a minha dignidade e não para o desperdício. O melhor é começar em casa, pois se pago miseravelmente a minha empregada, não posso pronunciar sem constrangimento palavras como "justiça" e "dignidade".

Para ser humana não preciso exigir de mim o que seria próprio de deuses, mas prestar atenção nos outros e abrir-lhes espaço, admitir o mistério de tudo, respeitar a vida, tolerar minhas fraquezas, aproveitar meus talentos e procurar o dom da alegria - que é fundamental.

Para viver bem devo eventualmente pensar na morte, não como um susto mas estímulo para ser melhor; para morrer bem devo curtir minha vida de um jeito positivo, não me enxergando como a última nem a primeira das criaturas, mas vivendo de modo que para alguém ao menos eu tenha feito alguma diferença.

Pois alienação é também cultivar a amargura e ignorar que a vida pode ser boa, o amor positivo, o ser humano comovente, e o significado de tudo acessível ao coração e ao sonho.

Se não posso corrigir os males do mundo, da minha reduzida condição pessoal, posso ao menos não colaborar para que ele se torne mais violento, mais mesquinho e mais cruel.

Marque com X

"Ninguém sabe o que há dentro de si,
até ter que colocar para fora."
(Ernest Hemingway)


MARQUE COM X
Ailin Aleixo
http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

O que você precisa ter para ser amado?

Durante muito tempo acreditei que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Ficava enfeitiçada com citações, elucubrações e teses. Mas não era. De nada adianta um perito em física nuclear, se ele não rir das pequenas besteiras que faz, se não souber aproveitar um sábado quente simplesmente não fazendo nada (e curtindo o ócio), se virar um psicopata quando alguém o fecha no trânsito. Então saquei: bom humor era o que mais me atraía.

Sempre achei delicioso estar com alguém que não vê o mundo como uma grande e monstruosa boca cheia de dentes prestes a mastigá-lo, que vive sem arrastar correntes, faz de tudo uma possível piada. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, tudo o que quero é alguém que me escute e diga algo que me conforte a alma. E, nesses momentos, o pior que pode acontecer é ser levada na piada - existe uma grande diferença entre alegria de viver e recusa a sair da infância. Pois é, não era bom humor o que me fazia amar alguém: era, antes, sensibilidade.

Telefonemas de bom-dia, atenção a informações aparentemente banais mas que dizem muito a meu respeito, não ficar azedo e arredio por causa das minhas pequenas (ou grandes) oscilações de humor - tudo o que eu podia querer. Quase tudo. Tenho personalidade forte e só sobrevive ao meu lado um homem que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas tenho que sentir que quem está comigo é um homem de verdade e não um principezinho criado pela avó. Quero ser domada, tomada. Mais uma vez minha certeza caiu por terra: nem inteligência, bom humor ou sensibilidade eram o que me fazia amar alguém. Era - isso, sim - virilidade.

Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha, ser jogada na mesa de jantar sem tempo pra pensar no que está acontecendo, só sentir e saber o tesão incontido daquele homem por mim. Ser desejada com urgência e paixão é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta, pelo menos não depois da décima trepada monumental: quando acaba o suadouro, o que resta? Se pouco importa o saldo, o que interessa mesmo é a movimentação, então estamos feitos. Mas, se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhada de carinho. Taí: pensei, então, que carinho era a pedra fundamental pra despertar meu amor.

Mas logo descobri que não era. Carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora para alguém que pouco nos importa mas a quem também não queremos mal. Não bastava, era muito pouco. Daí constatei que o essencial para que eu amasse alguém era notar no outro a vontade de ficar, o desejo de estar comigo. Constatei coisas demais e fiquei paralisada diante do ideal que havia criado: absurdo e fictício.

Hoje, enfim, aprendi que toda enumeração é uma estupidez e qualquer tipo de formulário emocional, uma passagem sem escalas pra frustração. Claro que gosto de homens cultos, atenciosos, interessantes, divertidos e viris - seria mentira negar. Mas a verdade é que, para que eu ame alguém, basta que eu ame alguém. Porque, quando se precisa justificar o amor, é porque ele não existe. Simples assim.

Surpreeeesa!

"Quando algo começar a te enlouquecer, enfernizar ou surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos. Ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva." (Ailin Aleixo)


SURPREEEESA!
Ailin Aleixo
http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

Por que odiamos tanto quando as coisas não acontecem como o esperado?

Não se explica por que você odeia beterraba ou não consegue ser simpático num primeiro encontro. Explica-se a relação entre o aumento do dólar e a crise da Argentina, mas não por que você ama alguém. Ou odeia, irrita-se, quer estar próximo. E aí você fica perdido. No exato momento em que se percebe inapto para racionalizar, o chão se abre. A boca seca. Seus quatrocentos anos de estudo não servem para nada. Sua mente embaça como espelho de banheiro. Você fica nervoso... E então nota que só aprendeu a lidar com o programado: pagar contas, ganhar dinheiro, jogar bola com os amigos, beber no mesmo bar com as mesmas pessoas no mesmo dia da semana - e encontra no conhecido sua zona de conforto. Na rotina, sua segurança.

"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."
Você não se enquadra na descrição? Ah! Adora aventura e planeja viajar pro Camboja de bicicleta? Você planeja... Assim como planeja em qual cargo estará daqui a um ano, a cantada que passará na garçonete gostosa ou qual desculpa dará para não almoçar na casa da sua mãe? Sei. Mas, se por um acaso qualquer você fosse demitido, a garçonete passasse a mão na sua bunda e sua mãe não te convidasse para almoçar, o que aconteceria?
Você ficaria perdido. Desorientado. De repente, estaria jogado num território novo e perceberia que sabe lidar com injeção eletrônica, fibra óptica, computador e avião, mas ignora completamente o que se passa em você. Notaria que dedicou a vida a compreender e explicar o que acontece ao seu lado e ignorou solenemente aquilo que não se coloca numa tabela do Excel, que nenhum gráfico mostra.
Notaria que não prestou a mínima atenção em si porque estava ocupado demais verificando seu extrato. Agora você tem dinheiro na conta e paga terapeuta, massagista, professor de ioga... e continua vagamente triste.

Infelizmente muitos nunca se deparam com um momento de auto-análise forçada: trabalham, bebem, transam e vão ao cinema. São onipotentes deuses de seus pálidos microcosmos, mas morrem carregando a sensação de vazio, a vaga tristeza. Fazem um esforço danado para não se perderem numa paixão, não confiarem demais nos outros, não falarem muito, manterem o controle. E conseguem. Conseguem não viver - comem chocolate e não fecham os olhos para catalisar o sabor do creme se derretendo na língua. Casam-se e compartilham o cotidiano, não a vida. Lêem centenas de livros e não são tocados por nenhum. Passam pela vida. E só.

"Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?"
Não se explica. Nem é preciso. Basta nos convencermos de que não precisamos inferir intelectualmente cada detalhe da vida - nunca entenderemos por que o olhar de sicrana nos mata ou o andar de beltrana nos dá tesão. E será que precisamos?
"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento." Clarice Lispector não teve uma vida lá muito feliz, por isso se pode aprender tanto com ela. Aprender a não repetir os mesmo erros. E, acima de tudo, aprender que cada um "terá que correr o sagrado risco do acaso. E substituir o destino pela probabilidade", porque o que torna a vida interessante é o fato de não a controlarmos.
Não existe nada mais maravilhoso do que poder ser surpreendido.

Momento exato...

"Não devemos permitir que nossos medos nos impeçam de perseguir nossos sonhos"
(John Fitzgerald Kennedy)


MOMENTO EXATO
Aldo Novak

A NASA sempre explica que suas naves devem ser enviadas ao espaço quando as "janelas de lançamento" estão "abertas". Mas o que são as janelas de lançamento? São os momentos exatos nos quais as órbitas planetárias permitem que o foguete seja lançado do modo certo, na direção certa e consumindo o mínimo de combustível. Em nossa vida, também temos "janelas de oportunidades", que não podemos perder.

Tudo na vida tem o "momento exato". Por isso, não adianta querer ter um filho aos 10 anos de idade, ou aos 90. Existe uma "janela" de tempo que deve ser respeitada -- neste exemplo, bastante flexível. Mas será que você não está, neste momento, olhando demais para a vida e fazendo de menos? Será que não está demorando demais para pegar aquela oportunidade?

A maioria das situações na vida, é o resultado de mudanças graduais. As coisas começam a acontecer e quase não nos damos conta. Então, um dia, o que era gradual e quase invisível passa por uma linha imaginária e, de repente, a gente nota que algo aconteceu, algo mudou. Chegou o momento exato. A janela se abriu.

Esse momento exato é muito importante. Em qual momento exato aquela atração imperceptível explodiu e derrubou todas as barreiras, se transformando em uma paixão arrebatadora? Você se lembra da hora, do minuto? Lembra de que roupa a pessoa estava usando? Lembra dos olhos dela? Ou já faz tanto tempo que esse amor cresceu e tomou conta de tudo e diversos momentos parecem o momento exato? Por outro lado, o tempo pode ter desgastado o momento exato.

Em que momento exato você descobriu a paixão por uma carreira, um caminho na vida, algo que desse enorme prazer em trabalhar horas e mais horas, em um ritual que muitos classificariam de monótono, mas que você vê como a construção de sua própria catedral pessoal de existência, sua Missão aqui?

Em que momento exato você descobriu uma solução inesperada, elegante, exeqüível para as turbulências pelas quais você, sua família ou sua empresa passava?

O momento exato das coisas que passaram pode até estar esquecido nos porões da memória. Mas o momento exato das coisas que você passará hoje, deve capturar sua atenção.

Olhe para o dia de hoje como uma chance para Momentos Exatos.

Olhe para o dia de hoje como uma bifurcação na estrada e pergunte para aquela pessoa diante do espelho: qual dos caminhos parece ter mais chances de realizar mais minha vida, meu coração e será lembrado muitos anos, a partir de hoje, como um... momento exato? Não podemos adivinhar o futuro, mas essa pergunta ajuda a acabar com a "cegueira" no presente.

Tenha coragem de escolher o caminho certo, no momento exato. Porque perder a bifurcação certa, na estrada, pode fazer com que você se lembre deste dia como aquele em que você perdeu sua chance, transformando o momento exato... no momento errado! Talvez você enfrente situações constrangedoras -- nem todo mundo vai entender o seu momento exato. Mas, como diz Lair Sanches: "É melhor ficar vermelho uma vez, no momento certo, do que amarelo para o resto da vida." Cancelar o casamento é ficar vermelho? Trocar de emprego é ficar vermelho? Fazer algo ridículo é ficar vermelho? Trocar de curso universitário é ficar vermelho? Pense na alternativa: amarelo para o resto da vida.

Reflita alguns minutos sobre isso: será que você não está demorando d-e-m-a-i-s para pegar aquela oportunidade? Fazer aquela viagem? Abrir seu coração ao amor? Lançar sua carreira? Pegar aquele emprego? Será que você não está deixando o tempo passar? A janela da oportunidade vai se fechar, tenha certeza disso. E depois que for tarde demais, não adianta chorar.

Hoje é o dia. Hoje é o seu momento exato. Não deixe a janela se fechar. Aguarre este momento como se fosse o último... porque pode ser que seja mesmo. Por isso, faça seu mundo mudar.

Olhe para seu relógio. Que horas são? Este é o momento exato.