Não pode tocar

"– Se ambos concordarem em um nível consciente de que o propósito do relacionamento é criar uma oportunidade, não uma obrigação - uma oportunidade de crescimento; de expressão plena de suas personalidades; de realizar todo o potencial de suas vidas; de deixar de lado todos os pensamentos falsos, ou todas as idéias pequenas, que já tiveram sobre si mesmos e de reconciliação definitiva com Deus através da comunhão de suas almas... se fizerem este voto em vez dos votos que têm feito até agora, o relacionamento começará muito bem, com o pé direito. E é um ótimo começo. Ainda assim não é garantia de sucesso. Se você deseja garantias na vida, então não deseja a vida. Deseja repetir um roteiro que já foi escrito. Por natureza, a vida não pode ter garantias, porque isso iria contra todo seu objetivo
– Está certo. Eu entendi. Então agora o meu relacionamento está nesse 'ótimo começo'. Como faço para mantê-lo assim?
– Saiba e compreenda que haverá desafios e momentos difíceis. Não tente evitá-los. Aceite-os com gratidão. Considere-os grandes dádivas de Deus; oportunidades gloriosas de realizar o seu propósito no relacionamento - e na vida. Nessas ocasiões, tente não ver a sua parceira como o inimigo ou oponente. De fato, tente não ver ninguém - ou nada - como o inimigo ou até mesmo o problema. Aperfeiçoe a técnica de ver todos os problemas como oportunidades de Ser, e decidir, Quem Realmente É!"
(Neale Donald Walsch, livro "Conversando com Deus")



NÃO PODE TOCAR
Martha Medeiros

Entro num museu, paro em frente a um quadro, a uma escultura, a uma cerâmica, e enxergo o aviso: não pode tocar. Não posso, então não toco, tudo bem. Não tocarei pra não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos. Nada de sentir a textura do material, nada de deixar minhas digitais impressas, nada de arranhar a tela com minhas unhas mal lixadas, de desgastar as cores com meus dedos imundos. Então a gente respeita, não chega muito perto, não atravessa a linha amarela, nada de macular a obra com nosso hálito quente e nosso olhar aproximado demais.

Assim é também entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre amigos que procuram se proteger: não se pode tocar em determinados assuntos.

Há questões que arriscam ser maculadas com palavras, que um olhar aproximado demais poderia danificar. Instaura-se sempre um silêncio de museu ao nos aproximarmos de temas perigosos. Tolera-se apenas o som da tevê, de um teclado de computador, de alguém falando ao telefone, ruídos parecidos com silêncio, já que não fazem barulho excessivo, não incomodam o suficiente. Palavras incomodam o suficiente. Vamos falar sobre o que nos aconteceu dez anos atrás. Vamos conversar sobre a morte do seu pai. Vamos tentar entender juntos a razão de você estar bebendo desse jeito. Me diz o que te perturbou na infância. Não, não quero tocar neste assunto.

Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um.

Todas as relações do mundo possuem sua prateleira de cristais. Há sempre um suspense, uma delicadeza ao transitar pela fragilidade do outro. Melhor não falar muito alto, é mais prudente ir devagar e com cuidado. Para não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos.
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