Pequenos milagres

"A responsabilidade em cuidar de alguém pode ser física, mental e emocionalmente esgotante.
Tenha uma rede de apoio - de amigos ou de outros assistentes - para ouvir, entender, rir, descontrair, aliviar sua mente.
A vitalidade é restaurada com uma escapulida ocasional da realidade diária.
Experimente ir a lanchonete e dividir um sundae de chocolate com alguém especial.
Mesmo que você seja endocrinologista.
E sempre perdoe-se por não ser capaz de fazer tudo ou conseguir o melhor em tudo.
Seja o que for que decida oferecer ao seu doente, será uma dádiva singular e bastará para Deus ajudá-lo. "
(Julie Kuebelbeck e Victoria O'Connor)



PEQUENOS MILAGRES
Fonte(*): Livro "Pequenos Milagres II"
Autores: "Yitta Halberstam & Judith Leventhal"


John Evans* estava de péssimo humor. Pratos sujos lotavam a pia imunda, havia brinquedos espalhados pelo chão da cozinha, pilhas de jornais velhos se amontoavam na mesa de jantar e montes de roupa suja esperavam no sofá da sala. Do quarto das crianças vinha uma cacofonia de berros enlouquecidos e música alta.

- Não agüento isso tudo! - pensou John, frustado e furioso consigo mesmo por não ser capaz de lidar com o caos que tomara conta de sua casa.
- Como é que a Heather lidava tão perfeitamente com a casa e com as crianças? - perguntava-se estupefato. - Ela sempre pareceu ter tudo sob controle.
Heather, sua adorada esposa de dezessete anos, morrera três meses antes de câncer de mama. John ficara arrasado com sua morte, mas não tivera tempo suficiente para ficar de luto. Fora deixado com seis crianças que variavam entre três e quinze anos e só podia pagar uma governanta para trabalhar meio expediente algumas vezes por semana. Ele trabalhava exaustivamente como contador em uma grande empresa, e a época dos impostos estava próxima. Manter sua carga de trabalho e alguma aparência de ordem em casa começava a parecer demais. Ele sentiu que não ia agüentar.
- Vamos brincar de esconde-esconde! - gritaram as duas crianças mais novas, Todd, de três anos, e Tracy, de quatro, enquanto disparavam pela sala de estar, alheios ao pai sentado à escrivaninha.
- Você se esconde primeiro! - ordenou Tracy. - Vou contar... um, dois, três, quatro... lá vou eu!
- Pai... - Jeff, de quinze anos, perambulava pela sala. - Você viu o meu CD do "Carne Assada"?
- Pai - Susie chamava do quarto onde estava fazendo uma dissertação sobre um livro -, pode me ajudar aqui?
- Papai... - Mike, de oito anos, puxou seu braço. - Não estou entendendo o dever de matemática. Pode me explicar?
- Papai! - gritou Tracy enquanto voltava para a sala, carrancuda. - Não consigo encontrar Todd em lugar nenhum. Você o viu?
- Vocês não estão brincando de esconde-esconde? - John disse distraído, esfregando as têmporas, onde uma veia começava a latejar.
- Sim, estamos. Mas onde ele pode estar? Procurei em todos os lugares.
- Continue procurando, querida. Ele provavelmente encontrou um lugar fantástico no qual você não pensou - respondeu John enquanto atendia à porta.
Um mendigo esperava nos degraus.
- Sim? - John resmungou irritado.
- Boa tarde! - o homem disse animado. - A Sra. Evans está?
- A Sra. Evans morreu.
- Oh, meu Deus! - o homem pareceu chocado. - O que aconteceu?... Sinto muito... Que senhora maravilhosa... O que aconteceu?
- Câncer de mama - John rosnou.
- Papai! Papai! - Tracy correu para a porta, puxando a manga de John com insistência. - Eu ainda não consegui encontrar o Todd. Procurei em todos os lugares!
- Querida! - John respondeu com impaciência -, a porta da frente estava trancada quando a abri. Ele não saiu de casa. Está aqui em algum lugar. Ele é pequeno, provavelmente se espremeu em um lugar no qual você não pensaria. Você só tem que procurar mais!
- Ouça - ele disse, virando-se para o mendigo -, sinto muito, mas não posso conversar agora... tenho milhares de coisas para fazer, estou até o pescoço. Tome! - e enfiou dois dólares na mão do mendigo.
- Hã... Sr. Evans... - o mendigo se movia desconfortável. - Perdoe-me por incomodá-lo em um momento tão difícil como este, mas será que o senhor teria alguma coisa para eu comer?
- Você pensa que os dois dólares são para o quê... birita? - perguntou John rudemente.
- Sr. Evans - disse o mendigo, olhando-o com reprovação. - Sua esposa era uma mulher muito especial. Sempre que eu batia à sua porta ela nunca me dava menos de dez dólares. E ela sempre me convidava para fazer uma refeição quente. Eu nunca esquecerei sua bondade. Devo muito a ela.
- Bem, eu não sou minha esposa - John exasperou-se.
- Sr. Evans - o mendigo suplicou. - Não comi o dia todo. Com certeza o senhor tem algo na geladeira que possa me dar?
- Tudo bem, entre - John disse relutante.
Enquanto acompanhava o homem até a sala, ele viu Tracy espiando debaixo do sofá.
- Ainda não conseguiu encontrá-lo, querida? - perguntou.
- Papai... faz tanto tempo... Por que o Todd ainda não saiu do esconderijo?... Estou preocupada.
- Por favor, Sr. Evans... Estou com tanta fome! - interrompeu o mendigo.
- Bem, onde quer que Todd esteja, ele definitivamente merece um prêmio por fazer você procurar tanto tempo por ele, não é? - John disse distraidamente para Tracy, enquanto se dirigia para a cozinha.
Abriu a geladeira e lá dentro, todo encolhido, azul e inconsciente, estava Todd.

- O senhor o encontrou no momento exato - o médico do hospital disse a ele mais tarde, na sala de emergência. - Mais alguns minutos na geladeira e ele com certeza teria morrido. Que sorte tê-lo encontrado em tempo! Nós o reanimamos e ele ficará bem.
- A pessoa que estava com fome naquele momento e o fez abrir a geladeira - o médico riu por cima do ombro enquanto ia embora - salvou a vida de seu filho!

(*) Este livro é uma coletânea de histórias reais acerca de "coincidências" que tocaram, de alguma forma, a vida das pessoas.

Trezentos e sessenta e cinco dias

"Perdão é o perfume que a violeta deixa no pé que a amassou." (Mark Twain)



TREZENTOS E SESSENTA E CINCO DIAS
Rosemarie Giessinger
Fonte: Livro "Histórias para Aquecer o Coração 2";
Autores: Jack Canfield e Mark Victor Hansen


De acordo com meus amigos, sou uma pessoa segura e educada, razoavelmente inteligente, organizada e criativa. Mas, na maior parte de minha vida adulta, por quatorze dias em cada ano, eu me sentia como se não tivesse nenhuma dessas qualidades. E o pior é que isso acontecia quando meus pais - que moravam a dois mil e quinhentos quilômetros de distância durante trezentos e cinqüenta e um dias no ano - vinham me visitar. Em todos os outros dias eu levava minha vida muito bem, como esposa, mãe, executiva e fazendo meu trabalho voluntário. Mas a visita deles era uma verdadeira tortura para mim.

Essa é uma história muito antiga. Como filha mais velha, tinham sido colocadas muitas expectativas de sucesso e responsabilidade sobre mim. E a minha sensação era que, por mais que eu fizesse, nunca correspondia a elas. O fato de ter ido morar longe, com um marido que me amava do jeito que eu era, trouxera uma grande libertação. Mas bastava que meus pais - meu pai sobretudo - se aproximassem para acordar a menininha intimidada que persistia em existir dentro de mim. Eu me sentia ressentida com eles por ainda terem o poder de me fazer sentir insegura e incompetente.

Não era apenas eu que sofria durante as visitas dos meus pais - todos à minha volta sofriam também. Com certeza meu querido marido - estamos casados há trinta anos - sofria comigo. Nas semanas anteriores à visita, eu limpava a casa, infernizava meu marido para consertar tudo o que estivesse quebrado, comprava novas cortinas, travesseiros e lençóis. Planejava refeições finas, enchia o congelador de comida e ficava atrás dos meus filhos para arrumarem os quartos, terem bons modos, falarem em voz baixa. Durante a visita havia sempre uma aura de tensão ao meu redor, como um véu diáfano (talvez fosse mais como um cobertor de lã molhado!). Depois da visita seguiam-se noites de discussões com meu marido. Eu ficava tentando decifrar o que meu pai dissera ou não dissera. E chorava muitas vezes, sentindo-me uma criança rejeitada e exausta. Em trinta anos de casamento houve vários altos e baixos, mas a prova real do amor de Dave era me ajudar a sobreviver a essas visitas!

Um dia, uma amiga me convidou para participar de um grupo de espiritualidade e um mundo novo se abriu para mim. Passei a ler sobre o assunto e a meditar diariamente, e fui adquirindo uma paz interior que nunca conhecera. O tema que mais me atraía era o do perdão. Perdoar, desapegar-se dos ressentimentos, compreender que aqueles que nos fizeram sofrer na maioria das vezes não tinham consciência disso e reproduziam apenas algo de que tinham sido vítimas.

Então papai foi acometido do mal de Parkinson. Em pouco tempo, o homem cheio de vida, inteligente, o deus atlético da minha infância se transformou num velhinho cambaleante, desolado e confuso. Talvez essa sua vulnerabilidade tenha evidenciado os aspectos frágeis de sua personalidade. O fato é que tornou-se muito mais fácil para mim perdoá-lo.

E assim eu fiz. Apenas disse várias vezes em voz alta: "Eu perdôo você, papai." A mágoa foi se dissolvendo e deixando fluir o amor que eu sentia por ele. Consegui ir me livrando das imposições e exigências que já não vinham de meus pais, mas de mim mesma. Tomei posse do meu ser, do meu próprio desejo, dos meus sentimentos, e tudo isso me trouxe muita paz.

Jamais disse explicitamente a meu pai que o havia perdoado, mas isso deve ter ficado claro para ele em algum nível, porque toda a nossa relação se transformou.

No verão anterior à sua morte, papai veio sozinho ficar conosco por duas semanas. Eu o recebi com tranqüilidade, sem os preparativos e a tensão das outras vezes. Senti-o como um amigo com quem foi bom conversar de coração aberto, falando de mim e ouvindo-o contar sua vida. Pela primeira vez em nossas vidas tivemos gestos de carinho um com o outro e ele disse como se sentia à vontade em nossa casa, como era bonito o meu jardim florido. Na hora de se despedir, meu pai me abraçou forte, beijou a minha testa e disse algo que nunca dissera antes: "Minha filha, eu te amo muito".

Meu pai nunca mais voltou à minha casa. Depois que ele morreu, minha mãe mandou fazer um vídeo, com fundo musical e tudo, com as passagens mais gloriosas de sua vida. Levanto os olhos do que estou escrevendo e vejo a fita cassete na prateleira de livros. Jamais assisti ao vídeo. O essencial de minha vida com meu pai se concentrou naquelas duas semanas. As lembranças que quero guardar são de papai na varanda, na cadeira de vime, banhado pelos raios de sol, regando as plantas, brincando, conversando, partilhando a vida conosco - e me amando.

O perdão total e incondicional trouxe conforto para minha alma e me abriu as portas para uma vida que eu não imaginava possível.
Agora, além de ser esposa, mãe, avó e conselheira espiritual, sou uma pessoa inteira trezentos e sessenta e cinco dias no ano.

Quando Deus aparece

"Mestre e discípulo caminham pelos desertos da Arábia. O Mestre aproveita cada momento da viagem para ensinar ao discípulo sobre a fé.
- Confie suas coisas a Deus – dizia. – Porque Ele jamais aban­dona seus filhos.
De noite, ao acamparem, o Mestre pediu que o discípulo amarrasse os cavalos numa rocha próxima. O discípulo foi até a rocha, mas se lembrou do que aprendera durante aquela tarde. 'O Mestre deve estar me testan­do. Na verdade, devo confiar os cavalos a Deus'. E deixou os cavalos soltos. De manhã, descobriu que os animais que haviam fugido. Revoltado, procurou o Mestre.
- O senhor não entende nada sobre Deus! Ontem aprendi que devia confiar cegamente na Providência, entreguei a Ele a guarda dos cavalos, e os animais desapareceram!
- Deus queria cuidar dos cavalos - respondeu o Mestre. - Mas, naquele momento, Ele precisava de suas mãos para amarrá-los, e você não as emprestou." (Paulo Coelho)


QUANDO DEUS APARECE
Martha Medeiros

Tenho amigas de fé. Muitas. Uma delas, que é como uma irmã, me escreveu um e-mail me contando a maravilha que foi o recital do pianista Nelson Freire no Theatro São Pedro, recentemente. Ela escreveu: Nessas horas Deus aparece.
Fiquei com essa frase retumbando na minha cabeça. Deus não está em promoção, se exibindo por aí. Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. Eu não sou uma católica praticante e ritualística - não vou à missa. Mas valorizo essas aparições como se fosse a chegada de uma visita ilustre, que me dá sossego à alma.

Quando Deus aparece pra você?

Pra mim, ele aparece sempre através da música, e nem precisa ser um Nelson Freire. Pode ser uma música popular, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende.

Deus me aparece nos livros, em parágrafos em que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano.

Deus me aparece - muito! - quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de Deus, se ele tivesse uma.

Deus me aparece - e não considere isso uma heresia - na hora do sexo, desde que feito com quem se ama. É completamente diferente do sexo casual, do sexo como válvula de escape. Diferente, preste atenção. Não quer dizer que qualquer sexo não seja bom.

Nesse exato instante em que escrevo, estou escutando My Sweet Lord cantado não pelo George Harrison (que Deus o tenha), mas por Billy Preston (que Deus o tenha também) e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com Ele, ritmado pelo rock’n’roll. Aleluia.

Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer. Quando uma amiga me liga de um país distante e demonstra estar mais perto do que o vizinho do andar de cima. Deus aparece no sorriso do meu sobrinho e no abraço espontâneo das minhas filhas. E nas preocupações da minha mãe, que mãe é sempre um atestado da presença desse cara.

E quando eu o chamo de cara e ele não se aborrece, aí tenho certeza de que ele está mesmo comigo.

Aprimoramento interno

"Podemos buscar a felicidade sem termos de buscar a alegria permanente”. (Dr. Py)


APRIMORAMENTO INTERNO
Fonte: http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0136/felicidade-100-por-cento-natural-04.shtml

Tempos difíceis. Sensação de impotência. Desânimos. Quem nunca vivenciou essa trilogia? Segundo o médico indiano Deepak Chopra, mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis, sempre há algo a ser feito. Se não fora, certamente, dentro de nós. Essa é a tese defendida no livro The Ultimate Happiness Prescription: 7 Keys to Joy and Enlightenment (ainda sem tradução em português). A seguir, resumimos os sete princípios apresentados pelo autor. Siga essa trilha e veja que pontos você pode melhorar para ser mais feliz.

1) Esteja atenta a seu corpo
Seu corpo e o Universo são um único campo de energia, informação e consciência. Ao escutar seu organismo e atendêlo com atenção, você adentra o campo das infinitas possibilidades, onde naturalmente irá achar paz, harmonia e alegria.

2) Encontre a verdadeira autoestima
Querer bem a si mesma não é igual a lapidar sua autoimagem. O verdadeiro eu está além das aparências. Reside num nível de existência que independe das opiniões dos outros, boas ou más. Quando você se alinha a essa fonte, encontra um tipo de felicidade que ninguém pode tirar de você.

3) Desintoxique sua vida
Emoções, hábitos, relacionamentos e substâncias de natureza tóxica contaminam o corpo e a mente. Para desintoxicar sua vida, você precisa aprender a reverter a cadeia de condicionamento. Primeiro, se responsabilizando por suas atitudes. Depois, reconhecendo e liberando seus sentimentos para que possa seguir adiante.

4) Desista de estar sempre certa
Todos os relacionamentos se deterioram por causa do confronto entre certo e errado. Desistir da necessidade de estar certa não significa abrir mão de seus pontos de vista. Apenas aderir ao estado de não defesa, onde não existe mais o que ser atacado ou defendido. Lembre-se: somos todos uma única consciência.

5) Concentre-se no presente
O momento presente é o único tempo que é eterno. Jamais morre, nem deve ser esquecido. Por isso, no aqui e agora, a felicidade não pode ser retirada de você. Estando inteira, você experimenta a suspensão do tempo. Esse é o portal que leva você ao encontro do seu verdadeiro eu.

6) Reconheça o mundo em você
O mundo interno e o externo se espelham. Portanto, se sua consciência vibra na frequência do amor, esse sentimento estará tanto dentro quanto fora de você. Assim, um fluxo de felicidade e abundância se manifestará quando tiver alcançado o nível mais profundo de si mesma.

7) Viva pela iluminação
Este é o mais consciente estado da existência e também o mais natural, porque é de onde você se originou. Um lugar de amor, paz e alegria profundos. Quando a ele retornar, irá experimentar a unicidade com Deus. Nesse momento, perceberá que seu desejo por felicidade era apenas o começo. Seu anseio mais profundo era pela liberdade que vem da consciência plena.

Mulherão

"Mulher não nasce, Estréia !
Estréia na vida, no trabalho;
Estréia na escola, que seja da vida; mas estréia.
Estréia na faculdade, no teatro, que seja o da vida, mas estréia.
E de estréia em estréia, vai ficando aos poucos Mulher dos acontecimentos, do dia a dia.
Estréia no Amor; nas Emoções; e nos Sentimentos.
Estréia também nas decepções dos relacionamentos;
reais ou virtuais, não importa;
amorosos ou não, mas estréia.
Estréia na escolha dos parceiros que algumas vezes podem decepcioná-la, mas estréia.
Estréia na maternidade, onde certamente se dá o mais lindo fenômeno da vida: o Nascimento !
O choro, o primeiro de muitos que certamente virão.
A mulher é completa;
nos sentimentos, nos gestos, nas emoções;
e na maioria de suas ações.
Seja pessoal, ou profissional,
Ela conquista o direito da luta sem par.
E ganhando em sua vivência,
Estréia na maior de suas experiências
O direito de se ver e se sentir mulher.
Mulher se não nasce, também não morre, muda de dimensão;
deixa o carinho, a saudade, a lembrança enfim.
Uma prova viva da sua Estréia."
(Jorge Oliveira)

MULHERÃO
Martha Medeiros


Peça para um homem descrever um mulherão.
Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos...
Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80 m, siliconada e com um lindo sorriso.
Mulherões, dentro desse conceito, não existem muitas: Vera Fisher, Malu Mader, Adriane Galisteu, Letícia Spiller, Lumas e Brunas.

Agora, pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina...
Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir ao trabalho e mais dois para voltar e, quando chega em casa, encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.
Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de R$ 100,00.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta e uma família todos os dias da semana.
Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.
Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dietas, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.
Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos na natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.
Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega. É quem, de manhã bem cedo, já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava a roupa para fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e, à tarde, trabalha atrás de balcão.
Mulherão é quem cria os filhos sozinha, é quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação.
Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.
Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.
Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia!


Não ´q 'o que' se fala, mas 'como' se fala

"Quanto mais endurecido e inflexível, mais fácil de se quebrar diante de fortes impactos. Esta teoria – fisicamente constatável – não vale apenas para os objetos, mas, sobretudo e cada dia mais, para o comportamento humano.
Num mundo onde os produtos são perecíveis e os desejos são fugazes, a flexibilidade destaca-se como meio de sobrevivência. É a chave para a resiliência e também mote para o sucesso, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Fácil assimilar quando entendemos que não dá para crescer na rigidez. O crescimento, por si só, é maleável, moldável e adaptável às novas medidas e aos novos formatos. Sendo assim, inteligente é quem aprende a metamorfosear." (Rosaga Braga)



NÃO É 'O QUE' SE FALA, MAS 'COMO' SE FALA
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Não foram poucas as vezes em que presenciei conversas entre duas ou mais pessoas onde tudo o que bastaria para um ‘final feliz’ seria um outro modo de se dizer as coisas... Inclusive comigo mesma, que sou uma auditiva assumida (todos nós temos uma predominância entre ser mais ‘auditivo’, mais ‘cinestésico’ ou mais ‘visual’), sei que diferentes sentimentos e percepções podem aflorar em mim dependendo da forma como cada verdade me é dita e, claro (!), com que maturidade eu me disponho a interpretá-las!

Quanto às verdades – penso que devemos, antes, ponderar sobre duas questões. A primeira é o quanto estamos, em cada fase do nosso amadurecimento, preparados para ouvi-las – e isso significa que algumas vezes é melhor não desejar obter uma informação com o qual não saberíamos o que fazer. E a segunda é que precisamos aprender a usar as verdades para crescer e nos tornar mais confiáveis ao outro e não para arquitetar acusações deliberadas e inúteis.

Portanto, em vez de distorcer as palavras ou economizar os sentimentos, o que serviria apenas para aumentar o número de relações rasas e inconsistentes e colaborar para aprofundar os buracos internos das pessoas que passam pelas nossas vidas, creio que esteja na hora de aprendermos a usufruir melhor da comunicação.

Note: quando duas pessoas estão em sintonia, desejando a conciliação e interessadas em realmente se entender, geralmente falam baixo, próximas uma da outra; porque, afinal, o objetivo é ficar bem. Entretanto, quando não estão em sintonia, alteram o tom, aumentam o volume e perdem a noção do que estão dizendo. E pior do que isso: o que uma diz é, muito recorrentemente, interpretado equivocadamente pela outra.

Suponho que mais produtivo do que nos escondermos atrás de omissões ou vender uma imagem que não corresponde com a nossa essência, seria apostar mais no acolhimento das diferenças, na percepção dos limites e na coerência entre o que se diz, o que se sente e o que se faz – tanto em relação a nós mesmos quanto em relação ao outro.

Por fim, quando a gente fala com o intuito de resolver e crescer, termina descobrindo que palavras podem ser apenas palavras, especialmente quando não são coerentes com as atitudes e escolhas, sempre carregadas de desejos, sentimentos, intenções e verdades. Por fim, a idéia é que haja uma troca entre dois corações... para que todo o resto possa fazer sentido e valer a pena!

Casal perfeito

"Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe o pó de um cotidiano desencanto.
Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca."
(Lya Luft)



CASAL PERFEITO
Lya Luft

A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. Isso eu disse e escrevi - e repito - em dezenas de palestras por este país afora. Aí me pedem para escrever sobre o casal perfeito: bom para quem gosta de desafios.
O casal perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser humano, sem se sentir isolado do parceiro - ou sem se isolar dele? O casal perfeito seria o que entende, aceita, mas não se conforma, com o desgaste de qualquer convívio e qualquer união?

Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o namoro, o amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou suavizados todos os problemas - a chatice da casa dos pais, as amigas ou amigos casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinha às festas e sexo difícil e sem afeto.
Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do "enfim nunca mais só!", porque aí é que a coisa começa a ferver. Conviver é enfrentar o pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o sempre à espreita, o incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de dois rostos.

Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar. A querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.

O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do desencanto e do cansaço, do tédio. A conta a pagar, a empregada que não veio, o filho doente, a filha complicada, a mãe com Alzheimer, o pai deprimido ou simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor.
E a gente explode e quer matar e morrer, quando cai aquela última gota - pode ser uma trivialíssima gota - e nos damos conta: nada mais é como era no começo.
Nada foi como eu esperava. Não sei se quero continuar assim, mas também não sei o que fazer. Como a gente não desiste fácil, porque afinal somos guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e também porque há os filhos, os compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto, é preciso inventar um jeito de recomeçar, reconstruir.

Na verdade devia-se reconstruir todos os dias. Usar da criatividade numa relação. O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, a maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, não o meio. Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas que ouvi: "Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi de novo como minha mulher".

Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. Ao menos de vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha vida? Quero continuar vivendo assim? Se não quero, o que posso fazer para melhorar? Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais complicado, como realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, de mudar de profissão.

Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria, realização e sobretudo abertura com o outro. Velhos casais solitários ou jovens casais solitários dentro de casa são terrivelmente tristes e terrivelmente comuns. É difícil? É difícil. É duro? É duro. Cada dia, levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, dizia Hélio Pellegrino.
Viver é um heroísmo, viver bem um amor mais ainda. O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do sonho de que, apesar dos pesares, a gente, a cada dia, se escolheria novamente, e amém.

Em vez de “POR QUE?”, experimente perguntar “PRA QUE?”

"Nada acontece por acaso.
Não existe a sorte.
Há um significado por detrás de cada pequeno ato.
Talvez não possa ser visto com clareza imediatamente,
mas sê-lo-á antes que se passe muito tempo."
(Richard Bach).



EM VEZ DE “POR QUE?”, EXPERIMENTE PERGUNTAR “PRA QUE?”
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Em princípio, as duas perguntas parecem muito semelhantes. Porém, se observadas com sensibilidade e sutileza, encontramos entre elas uma diferença essencial: a intenção com que as fazemos!
Perguntamos “por que?” quando estamos vivendo uma fase de conflitos, perdas e frustrações principalmente pelo fato de nos considerarmos injustiçados. Queremos compreender por que a vida ou até mesmo Deus (quanta petulância!) nos colocou numa situação tão dolorosa...
Julgamos, em geral, que existem pessoas bem mais “malvadas” que nós (ou alguém que amamos muito) e, portanto, elas sim mereciam tal “castigo”. Não nós, que tantas boas ações temos praticado! Não nós, que tanto temos pedido por ajuda e proteção...

E assim, perdemos a preciosidade contida dor! Perdemos a oportunidade valiosa de expandir nossa capacidade de viver bem e feliz. Jogamos pela janela a chance sagrada de evoluir e aprender mais uma lição nesta dimensão, que é a mais verdadeira e eficiente universidade que podemos cursar.
Para mudar essa dinâmica, bastaria mudar a pergunta. Ou melhor, bastaria mudar a intenção ao fazê-la. Em vez de insistir na lamentação e se estagnar no papel de vítima, poderíamos aceitar o convite para um novo aprendizado.
Em vez de resistir e repetir indefinidamente “por que comigo?”, “por que justo agora?”, “por que com essa pessoa, que é tão boa?”, “por que de novo?”, experimente perguntar “pra que?”. Ou seja, qual é a lição contida nesta perda, nesta dor, nesta frustração?

Definitivamente, a vida é um imenso quebra-cabeça, com mais de 6,5 bilhões de peças. Somos, cada um de nós, uma dessas peças. Será mesmo possível compreendermos por que algo acontece aqui e agora, justamente com essa e não com aquela pessoa?
Será mesmo possível nos dar o direito e a competência de julgar um evento isolado, sendo que não temos a visão do todo? Sendo que estamos muito longe de conseguir avaliar o quanto esse acontecimento vai interferir no cenário final desta imensa figura desenhada pela espécie humana?

A mim, parece prepotência demais! Então, prefiro me ater ao que posso e ao que me parece que a grande maioria de nós pode: cuidar de si e daquilo que interfere à sua volta. E se considerarmos que a atitude de uma única pessoa pode influenciar outras cinco ao seu redor, talvez comecemos a compreender qual é a matemática, ou melhor, qual é a resposta que vale a pena buscar!

Pra que ter um pouquinho mais de paciência com esse momento difícil? Pra que dar um pouco mais de si na harmonização de um conflito? Pra que ser um pouco mais colaborativo num momento de reajustes e mudanças? Pra que ter um pouco mais de fé numa situação de perdas? Pra que, enfim, ser um pouquinho – só um pouquinho que seja – mais gentil que antes?
E daí, sim, poderemos descobrir, de fato e na prática, que cada dia é uma página de exercícios no grande livro que é a história de cada um... E esta é a sua parte: fazer uma página. Apenas uma. A de hoje, a de agora, pra que fique bem claro que existe uma única resposta a todos os “porquês”: porque tudo é exatamente como tem de ser! Tá tudo certo quando fazemos a nossa parte da melhor forma que podemos!

Um pouco de silêncio

"Apenas no silêncio interno, a alma descobre os segredos de Deus."
(Frederick William Robertson)



UM POUCO DE SILÊNCIO
Lya Luft
in “Pensar é transgredir”

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo - ou em trilhas determinadas - feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém - como se amizade ou amor se "arrumasse" em loja. Com relação a homem pode até ser libertário: enfim só, ninguém pendurado nele controlando, cobrando, chateando. Enfim, livre!
Mulher,não. Se está só, em nossa mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?

No susto que essa idéia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem - ou o que - somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre - em si e no outro - regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:
-Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

Pequenos milagres

"Gosto muito de um pensamento que diz 'Deus escolhe por onde passamos e nós escolhemos como'. Das duas uma: ou você está assumindo o controle consciente sobre as decisões e escolhas que faz em sua vida, ou está deixando que o mundo determine o que você será e onde estará. Ou você é a causa ou é a consequência do seu mundo. É fato: você não pode definir todas as coisas que irão lhe ocorrer, mas sempre poderá escolher como reagir a elas. Nesse instante, você desenha parte de seu destino.
Compromisso de hoje: Quem tem feito minhas escolhas? Se eu próprio, com base em meus valores e convicções, vou me dar os parabéns. Se os outros, vou continuar ouvindo as pessoas, mas, conscientemente, começar a fazer sempre a escolha final. Não mais culparei o mundo." (Paulo Angelim)


PEQUENOS MILAGRES
Fonte(*): Livro "Pequenos Milagres II"
Autores: "Yitta Halberstam & Judith Leventhal"

A vida é uma coisa pequena!, escreveu certa vez Robert Browning. Mas uma coisa pequena pode significar uma vida. Até mesmo duas vidas. Eu me lembro bem disso. Há dois anos, no centro de Denver, meu amigo Scott Reasoner e eu vimos algo minúsculo e insignificante mudar o mundo, mas ninguém mais pareceu perceber.

Era um desses dias lindos em Denver. Claro como água, sem umidade, nenhuma nuvem no céu. Decidimos andar os dez quarteirões até um restaurante ao ar livre em vez de pegar o ônibus circular. Quando nos sentamos do lado de fora, o sol continuava a nos atingir em cheio e ficou cada vez mais quente. Não havia a mais leve brisa e o calor emanava do tampo da mesa. Nada se movia, exceto os garçons, é claro. E eles também não se moviam muito rápido.

Depois do almoço, Scott e eu começamos a andar de volta para o shopping. Ambos percebemos uma mãe e sua filha pequena saindo de uma loja de cartões em direção à rua. Ela segurava a filha pela mão enquanto lia um cartão de congratulações. Imediatamente percebemos que ela estava tão absorta na leitura do cartão, que não viu o ônibus circular vindo em alta velocidade pela rua, na sua direção. Ela e a filha estavam prestes a descer da calçada, quando Scott e eu, desesperados, decidimos gritar, alertando-a. Não havíamos ainda emitido nenhum som quando uma brisa inesperada arrancou o cartão da mão dela, fazendo-o voar por cima de seu ombro. A mãe parou e rodopiou para agarrar o cartão, quase derrubando a filha. Quando se virou para atravessar a rua, o ônibus já havia passado como uma flecha por ela. Ela nunca soube o que quase aconteceu.

Até hoje, duas coisas a respeito deste acontecimento me deixam perplexo. De onde veio aquela lufada de vento que arrancou o cartão das mãos da jovem mãe? Não houvera um único sopro durante o almoço ou nossa caminhada de volta ao shopping.

Em segundo lugar, se tivéssemos conseguido gritar, ela poderia ter olhado para nós enquanto continuava a andar na direção do ônibus. Foi o vento que a fez virar para reaver o cartão - na única direção que salvaria sua vida e a de sua filha. O ônibus que passava não criou o vento. Ao contrário, o vento veio da direção oposta.

Não tenho dúvida de que foi o sopro de Deus protegendo as duas. Mas o impressionante desse milagre é que ela nunca soube. Enquanto andávamos de volta para o trabalho, imaginei a freqüência com que Deus atua em nossas vidas sem que nos demos conta. A diferença entre a vida e a morte pode ser uma coisa pequena.

(*) Este livro é uma coletânea de histórias reais acerca de "coincidências" que tocaram, de alguma forma, a vida das pessoas.

A fórceps

"Quando o homem vem ao mundo, suas mãos estão sempre fechadas como se quisesse dizer:
'O mundo inteiro é meu e conseguirei agarrá-lo'.
Quando o homem parte do mundo, suas mãos estão sempre abertas como se quisesse dizer:
'Não tenho nada em meu poder tudo que posso levar são minhas lembranças, tudo que posso deixar são meus exemplos'."
(Midrach Rabba sobre o Eclesiastes - citado por Paulo Coelho)


A FÓRCEPS
Martha Medeiros

Recebo o e-mail de uma amiga contando que, mesmo não tendo tempo para mais nada, voltou para as aulas de dança, que está fazendo à noite. Diz ela: “Tem coisas que devemos abrir espaço a fórceps, ou corremos o risco de serem extinguidas de nossas vidas”.

Fórceps todos sabem o que é. Um instrumento que, em obstetrícia, serve para extrair o bebê do útero, em caso de pouca dilatação do ventre. Falando assim, parece uma coisa agressiva, mas não é. É um help. Se a natureza não está ajudando, o fórceps vai lá e puxa o bebê pra vida.

Pois é assim que estamos levando os dias: a fórceps. Se existe uma coisa que não se dilata espontaneamente é o tempo, ao contrário, está cada vez mais apertado, então a gente tem que tratar de extrair tudo o que a gente quer da vida na marra mesmo. Forçando um pouco.

E lá vamos nós pra noite, mesmo com medo da própria sombra. Vamos jantar, vamos ao cinema, vamos ao bar, vamos à casa de amigos, vamos cantarolando dentro do carro e com os vidros bem fechados, vamos despistando as neuras e tentando estacionar bem longe das estatísticas estampadas nas páginas policiais.

E a gente promete nunca mais telefonar para quem nos faz sofrer mas acaba telefonando, e ele atende, e implica, e a gente some, e ele chama, e a gente volta, e briga, e ama, e sofre, e ama, e ama, e ama, e desama, e termina, e quando parece que cansamos, que não há mais espaço para um novo amor, outro aparece, outro parto, começa tudo de novo, aquele ata-e-desata, o coração da gente sendo puxado pra fora.

E a gente faz mágica: vive 32 horas por dia, oito dias por semana, 14 meses por ano — e com um salário microscópico. Fazemos a volta ao mundo com meio tanque de gasolina, dormimos seis horas por noite, sonhamos acordados o tempo inteiro. Bebemos um drinque com as amigas e voltamos para casa sóbrias, entramos no quarto das crianças sem acordá-las, um pássaro não seria mais leve. Lemos todos os livros do mundo nos intervalos da novela, paramos dois segundos para olhar o pôr-do-sol pela janela, telefonamos para nossa mãe ao mesmo tempo em que respondemos o e-mail de um cliente, e se alguém sorri para nós, a gente se aproxima, se arrisca e renasce nestas chances de vida. Porque senão é da casa pro trabalho e do trabalho pra casa, deixando o tempo agir sozinho, esperando dilatações espontâneas.
E, como elas não acontecem, permanecemos paralisados na vidinha mesma de sempre, lamentando o fim das nossas aulas de dança.

Expectativas

“Deus mostra o futuro raramente, e por uma única razão: é um futuro que foi escrito para ser mudado. No presente é que está o segredo; Se você prestar atenção no presente, poderá melhorá-lo. E se você melhorar o presente, o que acontecerá depois também será melhor. Esqueça o futuro e viva cada dia da sua vida nos ensinamentos da Lei, e na confiança de que Deus cuida dos seus filhos. Cada dia traz em si a Eternidade.” (Paulo Coelho)


EXPECTATIVAS
Artur da Távula

Cada vez que se formula uma expectativa sobre algo que vai ocorrer, cada um de nós inunda o instante futuro, o acaso, o novo, o adiante, com resíduos de um passado mental, aquele que engendrou a expectativa e pretende aprisionar a realidade dentro dela. E jogar passado no futuro é uma forma de nunca evoluir. Ou de sofrer.

Estamos tão pouco preparados para o novo e para o criativo que justamente as coisas que mais desejamos ou queremos, fazêmo-las vítimas de uma expectativa anterior a elas, mero expediente mental de controlar o futuro com o passado da imaginação. Daí, elas serão ruins ou boas, não em função delas mesmas ou de como estaremos nos momentos em que elas ocorrerão e sim em função da correspondência (ou não) com o esquema mental anterior, construído para aprisionar a realidade dentro de nossos limitados esquemas mentais, desejos e vontades.

Um bem, um valor, um objeto, uma viagem, não se transformam em bons ou maus conforme se apresente a realidade intrínseca deles. Eles ficam bons ou maus para as pessoas segundo correspondam ou não à expectativa delas.

Aprisionar o momento que passa pela expectativa que anteriormente dele construímos, é encharcar de um perigoso e renitente passado, a criatividade de um futuro repleto de acaso e mutação. É predispor-se secretamente para o sofrimento, pois a realidade que é sempre ampliadora em si mesma, diante de nossas expectativas se torna sempre redutora.

A ânsia de não poluir o novo com uma visão anterior a ele, diminui a cota de expectativa que projetamos. E por mais vigilante que seja nesse processo de se fazer limpo, liso e puro para o novo, o ser humano está sempre a ser infiltrado por algumas expectativas teimosas e renitentes, velho vício de inundar de passado, de eco, de resíduo e de repetição, um futuro que é sempre novo em seu mistério e acaso.

Impossível não ter expectativas. E já que é impossível não as ter, possível é limitar o seu efeito sobre nós. Seremos tão mais felizes quanto mais capazes formos de limpar o "adiante" dos ruídos de um passado que nos faz repetir e repetir apenas as experiências que já temos, prisioneiros que somos do "antes", quase nunca hospedeiros do "vir a ser", mensageiros do "depois".

Cardápio da alma

"Quando você olhar à sua volta e achar que o mundo se perde em confusão, que os homens se agridem e se destroem em angústias, olhe para dentro de você; lembre-se que sua vida não está lá fora, não depende do que você ouve, mas do que está na sua consciência. O mundo dos outros não é o seu mundo, a menos que você contribua para a degradação e confusão externas e comuns a muitos setores.
Quando olhar à sua volta e só enxergar problemas, busque sua verdade interior, trabalhe os valores que já construiu e a sua sintonia com Deus. Expresse o melhor de você, pois o mundo é o resultado do que irradiamos e manifestamos, do nosso esforço ou nossa preguiça, nossa nobreza ou nosso desajuste.
Quando a descrença povoar seu coração e você vacilar, sofrer e chorar, é porque sua hora de renascer internamente chegou e pressiona você para não mais adiar sua busca de Deus.
Pare então de olhar só para fora e de se impressionar com a propaganda, com que os outros dizem sobre atualização, libertação ou modismos. Olhe demoradamente sua consciência, sua harmonia interna; indague-se, faça silêncio para que a verdade brote natural. Há um ponto de luz em seu interior que pode desfazer todas as sombras e dúvidas. Busque o fluir da luz.
Que importa se muitos se enquadraram num sistema egoísta e amargo ? Comece você a iluminar, a modificar, a permitir que a paz flua através de você. Deixe que a fonte divina jorre sobre tudo. Comece agora. O esforço próprio é a mola do verdadeiro crescimento humano, é nele que está o germe da vitória.
Não creia nunca no sucesso fácil, na vitória sem luta. Cada um se constrói ou se destrói, se arma, se fortalece e se conquista, ou deixa passar sua hora de crescer e de aperfeiçoar-se. A mente nos oferece mil opções, escolha o esforço correto para as conquistas definitivas.
Ninguém pode fazer por nós o caminho. Trabalho, desinteresse pelo supérfluo e concentração no definitivo eterno são as armas e as portas da libertação. A cada hora você é chamado, é desafiado para se definir, para aprender nova lição, para expandir a consciência da conquista da paz e do amor a Deus e ao próximo."
(Anônimo)


CARDÁPIO DA ALMA
Martha Medeiros

Arroz, feijão, bife, ovo. Isso nós temos no prato, é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar. Nossa meta primeira é a sobrevivência do corpo. Mas como anda a dieta da alma?

Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me revirando por dentro. Uma fome que me deixou melancólica. Me dei conta de que estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma abstinência de viajar que me deixou até meio tonta. Minha geladeira, afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas me senti desnutrida. Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar?

Revista, jornal, internet, isso tudo nos informa, nos situa no mundo, mas não sacia. A informação entra dentro da casa da gente em doses cavalares e nos encontra passivos, a gente apenas seleciona o que nos interessa e despreza o resto, e nem levantamos da cadeira neste processo. Para alimentar a alma, é obrigatório sair de casa. Sair à caça. Perseguir.

Se não há silêncio a sua volta, cace o silêncio onde ele se esconde, pegue uma estradinha de terra batida, visite um sítio, uma cachoeira, ou vá para a beira da praia, o litoral é bonito nesta época, tem uma luz diferente, o mar parece maior, há menos gente.

Cace o afeto, procure quem você gosta de verdade, tire férias de rancores e mágoas, abrace forte, sorria, permita que lhe cacem também.

Cace a liberdade que anda tão rara, liberdade de pensamento, de atitudes, vá ao encontro de tudo que não tem regras, patrulha, horários. Cace o amanhã, o novo, o que ainda não foi contaminado por críticas, modismos, conceitos, vá atrás do que é surpreendente, o que se expande na sua frente, o que lhe provoca prazer de olhar, sentir, sorver. Entre numa galeria de arte. Vá assistir a um filme de um diretor que não conhece. Olhe para sua cidade com olhos de estrangeiro, como se você fosse um turista. Abra portas. E páginas.

Arroz, feijão, bife, ovo. Isso me mantém de pé, mas não acaba com meu cansaço diante de uma vida que, se eu me descuido, torna-se repetitiva, monótona, entediante. Mas nada de descuido. Vou me entupir de calorias na alma. Há fartas sugestões no cardápio. Quero engordar no lugar certo. O ritmo dos dias é tão intenso que às vezes a gente esquece de se alimentar direito.

Desistir não é perder

"Não é a crise que constrói algo em nós -- simplesmente revela de que somos feitos".
(Oswald Chambers)


DESISTIR NÃO É PERDER
James Malinchak
in: Histórias para aquecer o coração dos adolescentes

Uma experiência difícil, o exemplo de um amigo ou uma conversa com alguém que admiramos podem servir de inspiração para mudarmos nossa maneira de encarar a vida. Minha inspiração veio da minha irmã Vicki. Ela era uma pessoa gentil e carinhosa, não ligava para elogios e tudo o que queria era compartilhar seu amor com as pessoas de quem gostava: sua família e seus amigos.

No último verão, antes do meu primeiro ano de faculdade, recebi um telefonema do meu pai dizendo que Vicki tinha sido internada de emergência. Ela tinha passado mal e o lado direito do seu corpo estava paralisado. Os primeiros sintomas indicavam que ela poderia ter sofrido um derrame. No entanto, os resultados dos testes mostraram algo muito mais sério: a paralisia era conseqüência de um tumor maligno no cérebro. Os médicos não davam a Vicki mais de três meses de vida. Fiquei completamente arrasado. Como aquilo podia estar acontecendo? No dia anterior, minha irmã estava bem, não sentia nada, era uma jovem saudável. Agora, estava entre a vida e a morte.

Depois de superar o choque inicial e o sentimento de vazio, decidi que Vicki precisava de esperança e incentivo. Ela precisava de alguém que a fizesse acreditar que poderia superar aquele obstáculo. Resolvi ajudá-la a vencer a doença. Todo dia visualizávamos o tumor encolhendo e só falávamos coisas positivas. Eu até colei um cartaz na porta do seu quarto no hospital com os dizeres: "Se tiver pensamentos negativos, deixe-os do lado de fora." Nós fizemos um trato que se chamava 50-50. Eu lutaria 50% e ela lutaria os outros 50%.

Quando o ano letivo começou, eu não tinha certeza se deveria ir para a faculdade, a quase cinco mil quilômetros de distância, ou ficar com Vicki. Ela ficou brava por eu ter pensado nessa possibilidade e insistiu para eu não me preocupar, porque ela ia ficar bem. Ali estava Vicki, deitada em uma cama de hospital, me dizendo para não me preocupar. Percebi que, se ficasse, poderia passar a mensagem de que ela estava morrendo e eu não queria que ela pensasse assim. Vicki precisava acreditar que poderia vencer a batalha contra o câncer.

Ir embora naquela noite, sentindo que poderia ser a última vez que eu veria minha irmã, foi a coisa mais difícil que já fiz. Na faculdade, nunca parei de lutar meus 50% por ela. Toda noite, antes de dormir, conversava mentalmente com Vicki, esperando que de alguma forma ela me ouvisse. Eu repetia: "Vicki, estou lutando por você e nunca vou desistir. Não deixe de lutar, porque nós vamos vencer isso."

Alguns meses se passaram e ela continuou agüentando firme. Certo dia, uma amiga me perguntou sobre o estado de Vicki. Eu disse que ela estava piorando, mas que não desistia. Minha amiga, mais velha e experiente, fez uma pergunta que me deixou pensativo:
- Você acha que o motivo pelo qual Vicki não desistiu é porque não quer desapontar você?

Será que ela estava certa? Será que eu era egoísta por encorajar Vicki a continuar lutando? Naquela noite, antes de dormir, tentei transmitir uma mensagem diferente para ela: " Vicki, eu entendo que você está sofrendo muito. Se preferir descansar, faça isso. Desistir não é perder. Se você quiser ir para um lugar melhor, eu entendo. Vamos ficar juntos de novo. Eu te amo e vou sempre estar com você."

Na manhã seguinte, minha mãe telefonou bem cedo para avisar que Vicki tinha morrido.

Afastamentos

"A glória da amizade não é a mão estendida,
nem o sorriso carinhoso,
nem mesmo a delicia da companhia.
É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você."(Ralph Waldo Emerson)

AFASTAMENTOS
Maurício Cintrão

Os afastamentos acontecem e fazem parte da vida. As pessoas têm suas coisas, suas vidas. Nos últimos tempos, falta tempo. Falta tempo para muita gente.

Tenho pensado muito nisso. Queria parar e ligar para as pessoas queridas que há muito não vejo. Fico triste porque a rotina de compromissos me afasta do próprio desejo. Esqueço e, quando lembro, já não há tempo.

Quem está afastado, porém, não precisa estar distante. Amigo que é amigo, sempre está presente. Os amigos ficam conosco. Onde quer que estejamos, nos acompanham. É quase uma sina. Ficam pertinho, apesar de estarem a quilômetros, às vezes.

Aprendi há muito tempo que os amigos não são apenas eles e suas roupas, manias, gostos e sorrisos. São tudo isso e o que por eles sentimos. É assim que nos transformamos em amigos. Para tê-los presentes, os amigos não precisam acampar em nossos caminhos. Eles simplesmente ficam. E continuam ficando, queridos, presentes, a despeito da falta de um abraço gostoso.

Neste momento, por exemplo, estou acompanhado enquanto escrevo. Ficamos por aqui, solitários no garimpo dos pensamentos. Estamos eu, o computador e não sei quantas pessoas queridas. Muitas delas, há anos não vejo. Solenes, dividimos o silêncio barulhento da criação. Tomam um cafezinho, zombam de minhas dificuldades, participam de minhas angústias, alegrias e necessidades. Ninguém vê, ninguém de fora sente. Eles estão em mim, na verdade.

Mesmo que não se queira, as pessoas que importam passam a fazer parte da gente. Talvez por isso, seja tão difícil a amizade. O perfume do amigo é permanente, não sai. E o que fizermos de errado ficará, para sempre, com o perfume de nossa gente, de nossos amigos.

No fundo, no fundo, os afastamentos não deveriam incomodar. Por uma ligação qualquer, uma internet intergalática que não usa Windows nem cai no meio do bate-papo, volto a conversar, mesmo sem querer, com as pessoas de quem gosto.

Escrevo agora e sinto os perfumes de muitas amizades. Emprestam palavras, sugerem sentimentos e dão a certeza de que, até nos piores apertos, sozinho eu não fico.

Alguns médicos ainda não sabem, mas o corpo humano é formado por cabeça, tronco, membros e... amigos.

O melhor de todos

"Se você julga as pessoas, não tem tempo de amá-las." (Mark Twain)


O MELHOR DE TODOS
Tradução de SergioBarros
do texto de Nanette Thorsen-Snipes

Meu dia começou a azedar quando vi meu menino de seis anos com um galho cheio de minhas azaléas.
- Posso levar estas flores para a escola? ele pediu.
Com um aceno de mão, eu o mandei para fora. Me virei para que ele não percebesse as lágrimas em meus olhos. Eu adoro aquela azaléa. Eu toquei no galho quebrado como que a dizer-lhe silenciosamente,
- Sinto muito.
Para complicar um pouco mais o meu dia, a máquina de lavar quebrou e quando Jonathan perguntou o que eu faria para o almoço, percebi que estava com a geladeira vazia e não tinha muitas opções.

Dias como este me fazem querer parar e desistir de tudo. Eu apenas queria fugir até as montanhas, me esconder em uma caverna e nunca mais colocar a cara pra fora.
De algum modo eu consegui arrastar a roupa molhada até o tanque. Eu passei a maior parte do dia lavando roupa e pensando em como o amor tinha desaparecido de minha vida. Quando eu terminei de pendurar a última das camisas de meu marido, olhei o relógio: duas e meia. Eu estava atrasada. A aula de Jonathan terminava às 2:15. Fui correndo para a escola.

Ofegante, bati na porta da sala e olhei através do vidro. A professora fez sinal para que eu esperasse. Ela disse algo a Jonathan e entregou para ele e para outras duas crianças, lápis de cera e uma folha de papel.
- O que virá agora? - eu pensei quando, através da porta, ela pediu que eu entrasse na sala.
- Quero lhe falar sobre o Jonathan. - ela disse.
Me preparei para o pior. Nada mais me surpreenderia naquele dia.
- Você sabe das flores trazidas por Jonathan à escola hoje? Ela perguntou.
Eu respondi que sim, lembrando de meu arbusto favorito e tentando esconder a mágoa em meus olhos. Eu olhei de relance para meu filho que estava ocupado colorindo um desenho. Seu cabelo ondulado estava muito comprido e caía em sua testa. Seus olhos azuis brilhavam enquanto admirava sua obra.
- Deixe-me contar sobre o que aconteceu ontem. - A professora continuou - Está vendo aquela menina?

Eu olhei para a menina que ria divertida, apontando um desenho na parede e assenti.
- Bem, ontem estava quase histérica. Seus pais estão atravessando um momento muito difícil, estão se divorciando. Ela disse que não queria mais viver. E disse bem alto, com o rosto escondido entre as mãozinhas, para toda a sala ouvir: "ninguém me ama". Eu fiz tudo o que pude para consolar, mas parecia que nada mais importava.
- Eu achei que você queria me falar sobre Jonathan. Eu interrompi.
- Eu vou. - Ela disse - Hoje seu filho entrou e foi direto até ela. Ele a entregou algumas bonitas flores e sussurrou "eu te amo".
Senti meu coração inchar-se de orgulho com o que meu filho tinha feito. Eu sorri para a professora.
- Obrigada. - eu disse, puxando Jonathan pela mão - Você salvou o meu dia.

Mais tarde, eu arrancava ervas daninhas em torno de meu desequilibrado arbusto de azaléa. Pensando no amor que Jonathan demonstrou pela menina, um verso bíblico me veio à memória: "... estes três permanecem: a fé, a esperança e o amor. Mas o maior de todos é o amor."
Enquanto meu filho tinha colocado o amor na prática, eu tinha apenas sentido raiva.
Eu ouvi o barulho familiar do carro de meu marido entrando na garagem. Eu arranquei um pequeno galho de azaléas e corri até ele. Eu senti a semente do amor que Deus plantou em minha família recomeçar a florescer em mim. Meu marido arregalou os olhos de surpresa quando eu lhe entreguei as flores e disse,
- Eu te amo.

Seja verdadeiro

"Amar é, sobretudo, um jeito de ser, a começar por um sorriso que abraça, passando por um ‘bom dia’ que cuida, e envolvendo cada instante com uma atenção que valida toda a experiência." (Rosana Braga)


SEJA VERDADEIRO
Iyanla Vanzant
in "A vida vai dar certo para mim"

Quando você não se coloca bem no centro da verdade do que sabe, do que sente e de quem é, está negando o seu amor. Colocar-se significa se expressar, compartilhar e respeitar. Ao nos colocarmos, demonstramos apoio, amor-próprio e respeito por nós mesmos. Ao fazer isso, por nós, estamos fazendo o mesmo pelos outros. Com freqüência, negamos nossa verdade, porque não queremos magoar ou irritar as pessoas. Às vezes, simplesmente não nos damos conta do que estamos fazendo. Entretanto, quando escolhemos conscientemente não expressar o que sentimos, não compartilhar o que sabemos, não ser sinceros sobre quem somos, estamos, na verdade, negando o nosso amor.

Na essência de seu ser há o amor. O amor é a sua identidade espiritual. Cada experiência, cada encontro, cada lição aprendida é a forma que a vida tem de treinar você para tornar-se uma expressão maior do amor. O amor é uma força. Muitas vezes é a força que nos acorda para a vida, que nos desperta para a realidade, que elimina o nosso medo ou que nos ajuda a fazer aquilo que achávamos que não éramos capazes de fazer. Talvez você seja a única expressão de amor a cruzar o caminho de alguém num determinado dia. Quando você nega alguma coisa, porque acha que vai magoar a pessoa, pode estar negando exatamente aquilo que poderia salvá-la, ajudá-la ou curá-la.

Até hoje, você pode ter acreditado que as pessoas presentes em sua vida talvez não conseguissem lidar com a verdade que você conhece e sente. Hoje, dedique-se a amar e confiar nas pessoas o bastante para compartilhar com elas a verdade a seu respeito. Expresse o que você sabe e sente de forma amorosa. Compartilhe o que você sabe e sente com amor e cuidado. Seja quem você é, sinceramente, mostrando que você sabe que o amor harmoniza tudo e todos.

Hoje, eu me dedico a dizer a verdade para as pessoas que eu amo, confiando que elas saberão lidar com isso.

O poder da validação

"Os conselhos dados com dureza não produzem efeito; são como os martelos, sempre repelidos pela bigorna." (Helvétius)


O PODER DA VALIDAÇÃO
Stephen Kanitz
www.kanitz.com.br
Artigo publicado na Revista Veja, edição 1705, ano 34, nº 24, 20/06/2001, p.22

Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.
Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.
Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de "validação", embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.
Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.
Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado para mim". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: "Gosto de você pelo que você é". Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma grande mulher" (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o "máximo", que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o "máximo" são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.
Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.
Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um "valeu, cara, valeu".

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Elogio é coisa de vivos

"Nada mais pode substituir bem escolhidas e oportunas palavras de elogio.
Elas são absolutamente grátis, mas valem uma fortuna."
(Sam Walton, fundador do Wal Mart)



ELOGIO É COISA DE VIVOS
Paulo Angelim
http://www.pauloangelim.com.br

Sinceramente, consumir um artigo inteiro para explicar o poder e a importância do elogio é simplesmente desprezar sua inteligência e sensibilidade. Ainda mais considerando que o desprezo é exatamente a antítese do elogio. Longe de mim isso. Pelo contrário, tenho certeza que você não só é inteligente como sensível (gostou de eu ter dito isso sobre você? – eis o poder do elogio, caro leitor). Estou certo que você já foi alvo de um elogio e sabe muito bem o bem que ele te fez. Você se sentiu valorizado, validado, aceito e muitas vezes motivado a seguir em frente. Até porque, segundo Freud, o mais louco de todos os psiquiatras (desculpe, mas isso também é um elogio), “nós temos defesas para todo e qualquer ataque, mas somos indefesos ao elogio”. É isso mesmo, normalmente o elogiado fica envergonhado, enrubescido, no popular, sem jeito.

O elogio, sendo sincero, e oportuno, tende a aumentar o desempenho do colaborador, pois o faz mais crente em seu próprio potencial, dando-lhe liberdade para ir mais longe, ousar mais. Em síntese, o elogio reforça a confiança no colaborador e, por tabela, alimenta positivamente sua auto-estima. Além, disso, e o mais importante, é que o elogio fortalece o elo (ELOgio) e solidifica o relacionamento mútuo entre quem o faz e quem o recebe. E isso é inexorável na construção de times fortes e coesos. Outra coisa: só quem elogia conquista do outro o direito de criticá-lo, de exortá-lo. Se você não consegue enxergar as virtudes de alguém, pela mesma razão não consegue dar validade às suas críticas a ela. Lógico que existe o elogio sarcástico, cheio de ironia, ou ainda o demagógico, falso. Esses são impressionantemente destrutivos. Evite-os. Eles são bumerangues. Voltam para você, e o atingem.

Ora, mas se elogiar é tão bom, tão lucrativo para as relações, para o desempenho e para a empresa, por que se elogia tão pouco? Onde residem as nossas dificuldades de elogiar, de louvar e reconhecer o valor e qualidades de alguém? É aqui que se encerra minha maior preocupação. Abaixo seguem algumas possíveis razões para não se elogiar. Veja se você se encaixa em alguma delas e se corrija, caso não queira ser motivo de críticas corretivas, mas sim, alvo de elogios.

As pessoas não reconhecem nem expressam as qualidades do outro, ou seja, não elogiam...

a) por medo de que isso signifique reconhecê-lo como melhor que elas;
b) por medo que isso fortaleça muito o outro e comprometa sua autoridade sobre ele (no caso, se o outro for um liderado);
c) por orgulho próprio, egoísmo e vaidade, uma vez que acham que são melhores em tudo;
d) por vingança, uma vez que nunca foram elogiadas;
e) por falta de discernimento e humildade em distinguir as qualidades do outro;
f) por serem negligentes ou por ignorarem a necessidade da construção de relacionamentos fortes;
g) por terem visão estreita do mundo, achando que somente elas são capazes de fazer as coisas bem-feitas;
h) por timidez;

Há ainda um aspecto engraçado sobre a etimologia da palavra elogio. Ela vem da expressão latina elogium. Pasmem, mas o significado de elogium é epitáfio, inscrição tumular. Isso mesmo, estou falando daquela lápide que normalmente traz declarações positivas e abonadoras do morto. Isso era chamado um elogium. Talvez esteja aí uma explicação para a dificuldade de se elogiar, uma vez que elogio era coisa que se fazia para morto, e não para vivos. Pois saiba que se você não desenvolver, ainda em vida, a capacidade de elogiar, é provável que o único elogio que receba seja aquele que estará em seu túmulo. E mesmo assim, pode ser falso. Seria cômico, se não fosse trágico.

Compromisso de hoje: Vou elogiar, é tão simples, tão poderoso, porque não fazê-lo.


Eu, você e todos nós

"Em vão buscaremos ao longe a felicidade, se não a cultivamos dentro de nós mesmos." (Jean-Jacques Rousseau)



EU, VOCÊ E TODOS NÓS
Martha Medeiros

Já aconteceu de dois ou três leitores reclamarem dos filmes que comento aqui, principalmente quando são filmes mais alternativos, menos comerciais. “Puxa, mas o que você viu naquela chatice?” Hoje vou falar sobre um deles, então, se você não gosta de nada meio fora do padrão, nem perca seu tempo, aconselho.

Me refiro a “Eu, você e todos nós”, filme de estréia da artista multimídia Miranda July, que tem seus trabalhos expostos no MoMA e no Museu Guggenheim, em Nova York. Agora ela se aventurou no cinema e, a meu ver, não se deu mal. Fez um filme delicado sobre um tema que sempre cai como um chumbo: a solidão.

O filme mostra fragmentos da vida de algumas pessoas aparentemente com nada em comum: uma videomaker (a própria Miranda July), um vendedor de sapatos recém-separado, um senhor que se apaixona pela primeira vez aos 70 anos, duas adolescentes planejando sua primeira experiência sexual, um menino de 6 anos que entra na internet e se envolve numa correspondência picante com uma mulher, uma menininha com um hábito fora de moda: coleciona peças para seu enxoval.

Em comum, apenas a errância. Ir em frente, ir em busca, ir atrás, ir para onde? Somos obrigados a estar em movimento, mas ninguém nos aponta um caminho seguro.

Eu, você e todos nós estamos à procura de algo que ainda não tenhamos experimentado, algo que a gente supõe que exista e que nos fará mais felizes ou menos infelizes. Eu, você e todos nós tentamos salvar nossas vidas diariamente, e qual a melhor maneira para isso? Trabalhar e amar, creio eu, mas não é fácil. Os que não conseguem realizar-se através do trabalho e do amor, tentam salvar-se das maneiras mais estapafúrdias, alguns até colocando-se em risco, numa atitude tão contraditória que chega a comover: autoflagelo, exposição barata, superação de limites, enfim, os meios que estiverem à disposição para que sejam notados.

Eu, você e todos nós somos crianças das mais diversas idades.
Pedimos pelo amor de Deus que o telefone toque e que a partir deste toque um novo capítulo comece a ser escrito na nossa história. Fingimos que somos seres altamente erotizados e, na hora H, amarelamos. Depositamos todas as nossas fichas amorosas em pessoas que não conhecemos senão virtualmente. Disfarçamos nosso abandono com frases ousadas e sem verdade alguma. O que a gente gostaria de dizer, mesmo, é: me dê sua mão.

Eu, você e todos nós queremos intimidade, mas evitamos contatos muito íntimos.
Não queremos nos machucar, mas usamos sapatos que nos machucam. A gente quer e não quer, o tempo todo. Será que durante uma caminhada de uma esquina a outra, em um único quarteirão, é possível acontecer uma paixão, uma descoberta? Quantos metros precisamos percorrer, quantos dias devemos esperar, em que momento da nossa vida irá se realizar o nosso maior sonho, e uma vez realizado, teremos sensibilidade para identificá-lo? O nosso desejo mais secreto quase sempre é secreto até para nós mesmos.

Somos uma imensa turma, somos uma enorme população, somos uma gigantesca família de solitários, eu, você, todos nós.

Viva para o aprendizado

"Quem não sabe suportar contrariedades nunca terá acesso às coisas grandiosas." (Provérbio Chinês)



VIVA PARA O APRENDIZADO
Roberto Shinyashiki

Quando alguém pára e se questiona sobre os motivos de estar enfrentando um problema, infelizmente, a maioria encontra a resposta do modo errado: culpando o outro. A culpa é do chefe, do companheiro, dos pais, do empregado.

O outro nunca é a resposta para os seus problemas. Se você não aprender com a dificuldade, vai repeti-la ao infinito. Vai trocar de emprego, de companheiro, de empregados, mas, quando perceber, trocou as pessoas e o problema continua o mesmo, e se repete.

As dificuldades são oportunidades de aprendizado, e quando perdemos essa lição a dor se torna inútil.

Para todo problema existe solução. Aliás, essa é uma definição: problema é um acontecimento sempre acompanhado de solução. Quando você não tiver uma solução, será necessário definir qual é o problema.

Você descobre que não tem dinheiro para pagar as contas. Está bem, não ter dinheiro é um problema, principalmente se os credores estão lhe cobrando e os juros aumentando. A solução certamente se inicia pelo corte de gastos, continua com uma negociação com os credores e alguma ação para ganhar mais dinheiro. No final, houve aprendizado nessa situação que parecia ter apenas um lado negativo. Você:
• Aprendeu a gastar de acordo com os seus rendimentos.
• Aprendeu a ser humilde para negociar com os credores.
• Aprendeu a ganhar mais.

A solução sempre existe! E, na maior parte das vezes, a pessoa sabe qual é. O difícil é ter a coragem de realizá-la. Nunca perca a oportunidade de aprender com uma dificuldade. Aprender geralmente é destruir uma visão e construir uma nova perspectiva.
E, principalmente, tenha certeza de que o problema será resolvido. Se você tiver alguma dúvida, pense desta maneira: se morresse agora, qual seria a evolução do problema? Percebeu? Ele será resolvido de alguma maneira.

A única coisa que não funciona é jogar no outro a responsabilidade de suas dificuldades. O ódio bloqueia a criatividade e só piora as coisas. As pessoas que alguém chama de inimigos são os melhores mestres que a vida nos oferta por ajudar-nos a aprender as lições de crescimento. Eles nos mantêm acordados para poder evoluir. Depois que você resolve uma dificuldade, agradece a essa pessoa por ensinar-lhe uma lição.

Por isso, Luís Gasparetto já falou? “Perdoar é descobrir que você não tem razão nenhuma para perdoar; é apenas viver o aprendizado. Isso só acontece quando você aproveita a oportunidade para crescer”.
Se carrega ódio de alguém, pense na lição que você tem a aprender e sua vida será muito melhor.

Em obras. Siga pelo desvio!

"- Como posso saber a melhor maneira de agir na vida? perguntou o discípulo ao mestre.
O mestre pediu que construísse uma mesa. O discípulo cravou os pregos com três golpes precisos. Um prego, porém, estava mais difícil, e o discípulo precisou dar mais um golpe. O quarto golpe enterrou o prego fundo demais, e a madeira foi atingida.
- Sua mão estava acostumada com três marteladas, disse o mestre. Você se acostumou com o que fazia e perdeu a habilidade. Quando qualquer ação passa a ser apenas um hábito, deixa de ter sentido e pode terminar causando dano. Cada ação é uma ação, e só existe um segredo: jamais deixe que o hábito comande seus movimentos." (Paulo Coelho)


EM OBRAS. SIGA PELO DESVIO!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br

Já reparou quantas vezes deixamos de tomar certas decisões fundamentais para nossas vidas ou de fazer certas escolhas que poderiam modificar completamente o cenário atual baseando-nos em ‘desculpas’?
Isto é, por medo de olhar para nós mesmos e nos questionar que caminho desejamos seguir, compreendendo que cada caminho tem seus prós e seus contras, preferimos viver acomodados na mediocridade.

Cada hora temos um novo problema, um outro obstáculo. Agora não podemos conversar sobre a relação porque o outro anda muito cansado por conta do trabalho. Será mesmo? Ou será que temos medo do que vamos ouvir ou de não conseguirmos falar tudo o que gostaríamos?
Agora não podemos iniciar uma atividade física porque não temos dinheiro. Estamos investindo na educação dos filhos. Será mesmo? Ou será que não queremos arcar com a disciplina que um novo compromisso exige de nós?
Agora não podemos rever nossas escolhas profissionais e arriscar uma nova área porque falta apenas 10 anos para a aposentadoria. Será mesmo? Ou será que temos receio de optar pelo desconhecido e enfrentar novos desafios?

E assim a vida vai passando... De repente, os filhos cresceram, o amor esfriou e perdeu o brilho, o trabalho já não realiza e a tão esperada aposentadoria serve para nos deixar ainda mais enfadonhos e vazios...
E pra não perder o costume, estes então se tornam os nossos novos problemas. “Estou velho demais pra recomeçar”. “Já passou muito tempo; é melhor deixar as coisas como estão”. “Meus netos vão precisar de mim; preciso estar aqui para cuidar deles”.

Mas e você? Cadê você? Quem é você? O que você realmente quer? O que faz o seu coração bater mais forte? Quais são seus mais íntimos desejos? Você justificou-se a vida toda com ‘desculpas’, mas quais são os verdadeiros fatos?
Muitos de nós tem passado ano após ano ‘em obras’; sempre inventando uma nova reforma, sempre quebrando e consertando os mesmos lugares dentro da gente, numa tentativa insana de acreditar que algo vai mudar. Mas nada muda! Continua sempre igual, porque não tem você, não tem seu coração, não tem sua alma.
E quando você descobre que os problemas não existiam, mas que você passou tanto tempo insistindo em inventá-los, já não sabe como voltar para o seu caminho. Perdeu-se.

Sabe o que há de bom nisso? Enfim você descobriu e agora pode se reencontrar, se reinventar, desbravar um novo caminho. Começar uma nova viagem. Fazer novos planos. Entretanto, há uma condição: que você não fique dando voltas, pegando atalhos, desvios ou retornos só para evitar o desconhecido.
Vá em frente, porque ainda que lhe restasse apenas um dia de vida, mas você percebesse que o que ainda não foi vivido está aí para ser experimentado e sentido, tudo seria novo.

Portanto, saiba que, algumas vezes, o novo é realmente assustador, mas que ter medo é humano. Deixar-se paralisar por causa dele é subestimar a sua coragem e o seu potencial.
Cuidado com as obras que tem feito desnecessariamente em seu caminho. Cuidado com as ‘desculpas’ que tem dado para fugir de si mesmo. Dedique a cada um o tempo que for de cada um, sem negligenciar sua vida em nome daquilo que nunca foi e nunca será um fato. Porque o fato é que você precisa descobrir a que veio... para que quando partir, tenha feito diferença!

Pessoas especiais...

"Trate quem você ama como uma pessoa qualquer e ela vai se transformar em uma pessoa qualquer.
Bem longe de você."
(Frase de Irma Knutz - especialista em relacionamentos)


PESSOAS ESPECIAIS
Aldo Novak
http://www.academianovak.com.br

Não retorne as ligações. Não tenha tempo para a outra pessoa. Provoque ciúmes. Deixe o celular ligado durante o jantar. Repita "não posso". Repita "vou ver". Repita "não sei". Não cuide dela. Não note ela. Prometa ligar, e não ligue. Trate melhor seus colegas do que essa pessoa. Valorize mais seus clientes e negócios do que ela. Pronto, você conseguiu! Um dia você vai procurar essa pessoa e ela se foi. Não deixe que isso aconteça.

Há bilhões de pessoas no mundo, mas apenas algumas delas são essenciais em seu coração. Algumas, tornam o Universo especial para você e dão sentido à sua própria vida. Algumas, serão lembradas até seus últimos dias na Terra. Algumas, são importantes para você apenas por estarem aqui, por existirem.

Você não se importa com a roupa que elas vestem, e elas não se importam com a sua. Você é parte essencial do quebra cabeças da vida delas. Essas pessoas, por seu lado, são parte essencial do quebra-cabeças da sua vida. Você não tem interesse na conta bancária delas, e elas não têm interesse na sua.

Você vê através delas, por isso as rugas não importam. O tempo, não importa. Para elas, você é aquilo que existe em seu interior. São poucas - muito poucas -, essas pessoas especiais.

É dificil explicar como alguém se torna essencial na pintura da sua existência, mas você sabe que o tecido que define sua posição no mundo seria incompleto sem essas pessoas. Você pode pensar nelas agora, porque são aquelas que parecem ter marcado encontro com você antes mesmo do nascimento. Ainda que seja apenas uma impressão, é um sentimento que as destaca do mundo.

Talvez sejam filhos, talvez sejam pais. Talvez um amor. Talvez alguém improvável. Se são pessoas muito especiais, e você quer que continuem a ser especiais, trate-as como pessoas muito especiais. Mantenha sua palavra para com elas. Nas menores promessas, dita e não ditas.

Drible o mundo para estar com elas. Nos dias de sol. Nos dias de chuva. Não minta para elas. São parte de você.
O que disser que vai fazer para elas, faça. Faça sempre. Quem você ama, deve ser tratada como sendo alguém que você ama. Não trate essas poucas pessoas como qualquer um. Como diz Irma Knutz "trate quem você ama como uma pessoa qualquer e ela vai se transformar em uma pessoa qualquer. Bem longe de você."

Não acontecerá do dia para a noite. Mas, assim como uma planta vai secando aos poucos, se não receber luz e água, aquilo que torna aquela pessoa parte essencial de sua vida desaparece, se o tratamento, entre você e ela, for o mesmo dado ao resto do planeta.

Você pode ter muitos amigos, mas não estou falando deles. Você sabe exatamente de quem eu falo. Só você sabe. Trate quem você ama como uma pessoa qualquer e ela vai se transformar em uma pessoa qualquer. Bem longe de você.

Onde foi parar sua alegria?

"Nunca é tarde demais para mudar o rumo de sua vida.
Se não mudamos, não crescemos. Se não crescemos, não estamos realmente vivendo.
O crescimento exige uma perda temporária da segurança". (Daniel C. Luz)

ONDE FOI PARAR SUA ALEGRIA?
Izabel Telles
http://somostodosum.ig.com.br

Meu querido amigo,
Ontem naquele almoço de aniversário em que nos reencontramos não gostei nada do que vi. Olhei você de longe e mais parecia uma planta murcha dependurada num vaso cuja terra estava seca e sem vida. Todos riam e brindavam à aniversariante e só você se mantinha mudo e retorcido sobre a cadeira emanando uma energia de abandono, tristeza, medo e encolhimento.
Não pude deixar de sentir um nó no meu peito. Sim, porque não era esta a imagem que havia guardado de você dos nossos tempos de colégio. Lembro-me de vê-lo cercado pela turma, nos intervalos das aulas segurando seu violão contra o peito e tocando de uma forma vigorosa e firme. Todos ficavam um pouco hipnotizados vendo seus dedos correrem ligeirinho pelas cordas, enquanto apertava seus lábios entre os dentes e fechava um pouco os olhos como se estivesse viajando dentro das notas musicais. Onde anda seu violão?
Quantas vezes fui à sua casa e você ainda não tinha chegado da natação e quando abria a porta eu gostava de ver aqueles ombros largos recebendo alguns pingos de água que teimavam ainda em escorrer dos seus cabelos. A endorfina que seu corpo fabricava durante o exercício vinha refletida no seu sorriso largo. E a gente ia pro seu quarto e conversava até altas horas enquanto você dedilhava seu violão e falava ao telefone com seus amigos e amigas que, como você, estudavam pintura com aquele artista mega-talentoso. Sabe que eu morria de inveja de vocês? Onde estão suas telas? Seus desenhos? E a natação?
E sua bicicleta? Ninguém saltava mais alto e fazia curvas em uma roda como você. Lembra as ruas do Morumbi? Você saia disparado por elas e trocava a bique pelo skate e despencava aquelas lombadas sibilando as rodinhas de aço no asfalto já marcado de tanto que a turma passava por aquele caminho. Onde estão sua bicicleta e seu skate?
Outro dia andando na Rua da Consolação vi um cão como o que você tinha. E, naquele momento, veio à minha mente a imagem da gente brincando com ele no sítio do seu pai. Jogávamos uma pinha e ele saia correndo atrás e punha de volta na nossa mão. E quando a gente queria se jogar nas redes do terraço para dormir, ele vinha com a pinha e ficava raspando a pinha no chão pra acordar a gente e sair brincando de novo. Você falava uns palavrões pra ele e ele latia como se fosse sua mãe brava cada vez que você usava uma linguagem menos requintada. Onde está o cão?

Eu também mudei. Sei que todos mudamos. E não foi pouco. Tivemos que ir pro mundo e batalhar o pão de cada dia. Casamos, parimos filhos e a realidade mudou muito. Já não somos mais inocentes. Já não temos mais a casa dos nossos pais ou avós onde o mundo sempre foi (e sempre será) uma ilha de descanso e aconchego. Estamos sós, nus, encarando o mundo frio que está com o pé na nossa cara.
E agora o que fazer? O que fazer, cara?
Dar risada, levar tudo isso com menos seriedade e rigor, olhar com distância e criar o nosso mundo particular. E esse sim, pode ser mais colorido e mais quentinho.
Olha primeiro para você e ergue este corpo caído e sem vida. Olha pros teus filhos e pense no exemplo que está dando a eles. Se nosso mundo não foi exatamente como planejamos, não vamos estragar o projeto do mundo deles com pessimismo e desalento.
Afasta esta nuvem negra que cobre sua vida e deixa o sol entrar de novo no seu coração. Como diz o poema: toma mais sorvete e menos sopa, salta de pára-quedas, anda na chuva, solta pipa, liga pro seu pai e diz a ele que, apesar das diferenças, ele é seu pai; perdoa tua mãe por ela ter te deixado sozinho no berçário depois de você ter morado dentro dela por quase um ano. E constrói a sua vida do jeito que você acha que ela deve ser. Ensina novos valores pros teus filhos, ama profundamente a tua companheira por ela estar ainda do teu lado, agüentar suas crises de mau humor e raiva e muda o lado do disco da tua música emocional. E quer saber de mais uma coisa? Nada é mais importante do que construir uma família sólida, saudável, feliz. Esta é a grande vingança contra o descontrole que assola o mundo!
Conto com sua força nesta escalada rumo à felicidade.
Juro por Deus que nunca mais quero te ver se for para topar com este cara morto/vivo que senta numa cadeira e só levanta para ir embora. Pense imediatamente em voltar a participar da festa!
Conto com isso. E, claro, também com seu violão, sua arte, sua bicicleta e seu cão.
E você pode contar comigo. Também venho de uma genética suicida, triste e infeliz. Mas jurei desde pequeno que daria a volta por cima e que iria mudar o meu padrão familiar. Por isso às vezes as pessoas me acham meio pateta porque não estou nem aí com os filósofos do apocalipse e vou pra praia ver o pôr-do-sol. E ainda me emociono com a desova das tartarugas ou a dança dos golfinhos. E choro quando vejo uma face de Deus na cara de um clarinetista que toca nalguma orquestra de algum país do mundo que aposta forte na arte como forma de redenção.
Hoje em dia tenho aplicado meu tempo em criar alguns exercícios para fazer com a imaginação. Vou deixar um aqui se você quiser experimentar. Mas, se fizer, faça por, no mínimo, três meses ao acordar e antes de deitar.
E fica bem. Na alegria e na certeza de que a oração também tem poder de trazer luz e paz às nossas vidas. Portanto, acredite ou não, rezar ajuda muito. Crie suas orações e lembre-se do velhíssimo ditado: mente sã em corpo são. Portanto, malha seu corpo até sentir que ele está integrado à sua mente.
E chama seu Grande Espírito para acender o pavio desta vela que é a vida de cada um.


Cara, a gente nasceu para brilhar!

E aqui vai o exercício:

Saindo da nuvem negra

Sente como se fosse trabalhar. Respire como se fosse relaxar e feche os olhos para imaginar. E imagine que você está dentro de uma nuvem negra. E aceite esta imagem como a expressão do seu mau humor, revolta, pessimismo, tristeza e desesperança. Respire uma vez e dê cinco passos à frente e veja esta nuvem mudando de negra para cinza, de cinza para branco e de branco para luz. Então saia deste lugar como quem sai de uma porta e imagine na sua frente o mundo perfeito que sempre sonhou criar. Crie este mundo, entre neste mundo e sabendo que pensamentos se transformam em realidade, acredite que tudo muda, se você quiser.
Sentindo-se renovado, respire e abra os olhos.